Ser Alguém

Era uma terça-feira como qualquer outra, quando, perambulando pela rua, deparei-me com um imenso letreiro que levantava a seguinte pergunta mergulhada em marketing – uma daquelas propagandas enfadonhas- “quer ser alguém? Venha estudar conosco!”.

Naquele contexto em que estava inserida, de cansaço, exaustão e pensamento ao longe, pus-me por um momento a entrar em um estado estático, observando aquelas luzes vindas dos faróis dos automóveis; a rapidez, a impaciência, a insignificância a qual as pessoas passavam umas pelas outras; o barulho exorbitante dos diálogos vazios, das buzinas simultâneas; o rastejar das folhas obedecendo a direção da fria ventania..

Então, naquele instante, passei a questionar-me: o que é ser alguém? Claro, não em visão rasa, convencionada, de senso comum. Mas algo profundo o bastante para retirar-me do vazio ao qual eu me encontrava. Desse modo, iniciei as mais variadas reflexões em busca de suprimir minhas angústias e encontrar uma razão que tivesse por objetivo impulsionar a minha pequenez de existir, já que me sentia deslocada na sociedade da pressa.

Talvez, para os filósofos gregos, ser alguém estaria ligado ao ser que possui a racionalidade. No entanto, acredito que esta abordagem, apesar de direta, torna-se vaga e incompleta diante da complexidade do ser humano. Foi então que recordei de um belíssimo poema da escritora Cora Coralina que diz que somos constituídos de retalhos, retalhos das pessoas que passam por nossas vidas e deixam um pouco de sua essência, fazendo com que nos tornemos um imenso “retalho de nós”, como ela faz questão de finalizar. Porém, ainda enxergo uma resposta insuficiente.

É provável que se encontrarmos alguém em um leito hospitalar e fizermos esta pergunta, o indivíduo responderá: ser alguém é estar saudável; e se fizermos a mesma pergunta a alguém que está sofrendo por perder um ente querido, a resposta será: é estar junto de quem se ama; e, assim também será a resposta de alguém disposto a deter sucesso profissional, pessoal: ser alguém é sentir-se realizado por alcançar o que almejou intensamente. Ou seja, os resultados serão de acordo com o seu interesse.

Confesso, que o dia está por terminar e ainda não consegui nenhuma resposta convincente, mas a grande convicção que tenho é esta: viver é um desencontrar-se de si em si mesmo, sem sair da posição inicial, e encontrar-se da mesma maneira em si, através das experiências existenciais. O ser é enigmático.

Andresa de Oliveira
Enviado por Andresa de Oliveira em 14/10/2017
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