Resgatado do Facebook
14 de setembro de 2015
Gripada e de cama ouvindo, "When I´m sixty-four" dos Beatles quando a minha memória começa a resgatar lembranças ... 

 
Deveria ter sete anos quando cantarolava "When I'm 64" pela casa enquanto brincava sozinha com minhas bonecas, minhas filhinhas. Meus irmãos? Talvez na casa da Tia Selma brincando com meus primos, Junior e Johnny.
Aquela parte do: You'll be older too ... (você estará mais velho também ...) ecoava na minha cabeça de criança talvez por ser a primeira vez que ouvia alguém cantar que um dia eu teria mais idade, seria velha. Só de pensar, aquela imagem pesava na minha mente. Mal sabia das coisas, da vida. Era inocente, totalmente ingênua aos sete.
Aos sete anos adorava ouvir rádio e nas férias de verão não perdia nenhum dos shows do American Bandstand do Dick Clark todo sábado à tarde na TV. Mas, a nossa casa era brasileira, portanto rolava de tudo: samba, bossa nova, xote, até Teixeirinha ... e também Soul Train, a versão black do American Bandstand. Não comentava com as coleguinhas porque 'não pegava bem'. Mas, o meu Pai deixava a gente ouvir de tudo, até o Frank começar a curtir 'Queen' e Freddy Mercury uns seis anos mais tarde.
'When I´m 64' tocava direto nas rádios naquele verão de ´68 e na minha cabeça também. Ninguém havia me revelado que algum dia perderia cabelo, ficaria na espera de um cartão do Dia dos Namorados, cairia no esquecimento ... A canção me fez refletir sobre ser idosa aos sessenta e quatro com apenas sete anos de vida.
Se fosse hoje algum psicólogo na certa apareceria na mídia declarando que a canção dos Beatles estava estressando as criancinhas e jovens ao extremo. E eu com essa minha dúvida cruel sobre o terrível sessenta e quatro, nem mesmo ousei em falar com a minha Mãe. Fiquei na minha, matutando a velhice na minha cabeça. Se eu a tivesse questionado, na certa a minha Mãe teria dito, "Pára com isso Patricia! Vá já pra fora, menina! Aproveite o verão! Brinque até dizer chega porque já já o inverno chega e o frio vai te prender  dentro de casa por meses!"
Mas será que chego lá? Aos sessenta e quatro?
Infelizmente, o John não chegou. Mal completou quarenta e foi brutalmente assassinado na porta de casa. Justamente o cara que cantava pedindo paz mundial: "All we are saying is, Give Peace A Chance!"
George fez bonito ao unir a música e o mundo contra a fome em Bangladesh. Infelizmente, os milhões de dólares não acabou com a fome. George lutou bravamente contra o câncer, mas partiu seis anos antes de completar sessenta e quatro.   
Meu irmão Frank, tres anos mais velho do que eu, era todo certinho em relação à sua alimentação. Era bem geração saúde e tranquilo mesmo. Até largou emprego na MTV em 2001 e se mudou para a terra de Tieta de Amado lá no Ceará em busca de qualidade de vida. Ele amava os Beatles desde sempre e havia comentado uma certa vez comigo sobre chegar aos sessenta e quatro. Mas ele também não chegou lá. No caminho à escola pública onde dava aula, ele sofreu um AVC. Ficou em coma dois dias e partiu na manhã dos Dia dos Pais aos cinquenta e seis anos de idade. 
Quando criança, um mês parecia uma vida inteira, principalmente se fosse perto do Natal. Imagine seu 64° aniversário! Aos sete anos, parecia uma eternidade.
Eu refletia e procurava ser gentil sempre com os mais velhos. Na minha infância não tinha tantos velhinhos. Haviam sim mais velhinhas e a mais idosa que conheci foi a Mãe do meu Tio Manoel, a Dona Balbina. Talvez não tivesse tanta idade assim, mas ela era uma verdadeira matriarca portuguesa exemplo perfeito da viuvez e fidelidade. Trajava roupas sempre escuras e discretas com seus cabelos grisalhos e longos enrolados num coque na altura da nuca. Ela morava na Terra do Tio Sam e mesmo com toda a tecnologia cosmética da Avon e Yardley dos anos '60, a Dona Balbina dispensava qualquer make up e continuava fiel à sua velha Terrinha, e suas tradições. Pena eu não saber me expressar melhor na língua portuguesa quando criança, mas acredito que o pouco de português que sabia e o inglês que ela entendia já eram o suficiente para nós nos compreendemos. Sempre procurei ser boazinha com a Vó Balbina dos meus primos. Juro.
Hoje, 64 já não parece tão longe assim. Está quase batendo à porta pedindo pra entrar. E vem à minha lembrança aquela antiga propaganda das Casas Pernambucanas ... 
- Toc Toc Toc
- Quem bate?
- É o friooooooo!
- Não adianta bater. Não deixo você entrar ...
Ai ai ai ai ai! Quem sou eu para impedir o tempo de passar! Sessenta e quatro hoje em dia é bem melhor do que quando eu era criança.
Hoje aos 64, se você não foi muito do abusado com bebidas alcoólicas, cigarro, drogas, infinitas noitadas no Vera Cruz (onde até Satanás tem cadeira cativa) e principalmente se foi cauteloso com sua própria sorte, vai poder mais do que namorar! Afinal de contas, sessenta e quatro está na fase da Boa Idade.
Algumas coisas terão que sofrer mudanças, por exemplo, os horários para isto ou aquilo, e esta ou aquela fruta/verdura pra dar aquele empurrãozinho pra começar o dia bem. Apenas detalhes. Você precisa se adaptar, assim como os Titãs cantam em,"Caras Como Eu" e nem pense em matar o tempo. Ele é um dos seus bens mais valiosos.
Em 2025, Bárbara terá 10, Heloísa 16 e Matheus 19. E eu? That's when I'm 64 ... I hope and pray. (Espero e oro.)
Quando a gente vira Avó, passamos a calcular o tempo pela idade dos netos. Não me pergunte por quê. Coisa de Vó apenas.

 

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Foto: Eu aos sete anos de idade. Logo depois da foto arranquei o meu primeiro dente de leite, o da frente que já estava mole um bom tempo, mas que minha Mãe implorava para que eu não tocasse por nada neste mundo. Sábia minha Mãe, não é mesmo? Se não tivesse sido obediente estaria lamentando até hoje por estar banguela na minha foto de Primeira Comunhão.
Calada Eu
Enviado por Calada Eu em 14/09/2017
Reeditado em 29/09/2017
Código do texto: T6113713
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