O Cadaver

Era um dia comum de trabalho, por volta das 11:30 da manhã, horário de almoço quando todos se apressavam para descansar uns minutinhos.

De repente deparo-me com uma multidão: crianças, adultos, idosos, moças e rapazes; todos aglomerados, perguntavam-se o que estava acontecendo, rapidamente o trânsito foi interrompido, chega os guardas e cercam o local com cones, fitas, sirenes. Como todos que estavam ali eu também queria dar uma olhadinha. Reconheci o homem estirado sobre o asfalto, era eu. Abri meus olhos, tentei falar algo, ninguém me escutava. Faço algo para chamar a atenção, estou confuso, aquele rapaz ali imóvel sou eu, parece que estou fora de mim. Começo a chorar, tento perguntar o que estava havendo.

Conformo-me com aquela triste realidade, morri. Retomei a lucidez depois de alguns instantes, (se é que um fantasma tem lucidez). Depois de instantes ali parado, tomei coragem e fui ver o que tinha acontecido. La estava meu corpo jogado sobre o asfalto quente, ensanguentado, uniformizado de azul do trabalho, sujo e cercado por estranhos. No local havia um carro prata, pelo modelo era de uma pessoa de classe media alta, havia também um rapaz aparentemente sem entender o que estava acontecendo, estava alterado, para falar a verdade: bêbado!

Em vida nunca fui visto, muito menos notado, mas ali meu corpo sem vida e gélido todos estavam querendo uma imagem exclusiva, todos queriam um ângulo bom de meu corpo, naquele dia virei noticia nas redes sociais. Antes do corpo ser retirado do asfalto fiquei sabendo o ocorrido; estava atravessando a faixa de pedestre quando um rapaz embriagado dormiu no volante de seu automóvel, fui atingido e lançado exatamente há 4 metros de distância. Morri instantaneamente sem nem ter oportunidade de socorro. Eu tinha 20 anos de idade, tinha meu emprego, participava da comunidade, era católico, estava namorando a um mês, queria ser médico.

Tudo isso passou pela minha cabeça naquele momento, mas não importa mais, não tenho mais vida, não tenho mais sonho, tiraram-me de minha família, arrancaram-me do ser mortal, atiraram-me na imensidão da morte onde ficarei pela eternidade.

Apesar de todo esse alvoroço, retiraram meu corpo uma hora depois, tudo voltou ao normal, logo todos esqueceriam aquela cena, apenas eu lembrarei. Acabada a cena, veio uma luz ao meu encontro e nela adentrei.

Renatosilva
Enviado por Renatosilva em 18/08/2017
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