A Força que Tem a Mulher Brasileira

- Ouvindo axé, dona Zuleica?
- É frevo, Helena. Mas, pode-se dizer que é uma das raízes do Axé.
- Ah, tá!
- Gostou?
- Enjoou das óperas, foi?
- Não, Helena. Continuo gostando de ópera e música clássica, mas hoje estou mais para música popular.
- É beeeeem melhor! Dá até gosto trabalhar com esse ritmo alegrinho.
- Então aproveita para trabalhar bastante, porque a poeirada desse período de seca tá demais.
- Tô limpando, tô limpando.
- No ritmo da música!? Gostei de ver.
- E essa agora?
- Também é do Moraes Moreira. Mas não é frevo. Chama-se Lá Vem o Brasil, Descendo a Ladeira.
- Moço sabido. Brasilzão tá mesmo descendo a ladeira, viu? Sei lá onde vamos parar.
- Mas ele não falava da crise de agora, não, Helena. Essa música é de 79. Fala dos talentos que vêm das favelas, dos morros.
- Eita! E vem falar que a força da mulher brasileira tá no movimento dos quadris. Tá doido?
- Eram outros tempos, Helena. Outras formas de ver e lidar com a mulher. Provavelmente, hoje, ele não colocaria isso numa letra.
- Sei, não! De vez em quando eu vejo cada coisa... Gente famosa, estudada, falando da mulher. Credo!
- Tô gostando de ver, Helena! Tá se posicionando. Tá me saindo uma bela feminista.
- Sou, não, dona Zuleica. Feminista é bicho bravo, que não gosta de homem. E eu tenho cá um gostinho pelo meu.
- Não, Helena, todo mundo que entende que a mulher é mais do que mãe, bela ou mantenedora do lar, que merece ser tratada com igualdade e respeito, é feminista. Há as feministas radicais e isso é outra coisa.
- Então, acho que eu sou feminista, sim.
- E o Roberto?
- Machista que dói!
- Imaginei! Aposto que você chega cansada do trabalho aqui e ainda tem que cuidar de tudo em casa, limpeza, roupa, comida...
- Essa é boa! Claro que não! No início, ele até achou que ia ter essa guarida, mas já fui logo cortando as asinhas!
- Muito bem, Helena! Estou orgulhosa de você. E como você fez?
- Falei pra ele que não dou conta de dupla jornada. Que se é pesado pra ele, pra mim também é. E que se não ajudasse com o serviço de casa... Ih! Olha a coincidência!
- Qual?
- Mostrei a ladeira que tem lá perto de casa e falei que ele podia descer por ali mesmo, se não quisesse me ajudar em casa.
- E ele?
- Ficou, né, dona Zuleica! Amarelou diante da força da mulher brasileira.
- Oi?
- É, uai! Olha o movimento desses quadris!
- Vai trabalhar, Helena!



Este texto faz parte do Exercício Criativo - Descendo a Ladeira
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