O DIA DA INDEPENDÊNCIA (Crônica-aguda)

Lembro da minha primeira “parada”. Era assim que se chamava o desfile do Dia da Independência. Eu fazia a quarta série do primário e só a partir desta idade, mais ou menos dez anos, era permitido desfilar.

À tarde do dia seis iniciei meus preparativos, engraxando os sapatos pretos, até ficarem brilhando. As meias pretas de 3/4 foram postas esticas sobre a banqueta do quarto; em cima delas uma calça comprida azul, com vincos perfeitos e num cabide, a camisa branca de manga comprida, com o bordado no bolso, onde se lia “Grupo Escolar Lúcio dos Santos”. Era todo o uniforme.

Dois meses de treinamento de marchas e fanfarra acompanhando, além das professoras inseminando-nos um patriotismo maravilhoso, onde o gesto de desfilar na “parada” era explicado como um tributo à nossa Pátria (em maiúscula mesmo), nosso berço, que deveria ser reverenciada e defendida com a própria vida.

Depois desta primeira “parada”, todos os outros asteamentos de bandeira que se faziam diariamente no pátio do grupo, passaram a ter um significado tão importante para mim, que me emocionam até hoje.

As nossas professoras, salvo exceções, iam à parada bem vestidas, perfumadas e nos sentíamos envaidecidos de estarmos ali. No palanque oficial, o governador, o prefeito e as demais autoridades, rendiam homenagens a nós e sentíamos como era bom ter funcionários diligentes, como eles.

Àquela época, percebo hoje, já existiam demagogos, como José Maria Alkmin, Tancredo Neves e o próprio Getúlio Vargas. Mas eles sabiam arrebatar as platéias. Eram cultos, usavam o discurso para nos enlevar. Tinham respostas para os adversários e para as questões dos eleitores.

Hoje, vejo os meninos indo para os “desfiles de 7 de setembro” com o mesmo entusiasmo que íamos à “parada”. Só que aos 14 anos, começam a ter vergonha de participar. Vêem com enfado as festas e muitos não sabem sequer cantar o Hino Nacional inteiro.

Os políticos dos nossos tempos continuam demagogos. Só que sem cultura. Ao participarem de comícios e debates, conjugam verbos estranhos, como o “ponhar”, não sabem o que responder e saem pela tangente, respondendo abobrinhas.

Será que o patriotismo não está em declínio, porque temos dirigentes incompetentes? Não será que estamos confundindo Pátria com esses pretensos donos dela? Porque será que eles se apossam ditatorialmente de seus cargos, sem ver que são nossos empregados?

Tenho certeza de que tudo isto ocorre, porque estamos ficando cada dia mais incultos, fechados. Estamos deixando, por omissão, que verdadeiros doentes mentais se candidatem e exerçam o mandato em nosso nome.

No fundo mesmo, o que estou esperando no próximo Dia da Independência, é que consigamos refletir sobre estes problemas e nos comprometamos com o patriotismo que ainda nos resta, de forma a buscarmos o melhor para este país, que ainda é dependente em ignorância, sobretudo.

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Marcio Funghi de Salles Barbosa

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