O papel
 
No horário de almoço, sento-me  no banco da praça e vislumbro um dia de frio e sereno, com pessoas em seu caminhar agasalhadas e contidas em seu mundo particular. Nada de novo, a não ser por um pedaço de papel jogado a esmo e sendo levado pelo vento. Fico olhando aquele singelo resíduo de celulose e me ponho a pensar, quantas coisas poderá contar este manuscrito. Ideias, prescrição médica, uma declaração ou uma despedida, lembrete para alguém para não se esquecer, recado de alguém que não quer ser esquecido...

Uma mensagem pode ser resumida em pequenos fragmentos, em poucas linhas, ou apenas num rabisco, é possível expor um oceano de emoções e decepções advindas da fragorosa vida humana.

Continuo a olhar, o papel é pisado por um caminhante, outro se desvia deste, nada que incomode a vida em seu transitar, somente um pedaço de papel vagando aqui e ali.

Será que alguém se disporá a pegar aquele papel e jogá-lo no cesto de lixo, que por acaso é bem próximo... Nada, nem ninguém se importa com aquele insignificante papel. Será que é importante? Se o for, por que foi jogado fora? Pequenas coisas, pouco importam atualmente, precisamos nos ater a grandes movimentos de ideias ou conceituais, planilhas e mais planilhas, textos políticos e econômicos são o auge da discussão atual, tudo no mais perdeu valor e interesse, quem dirá um desconhecido e alheio manuscrito. Esta visão automática e alienada não deixa nossa emoção agir e não captamos pequenos detalhes. Estamos viciados no grandioso, no imponente, no magistral. Falhamos ao não valorizar pequenos feitos ou buscar o melhor em coisas simples e singelas.

O tempo flui e a vida segue; o papel ali apenas com o olhar desta a acompanhá-lo. A tarde se inicia com previsão de chuva, fatalmente o pequeno pedaço de papel será levado pelas águas e  nas galerias pluviais se tornará mais um lixo existencial, caso não seja dissolvido antes.

Levanto-me, sigo até onde este se encontra, amassado e manchado de poeira, o pego e jogo-o no lixo. Não tive curiosidade de ler o que havia neste, pois jamais poderia eu dimensionar o significado que aquelas linhas continham, já que desconhecia seu autor, seu destinatário e seu propósito,este era para mim, ali, só um pedaço de papel.



 Zezezus


Num pedaço de papel
Palavras resumem vidas
Quem sabe em branco, jogado ao léu..



Roberta Lessaa 

De um simples observar o poeta se destaca em arte e pura poesia
Seu texto prima em beleza e lirismo. Que belo
Que toda palavra seja plena e sabiamente empregada


Trovador das Alterosas

Puxa, me frustou estou pesaroso,
Não leu o papel, não é dengosa?
Já sei, só para me deixar curioso,
Sendo que mulher é que é curiosa. 
Lia Fátima
Enviado por Lia Fátima em 18/08/2017
Reeditado em 23/10/2017
Código do texto: T6087509
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