NÃO ESPERE A TEMPESTADE!

E ele ali depositado naquela quase cama eterna poderia, quem sabe, escutar palavras, palavrinhas ou palavrões a seu respeito? Muito provavelmente se surpreenderia com tantos pensamentos sobre sua consideração. Situações, descrições, soluções e problemas que, em momento algum, passaram por sua cabeça. Então poderia se dilatar uma imensa vontade de se interagir, de falar, de argumentar ou até mesmo de poder agradecer, mas ao que parece, ele já não está mais cativo em um corpo físico. A matéria não mais responde a seus comandos e não mais pode ser governada por suas sinapses neurais. O que se depreende é que o sopro da experiência corporal já se fora. O último expirar já aconteceu e jaz sem volta. A sua voz não pode ser mais ouvida. Ele não mais tem o tato ou a audição como um dos seus sentidos, pois ninguém mais pode lhe sentir caloroso. É uma ocasião de extrema quietude, pois não há mais o que fazer. Somente prevalece uma percepção sobrenatural, pois a essência física já fora ceifada e se inicia agora uma nova dimensão para todos que ali se encontram, pois deverão agora seguir assim sem a compleição daquele que está no leito mortal de flores. Um dos mais célebres escritores e intelectuais do Império Romano, Sêneca, nos instrui, deste modo: “apressa-te a viver bem e pensa que cada dia é, por si só, uma vida.”

Há de se considerar que seria cômico se não fosse um cálice de impotência que reflete o não poder novamente agir, pois a matéria física já se perdera no tempo e o que sobrou foi a lembrança e a possibilidade de uma viçosa e completa dimensão espiritual. Acreditamos que o ser em si até pode ouvir a tudo e a todos e perceber cada um em seu sentimento, em seu pensamento em suas ideias e opiniões, todavia ele não poderá mais se promulgar e nem ser ouvido, pois o mundo físico fora encerrado e a atividade incorpórea está em seu princípio. Além disso, até poucos momentos dali havia uma contínua evolução do desenvolvimento físico que influía a todo instante na edificação mental, mas que por um acaso inédito, tornou breve a vida física de alguém. E compreende-se mais do que nunca o que ele representou para aqueles que estavam presentes, acompanhando os últimos instantes de sua presença corpórea. Então absorvemos que durante toda a sua trajetória ele foi mais do que realmente pensou, era muito melhor do que podia se ver, era exemplo não somente para o seus, mas igualmente o era para muitos amigos e outros distantes. Não foi à toa que Chico Xavier, nos orientou para que “saibamos viver como quem sabe que vai morrer um dia, e que morramos como quem soube viver direito”.

Outrossim é que alguns de nós por vezes gostaríamos de provar da onipresença na vida das pessoas. Alguns até se voluntariariam em serem invisíveis por instantes para saberem o que os outros realmente pensam. De tal maneira, temos que nos contentar com o pouco que convivemos e inferirmos se somos bem quistos ou não. De outro modo também não nos parece razoável viver tentando agradar a todos. Somos humanos com grandes qualidades, com erros, defeitos e com opiniões que em muitas fases da vida se divergem dos que consideramos, mas que expressam uma forma de ser individual de cada pessoa. Tudo é construído de acordo com as experiências de sucesso ou de frustrações que vamos desenhando diariamente. Muito é aprendido, muito é ensinado. Em diferentes situações aprendemos com as experiências dos outros e então também assim podemos buscar viver melhor. Igualmente, Augusto Cury, escritor e psiquiatra brasileiro, assevera que “uma pessoa inteligente aprende com os seus erros, uma pessoa sábia aprende com os erros dos outros.”

Vale viver, com confiança, uma vida ponderada e intensa; importa ser assim aquilo que somos, convém expor o que pensamos, afinal também estamos nesse universo para contribuir com ele, pois ao que vislumbramos temos que sempre o fazer da melhor maneira que podemos. De fato não podemos esperar a enfermidade ou a idade avançada para externar a quem amamos o quanto ele ou ela é importante para nós. Estamos nessa transcendência plantando e colhendo a toda hora. Temos muito, temos às vezes fartura de alegrias, fartura de amores, fartura de amizades, contudo por termos tanto não sabemos como desfrutar de tudo isso e nos lambuzamos descoordenados. Muito de tudo isso sobrevém por nós e estamos alheios, pois não conseguimos amar, não cultuamos nos doar, não soubemos querer o melhor para o outro. E sem saber que quando nesse compartilhamento, nos sentiríamos muito melhor e alcançaríamos estágios de sabedoria que nos tornariam mais atenciosos e mais tranquilos perante as tempestades que advém nesse transcorrer. Saibamos dizer e demonstrar o quanto cada pessoa é realmente importante quando for oportuno. Não é possível prever se amanhã nos encontraremos novamente ou se haverá um novo tempo para podermos nos olhar profundamente para expressar tudo o que alguém representa em nossa vida.

(*)1º Tenente PM - Assessor de Comunicação/10º BPM.

Michael Stephan
Enviado por Michael Stephan em 21/05/2017
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