REFLEXÕES ACERCA DA ADOLESCÊNCIA
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Águida  Hettwer

 
     As últimas décadas tem sido palco de inúmeras transformações políticas, econômicas, culturais, religiosas e histórico-sociais, sendo, portanto, a configuração da família e, o desempenho dos papeis parentais modificados consideravelmente. Frente a esta realidade, o que se vislumbra no âmbito educacional escolar e, nos consultórios de psicologia são as dificuldades encontradas na estrutura familiar e na forma como os pais receberam educação, muito diferente do que se processa na atualidade e as adversidades de aceitação das mesmas.
 
      A família compreende a um grupo social, que exerce influência sobre a vida dos sujeitos, sendo assim, uma organização complexa, singular e de constante interação. E é no grupo familiar que se configura o importante papel da constituição e desenvolvimento da criança, sendo influência no comportamento, no humor, nas emoções e forma de agir e interagir no mundo. Pode-se afirmar que a família enquanto instituição é responsável pelo processo de socialização primária da criança, primeiramente com os pais, irmãos, e, posterior a interação parental com avós, avôs, tios e primos.
 
    O papel primordial que a família exerce sobre o sujeito estão para além das funções biológicas(sobrevivência), e sim, psicológicas e sociais. Os adultos oferecem seus modelos, crenças, bagagem de vida, regras e normas para os mais jovens e estes recebem como modelos a serem introjetados e, repassados às gerações que se sucedem.
 
    Neste processo de desenvolvimento requer atenção a adolescência, o início e a duração deste período evolutivo está atrelado com a sociedade, cultura, épocas e apresenta características específicas, em outras palavras, depende do ambiente que está inserido. Entretanto, também está relacionado a transformações biológicas inevitáveis, mudanças físicas, componentes psicológicos e sociais, onde o menino e a menina atingiram certo grau de independência em relação aos pais.
 
    Neste último, - certo grau de independência dos pais, tem gerado conflitivas em muitas famílias, o adolescente passa por momentos de muita ambiguidade: afetos e desafetos, desequilíbrios e equilíbrios, instabilidade extremas, insegurança, angustia, sente-se injustiçado e mal compreendido em suas colocações. Desejo eminente de autoafirmação, constituição de uma identidade, agora, diferente de seus pais, e que lhe parece que “tudo” está completamente errado e fora de lugar.
 Passa por um processo de “lutos temporários” - a perda do corpo infantil e ganho de um corpo em transformação que ainda assim, não lhe parece ideal. Contudo, a experiência da adolescência não é um processo uniforme, igual para todos os sujeitos, são questões internas e externas que estão intimamente imbricadas.
 
    Neste processo como todos os outros do ciclo vital é importante a manutenção do diálogo e nessa etapa assume um papel primordial, para que o adolescente não se isole ainda mais em seu “mundo de transformações” e dúvidas, mas, possa encontrar no seio e colo familiar um lugar de acolhimento, compreensão, respeito as diferenças de opiniões, e não o toma como um nécio e/ou o coloque em uma posição inferior primária e o reduza ao estágio de infantil.
 
     O angustia do adolescente é para além das suas transformações físicas biológicas, é ter que lidar com padrões físicos idealizados pela sociedade, dos quais não o compete ter. Bem como, a despersonalização de sua imagem frente ao espelho social que conduz uma sociedade narcisista, competitiva, rude, que desconsidera a subjetividade em prol do consumo de marcas famosas. O adolescente para ser “aceito” em seu grupo de amigos, muitas vezes perde a sua identidade natural de ser, para viver a “marca famosa” do outro que não o reconhece como ser humano, psicossocial.
 
        Frente a tantos “lutos” – a adolescência clama por ela mesma. Um momento precioso e sublime parte essencial do ciclo vital que muitos adultos, querem retomar, tentando viver a vida de seus filhos adolescentes. Não ultrapassar ciclos, faz nos viver o momento presente de forma mais sadia, humana, apreciativa e singular.