Caos, ordem ou maneira?

Prefiro organizar a bagunça do que estabelecer a ordem, disse a si mesmo o chefe ao sentar na cadeira no primeiro dia, não sou um positivista e muito menos um ditador, prefiro ouvir as pessoas, conhece-las para saber o que posso esperar delas. Nessa intenção reuniu todo mundo no pátio, disse para todos o dito para si mesmo. Viu rostos se iluminarem, feliz voltou à sua mesa para assinar papéis. Em uma primeira vez na vida os funcionários ouviam estar a porta do gabinete sempre aberta.

Os funcionários eram de nível superior, médio e primário, o primeiro que entrou foi o dentista. Não falou nada demais, é um assunto aprazível ouvir alguém falar sobre mulher, fez menção de convidar o chefe para uma festinha legal. Riram. Momento de descontração.

Demorou um pouco para as coisas virem à tona. O enfermeiro veio com as mesmas conversas, o chefe não quis tratá-lo da forma com que cada um estivesse em seu lugar nessa escala hierárquica tão cheia de subjetividades. Percebeu tanto o dentista como o enfermeiro terem lhe oferecido mulher, mas achou ser paranoia sua ou mal-entendido, homem até se envolveria em uma aventura com amigos, não era um farrista nem um pudico.

Veio a tona, porém, a mulher objeto do oferecimento: a enfermeira casada. Saía com todos. Era uma mulher casada, não era um amante com quem se envolvera em ambiente de trabalho. Não mesa em que se trabalha não se come ninguém, muito menos se dá banquete. O grupo confundira o interesse humano do chefe com uma liberação para fazer qualquer coisa, desde que ele estivesse dentro também. Conversou sobre a decisão com a vice-diretora cujo conselho foi para não ser machista por ser uma mulher o xis do problema. Transferiu-a para uma outra unidade distante no dia seguinte. Por opção, a enfermeira tornara-se a parte menor a ser extirpada. Serviu de exemplo, mau exemplo. O chefe não teve mais problemas dessa natureza.


 
Fabio Daflon
Enviado por Fabio Daflon em 04/12/2016
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