Gabirobas maduras

Buscava ansiosa por amoras na banca do japonês. Queria fazer mais geleia. Meus amores só querem sorvete com geleia de amora. O japonês, baixinho , magro, de rosto amarelo e coração vermelho , riso fácil , acolhedor, me informara que havia chovido, não pudera ir ao sítio. Mas que eu fosse na feira da Rua Santos na sexta-feira. Talvez conseguisse mais . Tinha apenas um pé de amora. Primeira produção . Fiquei mais animada. E continuei procurando por elas em outras bancas. Quando coloco meus olhos de lince em vigília, saiam da frente, e eis o que vejo, nem pude acreditar: gabirobas. Maduras! Sim, elas, ao vivo e em cores, amarelas como gemas. Os olhos saltaram. O coração se alegrou. E a saudade gritou feito um torcedor do Corinthians em campeonato final com Palmeiras. Ah minha infância querida nas terras vermelhas e férteis dos Três Bocas! Lá pela década de 50. Eu menina franzina, índia, filha do mato , colhendo pitangas, jabuticabas, araticuns e amoras pra matar a fome . Faltaram-me bocas para saciar o desejo. E as lembranças boas povoaram minha mente. Pensei em minha mãe, meu pai, com a enxada por ele amolada, brilhante, lavrando a terra em dias quentes de novembro. Me lembro. Eu empurrando minha mãe na subida. No longo caminho dentro da mata cerrada, virgem. Sabiá cantando, vez ou outra achávamos um cipó para balançar. Quando chegávamos na lavoura do café já estávamos cansados. A família toda se jogava à labuta. A colheita seria farta. Teria minha correntinha de Ouro. Então corria pra baixo das saias dos pés de café pra limpar os troncos.... sem parar. Só pro café do bule verde de ágata e o bolo de fubá feitos pelas mãos incansáveis de minha mãe . Volto às gabirobas. A primeira adormeceu a língua. A segunda já era doce, como mel. Fui pros céus. Manjar dos deuses. A cada fruta, o deleite que o cheiro e o sabor provocaram em minha memória. Muita história pra contar...

Bemtevi
Enviado por Bemtevi em 07/11/2017
Reeditado em 07/11/2017
Código do texto: T6164788
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