C i c a t r i z e s

Concordo que o ideal seria a gente ser um tipo certinho, disciplinado, excessivamente cuidadoso, econômico e jamais arriscar e nem ousar nada, levar a vida até o fim se preservando das tentações, malfeitos, farrpadas;

Mas..., será que vestindo essa camisa de força, distanciando-se de tudo e de todos, habitando esse condônio fechado do tédio, a pessoa conseguiria viver de verdade? Não estaria renunciando à felicidade?

Vejam bem, os religiosos que vivem trancados em conventos, mosteiros e quaisquer centros da religião, seja ela qual for, apenas rezando e fazendo exercícios de meditação, na verdade não pecam, tuo bem, é um fato. Mas como poderiam pecar se não se expõem às tentações? Fechados estão seguros, aí... é muito fácil não pecar, ser quase santo. Mas uma pergunta não pode calar: quem tem mais mérito. quem se expõe aos perigos, às chuvas, relâmpagos e trvões das tentações ou quem está trancado e seguro? É claro que quem se expõe e, na medida do possível, se mantém íntegro.

Sei não, mas mesmo as nossas cicatrizes do corpo e da alma, as que foram mais doloridas, são, para mim, uma espécie de bens (tangíveis e intangíveis) preciosos, são parte da minha história, e sempre acaricio essas cicatrizes. E, confesso, me orgulho de todas elas porque se foram resultado de pecados eu pelo menos me expus, ousei, vivi. Vivi e nunca derrubei o próximo e nem cometi indignidades, embora tenha alguns pecados cabeludos. São minhas queridas cicatrizes. Fazem parte do acanhado show da minha vida. Inté.

Dartagnan Ferraz
Enviado por Dartagnan Ferraz em 23/05/2017
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