A mulher histérica

A mulher histérica

A mulher histérica é coquete e necessita de público. Chama a atenção ao primeiro contato pelo estilo “cheguei”, teatral, artificioso, inautêntico, carente de atenção e elogios. O paranóide tenta dominar o mundo pela lógica cruel de seu delírio; o obsessivo vence pela rigidez da organização; o histérico conquista – e principalmente as mulheres histéricas – pelo gracioso jogo da sedução. Mesmo que a tenhamos visto ou conversado muito superficialmente, abraça-nos efusivamente, beija-nos, diz que nos adora.

A mulher histérica faz-nos parecer velhos amigos. Não deixa de ser agradável a falsidade da mulher histérica, especialmente quando a vida está carregada do amargor dos dias. Sem sombra de dúvidas, perdoem-me os perfeccionistas, mas o “me engana que eu gosto”, por vezes, na solidão, faz falta.

A mulher histérica não tem emoções somente; ela é a própria emoção personificada. O decote sedutor, o olhar encantador, o cruzar de pernas “voyeristas” faz da mulher histérica terrível arma de êxtases e desenganos. Muda de humor como político de partido. Chora, ri, pede desculpas depois de agredir, anoitece amando e amanhece abandonando. Declara amor eterno com a mesma facilidade com que arruma as malas e vai embora. Tem muito homem inexperiente dormindo debaixo da ponte da existência por causa da mulher histérica.

Nunca contrarie uma mulher histérica. Elogie-lhe o que estiver bonito em suas roupas, adornos e adereços. Você jamais resistirá ao choro e às lágrimas, mesmo superficiais, da mulher histérica. Lembre-se sempre que Napoleão Bonaparte, conquistador de batalhas, perdia-se ante os prantos de Josefina. Siga-lhe o exemplo.

A mulher histérica é extrovertida, transforma em alegria e dor tudo que toca com sua sensualidade. Na sexualidade, no amor romântico, na possessividade, na busca da fama, a mulher histérica é um perigo. Ela faz da busca da fama o centro das atenções. Cuidado! Muito cuidado! Os seus olhos, como seu sexo são de uma lubricidade infinita. O olhar desconcertante. A expressão corporal é de profunda provocação sedutora para o amor. A mulher histérica carrega em seu olhar úmido a carência do afeto. E mais que isso: possui esse olhar úmido da tragicidade, do encantamento, do devaneio e das grandes paixões eletrizantes. O problema, para o frágil homem envaidecido, é que a mulher histérica em seu narcisismo, vai fazê-lo sentir-se intensamente amado, quando na verdade ela ama só a si. Vaidosa, egocêntrica, exibicionista, dramática, faz o teatro para si e para o mundo, no exato papel que o mundo ou a vida lhes nega. Cuidado, homem vaidoso, com o amor da mulher histérica: é forte e ao mesmo tempo falso; intenso e frágil; profundo e superficial. Muita atenção – ela é imprevisível. A mitomania, mania de mentir e acreditar na própria mentira, é fundamental como traço de sua personalidade. Mistura fantasia e realidade, não sabendo quando uma começa e outra termina. De imaginação fértil e fantasiosa, pode chegar à calúnia para chamar a atenção sobre si e sentir-se o centro do mundo. Pode afirmar a você, homem frágil, que foi cantada, inventar histórias onde são vítimas da sedução sexual, sentir-se perseguida pelo amigo do marido, médico ou namorado da irmã. Assim engana e se engana para ser valorizada.

O muito perigoso nas mulheres histéricas é que deixam a impressão aos incautos de serem hipersexuais. Demonstram grande necessidade sexual, constante ninfomania, mas lá no intimo, detestam a relação genital. Gostam, isto sim, da sedução aparente e muitas vezes recuam e esbravejam às investidas masculinas. Provocam e reagem fugidias na prática sexual. A questão fundamental é a seguinte: ao lado da aparente necessidade sexual encontra-se uma incapacidade de satisfazer essa mesma necessidade. Daí querer sempre mais. Sim, pois o instrumento de trabalho da mulher histérica é o seu corpo. O corpo é o melhor meio de comunicação, muito mais como desejo de angariar admiração, aprovação, proteção, do que a verdadeira intimidade interpessoal da relação genital. Cuidado, muito cuidado, senhores, com o furor uterino das mulheres histéricas.

Quando enveredam pelo caminho místico das religiões exóticas, simbolizam com perfeição a sexualidade reprimida. Na idade média eram queimadas na fogueira como se tivessem alucinações de êxtase com o demônio. Em muitos cultos religiosos, mordem-se, ferem-se, queimam-se, autoflagelam-se ou “se casam” como seres espirituais. Que tal uma alucinação erótica – histérica – para converter e simbolizar a sexualidade reprimida num ato religioso? Que tal açoitar-se para aplacar as tentações de satanás num ritual histérico? E não foi Freud quem disse ser a histeria, a crise histérica, o equivalente simbólico da cópula com a perda parcial da consciência?

Azar mesmo da mulher histérica é quando casa com um obsessivo. Este usa a lógica e expressa-se com detalhes rebuscados, ao contrário da mulher histérica, dramática e exibicionista, a falar por superlativos e hipérboles, com toda emoção desvairada da infância. O marido obsessivo evita o contato emocional, a mulher histérica anseia por platéia. Ele, cuidadoso com as horas e compromissos; ela, livre e impetuosa a confiar no relógio do mundo ao qual acredita dominar com fantasias e malabarismos. Ele, o marido obsessivo, angustiado com o dinheiro para poupar e ela, extravagante na compra de roupas, perfumes e jóias. Os conflitos entre a mulher histérica e o marido obsessivo não tardam muito. Ela o vê como dominador, rígido. Ele a vê como exigente, incapaz de refrear os impulsos e irrita-se com os seus caprichos. Resultado: raiva, frustração, rejeição sexual, clima hostil, falta de desejo, desilusão. O obsessivo, infelizmente, não foi o pai que a histérica fantasiou.

A mulher histérica sente-se mais à vontade na fantasia que na realidade. A fantasia tem lá suas vantagens: é a continuação do estado de onipotência infantil. A realidade é dolorosa na histeria. A mentira é uma fantasia e também se projeta contra o mundo real. As emoções, a sedução, a cordialidade, as explosões de raiva, tudo isso constitui defesas contra o cotidiano insuportável. Alguns dizem: “Mulher histérica possui lá suas vantagens”. No intervalo das crises de raiva é carinhosa, gentil, dadivosa. O problema é que precisa da recompensa, ou seja, dá, mas quer receber com juros e correção monetária: afeto, admiração e tietagem. Já escutei de homens que mulher só a histérica. As normais não oferecem atrativo algum.

Maurilton Morais
Enviado por Maurilton Morais em 26/12/2005
Código do texto: T90593