FAMÍLIA É FAMÍLIA

“Nunca pergunte o que uma pessoa faz, mas como o faz. Se o faz por amor, ou seguindo princípios do amor, está servindo a algum Deus. E não cabe a nós estabelecer quaisquer julgamentos, por se tratar de algo nobre.” Poderia ser eu escrevendo a melhor definição de família que já encontrei até hoje, mas foi Carl Gustav Jung quem a escreveu. Apesar de acreditar que nem ele sabia que a estaria de fato definindo.

Sim, pode ter havido algumas mudanças na composição de uma família moderna. Aliás, contemporânea, já que menciono uma formação que vai além de inovadora e nova, mas muito mais atual e condizente com o nosso presente. Família a moda antiga, família moderna, família contemporânea, fato é que a família permanece sendo o núcleo básico de uma sociedade.

Começo falando da principal mudança nesse conceito que consigo enxergar claramente: a migração das famílias provenientes das áreas rurais para as grandes cidades ou centros urbanos. Me lembro da maioria das histórias relatadas por meu pai de sua família morando em uma fazenda até que as funções de educação cumpridas na escola rural não eram mais suficientes, o que levou minha avó a se mudar com os filhos para a cidade, enquanto seu marido - mais conhecido como meu avô - permanecia trabalhando no campo.

Se era meu avô o único provedor do lar, na minha casa ao contrário, até o meu nascimento, eram meus pais que se ocupavam dessa função. Temos aí a valorização da mulher no mercado de trabalho enquanto também cumpre com o seu papel na família, além claro, de outro conceito muito importante: o compartilhamento da educação com outros grupos, instituições e atores sociais. Meu irmão foi em grande parte criado por meus avós, eu por minha mãe e as crianças de hoje em dia contam, cada vez mais, com a atuação de escolas maternais em sua formação sócio-educacional enquanto seus pais trabalham.

Esses são apenas alguns dos exemplos de modelos de família considerados tradicionais, que atualmente já não fazem jus à definição, devido à composição desse núcleo ter mudado. Ainda falando da minha, após o divórcio dos meus pais, continuei morando com a minha mãe, enquanto meu irmão se mudou para outra casa com meu pai. Minha tia, por sua vez, nunca se casou e optou - ainda me pergunto se de fato optou - por não ter filhos. Relatos que comprovam a existência das famílias “modernas”.

Mas a diversidade sexual também foi incorporada nesse novo conceito. Enquanto alguns casais não priorizam cerimônias de matrimônio, pelo fato de já dividirem o mesmo recinto domiciliar por tempo razoável, inclusive com seus filhos, as uniões constituídas por dois homens ou duas mulheres estão, aos poucos, se tornando oficialmente legalizadas e regulares, como devem ser. Consequentemente, optar por crianças nessas relações também ajuda a formar novos grupos de pessoas unidas pelas mesmas convicções e interesses, vivendo sob o mesmo teto. Ou não.

Quem nunca achou ao menos curioso histórias bem sucedidas de relacionamentos mantidos a distância geográfica relativa, onde existe afeto, respeito e aparentemente menos envolvimento com questões rotineiras, como por exemplo, quem paga a conta de luz ou a de água? Ué, cada um paga a sua e no momento em que estejam juntos, previamente acordam em dividir as demais contas que surgirem. Se você está achando complicado acompanhar esse exemplo, imagine os casos de famílias formadas após um primeiro casamento.

Não poderei ilustrar - (in)felizmente, devido a minha natureza ciumenta - exemplos de novas famílias constituídas através de outras famílias. Porém ouço dizer que é bastante comum pessoas já separadas legalmente de seus primeiros cônjuges se casarem novamente compondo novas famílias. Surge aí um impasse ou uma grande família, quero dizer, as relações com seu antigo núcleo são mantidas ao mesmo tempo que há a integração com seus novos membros?

Tudo o que sei é que não cabe a nós julgar. Família, eh, família, ah, família contemporânea que possui variados papéis, tamanhos e formas que não são únicos. E que muda com uma velocidade significativa de acordo com a época a que estamos nos referindo, mas que é sempre diferente e dinâmica. Desventurados aqueles que acreditam que boicotar a audiência de um folhetim das nove é preservá-la. A família continuará sendo um reflexo da sociedade existente. E tem mais, já somos em muitos, já formamos uma nova e mexeu com a nossa, se vira.