Dia dos Pais

A esposa chega para ele e dispara:

- Bem, o dia dos pais está chegando e quero saber o que você quer ganhar. Todo ano compro os presentes, e quando os meninos lhe entregam você parece que não gosta. Esse ano diga logo o que você quer.

Após trinta anos de casado, é de admirar, mas faz parte do relacionamento, tentar entender o parceiro e não esquentar a cabeça.

- Quer mesmo saber? Ele responde. Não vai ficar chateada com o que vou responder?

Ela diz que pode falar, pois tá mesmo é querendo evitar algo desnecessário.

Ele reluta um pouco, mas como ela insiste, ele fala:

- Esse ano o que eu quero mesmo é um dia de folga, um dia só prá mim, sem ter que me preocupar com nada para você e os meninos.

- Não quero levantar cedo para fazer café para ninguém. Não quero me preocupar com o almoço e jantar. Não quero deixar ninguém em nenhum lugar, e nem buscar. Quero deixar o telefone fixo e o celular desligado o dia todo e ficar em casa tranquilo, sem a presença de ninguém.

Um instante de silêncio. Pela cara ela não gostou. Por dentro ele pensa: “Pronto! Prá que fui falar? Lá vem bomba”.

Ela dispara.

- Ah! Não sabia que estávamos atrapalhando. Se não gosta mais de nós é melhor dizer logo, e não ficar inventando esses joguinhos.

É da natureza da mulher reclamar com o marido, com os filhos, com a empregada doméstica, com o jardineiro, ou seja, com os que lhe rodeiam. Umas mais outras menos, mas a fôrma é a mesma.

Ele aguarda um instante e diz:

- Não é nada disso. Você me mandou fazer o pedido, e estou lhe dizendo o que quero, e perguntei antes se você não se chatearia com o que eu diria.

- É, mas não esperava nunca que ouviria isso da sua boca. Dizer que não quer ficar conosco no dia dos pais. Vai fazer o que? Sair por aí para vadiar?

- Não ponha palavras na minha boca! Eu não disse que não queria ficar com vocês. E isso de sair para vadiar é invenção da sua parte para me atacar. Só falei que quero um dia só para mim, sem ter que fazer nada para vocês. Afinal não querem me dar um presente de dia dos pais? E você nem me deixou terminar.

- E ainda tem mais? Vai querer o que? Um bolo cheio de raparigas?

- Ai, ai, ai. Assim fica difícil conversar. Vamos deixar tudo como estava e esquecer o que falei.

- Ah, não! Agora continue. Diga logo as próximas sandices. Desembucha!

- Tá bom! Eu só quero que vocês saiam de casa e vão se divertir, ok? Façam o que tem vontade, o que gostam de fazer. Vão à praia, academia, cinema, casa de parentes, almoçar fora, ou o que lhes der na telha de fazer. É só combinar com os meninos.

- Tá querendo remendar é?

- Me deixe terminar. Eu quero ficar aqui em casa, tranquilo. Poder ler os meus livros, assistir ao futebol, filmes ou o que me der vontade. Deixar os telefones desligados. Só ir ao computador se me der vontade. Ou seja, ficar largado em casa o dia todo. Pode levar os carros, as chaves da casa, se quiser ter certeza que vou ficar aqui mesmo.

- Isso tá cheirando mal.

- Ainda não terminei. À noite você volta para casa com uma comidinha que eu gosto, pode escolher, mas que eu goste, não pode ser o que você ou os meninos gostam, afinal o pedido é meu. Vamos jantar todos juntos, eu disse todos, se certifique que ninguém marque outro compromisso. Depois vemos um filme juntos e encerramos o domingo com uma sobremesa. Como não sou fã de sobremesa, escolham a que vocês quiserem, ok?

Ela pensou. Olhou para ele com aquela cara de desconfiança que as mulheres sabem fazer quando querem nos fuzilam com o olhar. E disse que iria pensar.

Mas ora bolas, não foi ela que exigiu que fizesse o pedido? E o que tinha de mais nele? Não dá para entender.

Ela foi ao banheiro e voltou em seguida com a resposta.

- Tudo bem! Vou concordar! Mas quero a senha das câmeras internas da casa para eu ficar acompanhando seus passos.

Ele disse que há meses haviam desligado as câmeras, desde o dia em que os meninos ficaram se divertindo com o namoro da sua mãe com o jardineiro, está esquecida?

Ela falou que era pegar ou largar. Ele teria uma semana para decidir.

Ele pensou na trabalheira que seria ligar para a empresa responsável pelas câmeras e solicitar a reativação, sem contar que seria mais um custo que já tinham visto ser desnecessário. Perder várias horas de alguns dias para acompanhar tudo isso e falou:

-Tá legal! Me dê um pijama mesmo.

José Augusto Nobre
Enviado por José Augusto Nobre em 14/08/2017
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