A MINISTRA RETIRANTE

Um menino, ainda criança, conversava com seu pai:

-Papai, essa mulher que abandonou seu posto era ministra do quê?

-Da Igualdade Social.

-Ué, mas se o presidente diz que no governo dele não tem racismo, pra quê existe esse ministério?

-Vou tentar lhe explicar meu filho...

-Espera, antes de começar quero perguntar outras coisas: eu ouvi falar que existe também Ministério das Cidades, Ministério da Infra-estrutura, Ministério da Integridade Nacional..., não tratam, praticamente, dos mesmos assuntos? Por quê não transformam tudo num único ministério? Ah! Papai, também já ouvi falar que educação e cultura eram tratados num mesmo ministério, por quê agora são dois?

O pai, um tanto constrangido, tenta explicar de forma que o menino não cresça pensando que seu país seja infectado pelo vírus da corrupção e da malandragem:

-Sabe meu filho, quero que você cresça amando este país e se orgulhando de ser brasileiro, por isso, é complicado te dar uma resposta completa, mas vou tentar. Acontece que cada governo tem seu estilo e, às vezes, quer tratamentos específicos para cada problema da nação, então vai criando novos ministérios, novos órgãos públicos, para lhe ajudarem. Então a complexidade das adversidades intrínsecas na conjectura necessária para solucionar...

-Pára papai! Não precisa se cansar de falar palavras difíceis querendo explicar o que eu já entendi. Falando assim o senhor fica parecido com aqueles sem-vergonha.

-Como assim filho?

-Quando eu fiz as perguntas só queria confirmar o que o Renatinho disse que a mãe dele falou: “Pra se eleger os caras criticam o governo anterior dizendo que viaja e gasta muito, que tem uns tais “cabides de emprego” (cargos criados só pra ajudar amigos e parentes). Depois que se elegem fazem pior do que aqueles a quem criticavam. Mas não se preocupe não papai, eu nunca vou ter vergonha do meu país (só de alguns brasileiros). Sabe por quê? Porque eu e meus amiguinhos achamos que existem muitas pessoas como a mãe do Renatinho e juramos que, quando formos gente grande, não vamos trocar nossos votos por cestas base, bolsa família, vagas em escolas, TVs digitais...E se tivermos algum poder, pelo menos não vamos mentir tanto!

O pai, com lágrimas na face, abraçou o filho e ficaram longos minutos em silêncio.

É, crianças sabem mais do que pensamos!

SP. 02/02/08

Fernando Alberto Salinas Couto

Fernando Alberto Couto
Enviado por Fernando Alberto Couto em 02/02/2008
Código do texto: T843630
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