TEMPO...PELOS QUAIS EU VIVI...!?

TEMPO...PELOS QUAIS EU VIVI...!?

Houve inúmeros momentos de nossas vidas, logo após a infância, em que só desejavamos ser os senhores do tempo.E assim, à medida em que as penugens pubianas começam a surgir e as mãos se tornam cada vez mais conhecidas e pesadas, sonhamos poder ficar mais velhos, para enfim desfrutar dos pecados carnais, ou melhor, dos prazeres da carne. E nessa busca frenética, mas proibida, dormimos todos os dias sonhando em acordar, e ver-se, pescoço abaixo com no mínimo 18 anos de idade, com aquela floresta pubiana espessa e grossa, imaginando, agora, que já somos homens formados e donos de nosso destino. A analogia com os pelos pubianos faz-se porque, nesses tempos, era comum a competição entre os garotos, medir o tão quanto era mais homem que o outro pelo grau de desenvolvimento símio. Era uma coisa, bem assim, homens da caverna. A descoberta sexual era um tabu escondido em um baú com sete-chaves, por isso, as pequenas promiscuidades, aprendidas nas ruas, eram mais fáceis já que vivíamos em um contexto social machista e religioso. Acredito que as meninas, que de fato, tornavam-se mais maduras, antes dos meninos, eram o tanto ou quanto curiosas, e em suas cabecinhas giravam ideais e medos, pois sofriam, além do machismo, os pesados conceitos religiosos, arcaicos e pecaminosos a respeito do sexo, o fruto proibido. Sendo assim, imagino também, ainda com mais intensidade, que elas queriam ser senhoras do tempo e acordar mais velhas. E ao acordar, não olhariam para suas partes, mas sim, desejariam estar com um rebento, em seu colo, sem ao menos pensar em como teriam feito para que a criança estivesse em suas mãos. Bem diferente dos homens, que mais estariam sintonizados em fazer um filho, para realizar o sonho das meninas, torná-las mães, mas sem o intuito de serem pais. Com certeza não eram só os fatores sexuais que alimentavam o desejo de se tornar adulto da noite para o dia. Existiam todas as motivações advindas do proibido, ou seja, não poder entrar em festas, não beber álcool e muito menos assistir a um filme pornográfico. No entanto, havia uma questão maior: a de não receber mais ordens! Embora, fossem de orientações e preocupações paternas, entendíamo-nas como castração da liberdade. Contudo, não havendo a possibilidade de adiantar o relógio, seguíamos entre sonhos e medos, a vida, como permitia-se seguir. De repente, acordamos e nos damos conta de que o corpo mudou realmente. Olhamos para baixo em nosso corpo e percebemos aquele belo monte de pelo...o qual não serviria para nada. Percebemos ainda, que as meninas continuavam querendo ser mães, mas que apenas desejavam que as cegonhas trouxessem as crianças. Em umas dessas e outras peripécias adolescentes, conseguimos com muitos esforços e labutas, hoje, nem tanto, a desfrutar das mais belas sensações do amor e, por descuidos ou não, realizamos o sonho maternal. Quando isso acontece, o peso das responsabilidades, já contidas à medida que a idade avança, não sonhadas na adolescência, aumentam de maneira exponencial. O senhor do tempo agora, deseja, novamente, ou voltar um tempinho antes do gozo ou acordar anos frente com tudo resolvido. A coisa não acontece assim tão simples e o sonho de adolescência começa a ser um pesadelo presente. Felizmente, quando privilegiados, não caímos nos inúmeros casos de desvios comportamentais, onde muitos jovens perdem o desejo de sonhar e viajar no tempo, não sendo dono do próprio presente, quem dirá do futuro; e seguimos lutando, sonhando, iludindo-se e vivendo. A vida não passou da noite para o dia. Infelizmente, não estamos a frente, e não fomos senhores do tempo, e acordamos com tudo resolvido e bem encaminhado. Todavia, além pelo dom da vida, não somos felizes todos os dias em que vivemos, pois deparamos por vários momentos não bons, alguns muito ruins e outros tantos de extrema felicidade. Sim! A felicidade é momentânea. E assim sendo devemos viver intensamente este momento. Quando estamos felizes por qualquer motivo que seja, perdemo-la, logo em frente, seja por uma rasteira da vida, ou por si próprio, quando aquilo já não o faz feliz. Assim, queríamos novamente ser senhores do tempo, só que agora, buscando momentos de felicidade duradoura, ou ao menos apagando os importunos. Enfim, impotentes diante das intempéries, tocamos a música, conforme as notas e sua melodia, tentando não desafinar o canto da vida. E nessa sinfonia devemos encontrar o nosso tom, e não havendo condições de atingir as mais altas notas, devemos encontrar a nossa afinação, aquela que nos é cabível para enfrentar os desafios da vida com harmonia na alma.E nesta toada seguimos e nos vemos já envelhecidos, cheio de pelos pubianos, porém brancos e enfraquecidos com o tempo. Se eles não serviam para nada, muito menos agora. Aquilo que na infância era sinal de força, hoje é sinal de fraqueza. De todos os senhores do tempo que desejamos ter sido, em nenhum deles sonhávamos acordar velhos, com sabedoria, experiência e principalmente: ter vivido! Se sonhássemos isso, saberíamos que teríamos vivido e se vivemos isso, é porque passamos pela vida. Mas, ainda queremos ser senhores do tempo. Não de sonhar com o amanhã, já que agora temos mais passado do que futuro. Embora, aceitemos o nosso presente, desejamos, em momentos de reflexão, dormir um dia e acordar, olhar abaixo do seu corpo e ver novamente aquelas penugens pubianas, mesmo que isso signifique fragilidade.
DuMoraes
Enviado por DuMoraes em 26/06/2017
Reeditado em 26/06/2017
Código do texto: T6038071
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