O OVO



Li na Família Cristã ( faz tempo, anos) sobre o menino do papelão que só não morreu de fome porque outro morto de fome deu a ele o resto do seu sujo pão. Fiquei a cismar... Não damos comida ao menino de rua porque achamos que muitos já deram.O outro, pensou o mesmo. Não damos dinheiro porque ele vai: comprar droga vai jogar, vai comprar cigarro...Dar para o malandro...A.barriga já esta cheia...E é tão mais fácil não dar! Calamos nossas consciências dizendo: Eu dou o dizimo... Dou no hospital...Na coleta. Com o dinheiro do dizimo que dou, não daria para nimquem sobreviver. Nem para o pão. O esfomeado quarda (sobra) e que sobra! Para dividir com quem não ganhou nada. Um pedaço de pão duro que a empregada deu escondido da patroa que não quer que acostume esse povo perigoso na porta e acha melhor jogar no lixo. E que lixo, daria para matar a fome da família do seu Zé inteira!
E as nossas sobras onde estão? Roupas para quando emagrecer, a panela que eu não uso, mas não vendo não dou, porque alquem me deu e vai se aborrecer.O prato que eu gosto, mas não deixo ninguém usar com medo de quebrar. O remédio que sobrou e se eu ficar doente novamente nào preciso comprar e um belo dia vê que venceram ai junto um monte e mando para a farmácinha porque no meio destes tem uns dois que servem e as voluntárias se encaregam de separar. ...E o enfeite, o paletó, o sapato. Certamente vou levar em um caixão bem grande quando eu morrer porque se não...
Às vezes eu vou lá e olho... Dá um trabalho... Tenho que ver se não sumiu nada... Vai fazer tanta falta.
Ai meu Deus não deixa tá faltando nada não...
Sou mais pobre que o esfomeado ele ajunta tesouro no céu.E eu no armário. Ele quarda para o catador de papelão e eu dou para o lixo.
Lembrei-me... Criança ainda... O esfomeado aproximou de mim, pediu alguma coisa e minha mãe foi buscar.
(Naquele tempo nimquem saia da porta de mãos vazias.).
Eu olhei seu semblante, era simpático, meio sujo é verdade.
Tive pena...Puxei prosa... Oi? Como é seu nome... E Pati p atatat aáá... Conversamos, ele sentiu meu carinho...Foi bom, ele começou a procurar algo nos bolso. E tirou um ovo e me estendeu...Pega...Não brigado não precisa... Pega! Tá limpinho... Tive dó.Pequei! Eu não queria que ele ficasse triste... Seu olhar já não tava apagado até brilhava...Não sei o que foi feito do ovo, eu nem gosto.
Mas nunca esqueci aquela mão estendida me dando aquele ovo. São preciso as vezes que alguém traga a tona nossas lembranças adormecidas. Quem sabe você lendo estes pensamentos não resolva dar ao outro um dedo de prosa ou um ovo ou quem sabe um pedacinho de pão duro. Talvez você se lembre do menino que deu ao Mestre cinco pães e 5 peixes.E você se lembre o que Ele fez com eles...