HOMO ARROGANTIA

Aí o sujeito chega junto a mim e diz: nós os seres humanos somos superiores em tudo. A Teoria da Evolução está errada porque nós não viemos do macaco. Diferente dos outros animais, nós não seguimos a rotina determinada pelo instinto, temos o livre arbítrio, a capacidade de inventar, habilidade para produzir e fomos criados por um deus misericordioso, bom e justo...

Diante disso só nos resta balançar a cabeça em sinal afirmativo e sair de perto antes de sermos contagiados com tamanha arrogância, imbecilidade, com a megalomania doentia e a consequente falta de caráter desse ser que com a sua empáfia bem poderia ser classificado como Homo arrogantia.

Também está claro que ele se limita a repetir o que ouviu de outros desavisados ou tendenciosos, pois se tivesse lido A ORIGEM DAS ESPÉCIES saberia que Darwin em nenhum momento disse que o homem vem do macaco.

Acordar pela manhã, lavar-se, fazer refeição (quando dá tempo), ir para a escola ou trabalho, comer alguma coisa nos intervalos, saber das notícias, cumprimentar os conhecidos, voltar para a casa, ler, escrever ou estudar, tomar banho para tirar a sujeira acumulada, cuidar da casa, da roupa, deitar para dormir, procurar se aproximar daquela pessoa que nos despertou interesse para construir laços conjugais, reproduzir, criar, alimentar, educar e instruir os filhos, fechar portas e construir muros para delimitar nosso terreno, tentar manter a harmonia na família e no outro dia, na semana, no mês, por anos a fio, repetir, repetir, repetir os mesmos gestos, as mesmas falas, os mesmos percursos...

Isso é ser diferente dos outros animais?

Se isso não é instinto, o que é então?

Claro que há pessoas que fogem desse padrão, mas o que elas são na verdade?

Qual é mesmo o nível dessas pessoas na sociedade?

Seria a versão humana daquele leão desgarrado do bando, daquele ganso que não completou a muda e tem que migrar só, daquele chimpanzé que, por mau comportamento, foi expulso da sociedade?

Ah! Mas nós criamos armas e equipamentos.

Não criamos.

Apenas copiamos aqueles atributos que os outros animais possuem e que a natureza, maldosamente, nos negou.

Enxergar no escuro, ouvir sub e ultrassons, fazer comunicação de longas distâncias, possuir garras, couro, chifres, cascos, placas, velocidade nos deslocamentos e principalmente asas para voar.

Eles têm também um maravilhoso, e até agora inacessível para nós, sistema de comunicação, intra e extraespecífico.

Alguns, quando necessário, sabem utilizar “ferramentas”.

Dominamos o fogo, a cerâmica, a metalurgia, domesticamos plantas e animais tudo com o intuito de nos igualarmos aos outros seres vivos que têm tudo isso naturalmente.

Claro que eles não precisam do fogo, pois são crudívoros por excelência (já existe um bandão de gente praticando o crudivorismo a fim de se manter em equilíbrio com a natureza) e quando “criamos” o computador, apenas copiamos o nosso próprio cérebro.

Em vida livre, presas e predadores se equivalem em esperteza e alternativas de sobrevivência.

Muitas vezes no campo, diante de documentários, nos abomináveis parques zoológicos ou observando cães, gatos e aves escravizados em residências humanas ficamos a imaginar em que eles estão pensando, semiadormecidos ou simplesmente deitados, com olhar distante.

Será que estão em sintonia com deuses ou será que os deles morreram, como também morreram os criados pelos homens, com o passar do tempo, por inutilidade na evolução das sociedades e por suas existências jamais concretizadas?

Sim, existe uma diferença entre nós e eles.

Nós matamos, por negligência ou diversão, até a nossa própria espécie...