Pátria estuprada

          O filme "A Fonte da Donzela", de Ingmar Bergman,  retrata, com algumas diferenças, o que acontece na nossa terra, nossa pátria: Os ladrões, demonstrando desvairado cinismo, mesmo agradados pela inocente bondade da mulher moça, sentem, contudo,  vergonha na hora do estupro: escondem-se por trás das moitas e,  a cada instante, esguelham desconfiados olhares para reparar se existiria alguém espiando. Consumado coletivamente o ato, matam a mulher, roubam-lhe as joias, as vestes, a  branca túnica e até as velas que ela candidamente levava consigo como promessa à Virgem Maria. Mas, aqueles larápios sentiam estar agindo errado...
          Ao contrário, na nossa casa, repetitivamente pela mídia, os ladrões, escolhidos para honestamente nos representar ou nos dirigir, sem qualquer pudor, acham que não erraram:  ostensivamente furtam ou roubam nosso erário; violam nossa honra diante das outras nações; abusam da pátria, como diz Rui Barbosa, nossa "família amplificada"; e com descarada concupiscência, estupram, violam, em todos os sentidos, a consciência do país; zombam da nossa inteligência com voz de inocência, rindo de todos nós;  citam garantias de "disposições legais", defendendo uns aos outros; e  negam os fatos vistos e ouvidos, reafirmando, como se fosse uma mantra, que nada aconteceu. Chamam de bandidos seus delatores, justamente aqueles  capangas  a que eles, enquanto mandantes, "encomendaram" assaltos aos cofres públicos...
          Assim, e continuam livres e no poder; impunes sob o manto da "imunidade", do "foro privilegiado" e do "segredo de justiça" que serve para justificar omissão,  conivência  e complacência da justiça. Por que complacência? Não! Chicotadas como as de Jesus nos vendilhões do templo;  ou qualquer sinônimo de punição a esses corrutos, como a do pai da "virgem", no filme sueco. Toda essa desejada punição poderá se materializar no nosso voto, sem retrato falado desses candidatos, expurgando as cínicas caras que se reapresentarão em eleições vindouras. É indecente continuarem confortavelmente pagos  para ofender a pátria, já tanto por eles vilipendiada. Alguns deles não precisam mais pregar a tortura, já a sofremos, suportando-os...