A TABERNA

Numa dessas viagens astrais que faço normalmente, vi uma taberna e entrei. Era das antigas. Mais ou menos igual aos nossos botequins. Havia dois senhores conversando acaloradamente. Eram barbudos e suas roupas eram extravagantes. Um deles tinha sotaque bem português, de Portugal. Curioso como sempre, me aproximei e os identifiquei, eram Cabral e Tiradentes. O tema da conversa era a situação lá em baixo na terra do pau brasil. Os dois eram navegadores, um nas ideias e outro nos mares do mundo. Cabral não entendia a obsessão do companheiro de prosa. Perguntava aos berros o porquê da separação, pois a situação era tão confortável para os brasileiros. Tiradentes falava em república e independência, algo que não entrava na cachola de Cabral. O navegador dos mares confidenciou que foi tudo acertado com o rei D. Manoel, pois Colombo já tinha estado pela área e sabia como chegar. O que Portugal fez foi espionar como seria possível e fez igual, (mas diferente). Veio mais pra baixo, pois o rei queria expandir os seus domínios. O que fiz foi cumprir a ordem do achamento. Não sabia que iria dar tanta dor de cabeça.

Tiradentes estava descontente com o rumo que o Brasil tinha tomado diante de tanta exploração e crueldade com os nativos. Queria um país livre. Cabral não se continha: - Livre do quê? E para quê república? Como alguém pode imaginar não ter um rei para amar e respeitar. Ora, pois, tu vives no mundo da Lua, foi por isso que te enforcaram. É uma doença!

Pedi licença para entrar na conversa. Foi um susto danado. Olharam-me como se eu fosse de outro mundo.

- Eu vim lá de baixo, estou fazendo um passeio astral e não pude deixar de ouvir a conversa dos dois. Quero dar a minha opinião, se os senhores permitirem?

- Pois não estranho. Quantos anos o senhor tem?

- Tenho mais de sessenta.

- E ainda não morreu. Como é possível viver tanto assim.

- Lá embaixo as coisas mudaram um pouco. A propósito achei interessante o papo de vocês. Eu sou o resultado dos feitos de vocês. Temos um país, é uma república livre já há muito tempo.

- Como vocês vivem sem um rei? E a Santa Igreja?

- Vamos levando a vida. Elegemos um governante a cada quatro anos. A Igreja já não é como antes.

- Tu és índio?

- Não, já nem temos mais tanto índio, são poucos, vocês mataram todos.

Tiradentes gritou:

- Eu fora! Foram eles. (Apontando para Cabral)

Continuei:

- Somos uma grande nação agora, senhor Cabral, ficamos maiores que vocês lá na Europa. E vocês ainda continuam arrogantes. Fizemos muitas piadas de vocês hoje em dia. Sabes disso?

- Veja bem, meu caro viajante brasileiro, o que ouço aqui em cima é que vocês são a piada do momento. O que se fala aqui é que vocês escolhem sempre os mesmos ladrões para governar. A gente acha que vocês são uns doentes. Toda a vez que vão eleger alguém, só fazem cagada. Há pouco veio uma mulher aqui gritando: - Enfie as panelas no c...! Fomos ver era uma brasileira. E não parava de gritar: - Te entrega logo Luiz! Pensamos que era a mulher de Luís de Camões, nosso patrício. Era mulher de outro Luiz, lá de baixo da terra do pau brasil. Vocês estão loucos. Estamos muito preocupados. A Dercy já tinha nos alertado que vocês, além de burros são desbocados. Ontem mesmo chegou um cantor. Era brasileiro: - Eu sou apenas um rapaz, latino americano, sem dinheiro no bolso e sem parentes importantes... Pelo menos este é mais educado.

Sergio Clos