EU NÃO GRITO, TU NÃO GRITAS, ELAS (E ELE) GRITAM...

Versão de que em toda cidade brasileira, pelo menos até pico além da primeira metade dos anos 50, haveria uma rua mais larga, portanto a principal, com o nome pomposo de Avenida Presidente Vargas.

Estorinha engraçada. Rio de Janeiro, perto do centro da cidade, região chamada Praça da Bandeira (explica-se: local do primeiro hasteamento da bandeira, em 19 de novembro de 1889 - na verdade, bairro do Engenho Velho, como aparecia em MACHADO DE ASSIS e oficialmente em documentos de cartório.

Início dos anos 40. Imagine-se o escândalo e as risadinhas disfarçadas - uma delas (quem? o que aconteceu? quando? onde?) saiu apenas vestindo apenas paradisíaca folha de parreira, invisível. (Ou seria de figo, um dos símbolos do amor? ou de rendada e de magrela samambaia, recente obra prima para água de colônia?)

Foi assim. Cada mulher na sua respectiva casa. Uma, a senhora do 72, levantou a tampa do vaso sanitário e viu... lagartixona? crocodilo? iguana? teju? lagarto? jacaré? (Palpite para jogo?) O exótico visitante não possuía carteira de identidade ou título de eleitor... Gritou. Bicho recolhe-se, fugiu. Segunda idem. Gritou. Terceira idem. Gritou. Três é o limite. Quarta mulher, em choque, saiu muda para a rua. Vizinha de alma piedosa conteve o riso e a cobriu com uma toalha de mesa que ainda deixou umas partes de fora (futuramente assim como atrizes desnudas logo após mergulho no lago ou cena de sexo na telenovela). Consta que a primeira ainda chamou o sobrinho que nada pôde testemunhar pois o bicho desaparecera. Aí é que ouviram os outros gritos das casas ao lado.

Ainda não se falava popularmente em histeria coletiva (FREUD) ou hipnose coletiva (MANDRAKE), possibilidade nenhuma que, logo amanhecer, as mulheres tivessem conspirado uma brincadeira. Comum a todas, só o matinalíssimo padeiro ambulante, sem o cinismo de “recadeiro” conspirador. Pouco depois, no mesmo dia, o morador judeu-alemão gritou algo no idioma dele e veio para a rua também... Nu? Não me disseram. Aí a coisa mudou de figura. “Herr” estava mais preocupado com a guerra na Europa... Alguém observou que acontecera apenas numa partes da rua, casas lado a lado. O boato foi longe e atingiu as obras próximas dali. Veio um engenheiro, conversou seriamente com as mulheres e o homem, pensou, prometeu vir no outro dia com a resposta. Veio. Explicou sistema estrutural antigo de vasos comunicantes - não comunicou grande coisa, mas deu para entenderem a existência de um cano comum a todas as casas de numeração par, o “aligator’ deveria ter sido o mesmo, habitante de um lodaçal próximo, a obra gigantesca - muitas escavações - mexeu com seu habitat natural; ele não surgira da pré história nem era um mini dragão de contos de fadas. A grandiosa obra - iniciada em 19 de abril de 1941 com um pequeno golpe de picareta /pesquisem sobre o aniversariante do dia, forte, audacioso e destemido Ariano!/ prosseguiu com muitas demolições, num tempo recorde de três anos (e com muitos bombardeios, a guerra mundial também, num tempo doloroso que parecia interminável); de Avenida 10 de Novembro, data do golpe que instituiu o Estado Novo ou Avenida da Vitória (dava no mesmo...), em novembro do ano seguinte, o nome da avenida foi anunciado.

Com toda a pompa e circunstância, a abertura definitiva ocorreu no dia 7 de setembro de 1944, depois de uma parada miltar que durou duas horas, o presidente GETÚLIO assinou a ata e inaugurou oficialmente a avenida.

F I M

Rubemar Alves
Enviado por Rubemar Alves em 12/08/2017
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