APRISIONAMENTO

A beleza é prisão, pois reside atrás da retina, debaixo do toque, além do tímpano, nunca está livre ao acesso direto, por isso, define ela com grades tudo aquilo que é seu, seus filhos de estética e precisão exatas moram na contenção, na restrição para não se misturarem ao feio comum ou ao inexato mediano. Junto à ditadora do belo imbuímos às coisas de aprisionamento e harmonia, mania de avesso deus. Damos gaiola ao pássaro, ordem aos jardins, vasos às flores cortadas, romance às bestas, ódio ao fim, retas às construções, moldura ao quadro, métrica às palavras, demarcação à imaginação, bordas ao papel, jaula aos animais, limites precisos às curvas do corpo. Tudo está delimitado para a beleza e nós sob suas asas. E para tudo o que é privado de mínimo prazer há a ausência de vontade, de certa felicidade a mais. Estamos fixos numa invisível teia, detidos atrás das grades dos sentidos impostos pelas rígidas coordenadas da irredutível padronizadora, somos duros aprisionados a frágeis conceitos.