Grávida!? Eu???


Ontem foi o dia das mães! Dia de louvá-las, bendizê-las, presenteá-las, abraçá-las e beijá-las, mesmo que apenas em pensamento.
Agora, chega de pieguice. Acabou o oba-oba e vamos falar de outras mães: as mães acidentais.
Aquelas que, quando conferem o resultado do exame e encontram positivo, só vêem pontos negativos.
Acredite: mulheres nessa condição, passam por processo semelhante ao que acomete um doente terminal, ao ser informado da morte iminente: negação, raiva, negociação, interiorização e aceitação.
Na negação, desconfia do exame, do laboratório, do médico e faz tantas contraprovas quantas forem necessárias para ter certeza de que o resultado não muda:
- Opa!!! Desta vez o bonequinho não ficou tão azul!!!
Quem viu Juno deve ter rido muito ao vê-la entupindo-se de refrigerante para produzir urina suficiente a todos os testes de farmácia que fez.
Na fase seguinte, ela brada aos céus, com raiva de Deus:
- Por que eu??
Não se perdoa. Não pode acreditar que tenha cometido aquele erro boçal de esquecer a pílula num dia e tomar duas no dia seguinte para compensar.
- Confiar na tabelinha!? Irregular como eu sou? Onde é que eu estava com a cabeça?
E se o namorado faz menção de dizer alguma coisa, ela já responde:
- A minha, imbecil!! A sua eu sei onde estava!!!
Melhor ficar calado. Nesta fase, pior que a TPM, a ira dela pode voltar-se para o coitado, que afinal também tem alguma culpa nesta história.
Na fase de negociação, procura arquitetar soluções para desfazer o estrago. Tem jeito de disfarçar a barriga de gestante numa pós-adolescente com IMC em torno de 18, corpinho de modelo?
Aborto? Fora de cogitação!! Entregar para doação?? Nunquinha!! Casar?
- Ei! Pirou? O cara é só meu "peguete"!
Sem solução a vista ou a prazo, ela decide partilhar o "problema" com as amigas, que dão a maior força, dizem que ela vai ficar linda grávida, que está super na moda e ela até se anima a contar para os pais. O processo recomeça:
Negação:
- Grávida? Ah, minha filha, você tem que parar com essa carência afetiva. Esse negócio de fazer de tudo pra chamar nossa atenção...
- Já fez o exame de novo?
Raiva:
- Então é verdade mesmo? Como você pode ser tão burra, menina?? Depois de tudo o que conversamos sobre isso...
Negociação:
- Podíamos mandá-la pra casa da tia Andréia em Boa Vista por uns tempos até o bebê nascer, que tal?
Descartadas as hipóteses contrárias, irmanados, entram todos no rumo das duas fases seguintes: internalização e aceitação.
A vantagem é que aqui, a despeito das semelhanças vividas no processo até então, estamos falando de um nova vida e não da morte. Internalização e aceitação são fases leves, de visita a lojas de bebê para montagem de enxoval, consultas regulares ao médico, e aaaaahhhhhs e ooooohhhhhs nas imagens pouco nítidas das ecografias. Quando a barriga desponta e deixa de ter dono, pois todo mundo passa a mão, o processo está completamente concluído e a mulher deixa de ser mãe acidental para ser, simplesmente, "mãe".
É claro que isso não acontece apenas com adolescentes desarvoradas.
Meus pais tiveram sete filhos. Todos "evitados" por meio da tabelinha.
Júlia, casada, dois pimpolhos, enquanto ainda estava amamentando o segundo, colocou um DIU. Na ecografia de verificação, o diagnóstico:
- O DIU está no lugar, sim. E o bebezinho também!
- Hein!?
Aliás, Dilsons (DIU SONS - filhos do DIU) são mais comuns do que possa parecer. Patrícia, também casada e com uma filha já quase mocinha, começou a enjoar, sentia-se inchada. Usando DIU há alguns anos, foi ao médico investigar. Daniel, lindo, veio ao mundo seis meses depois.
Já Suzi, chegou a entrar em pré-operatório para retirada de um monstruoso mioma. Foi quando detectaram que não era ele que crescia assim, tão assustadoramente e, passados dois meses, Liliane nasceu, com pouco mais de três quilos e muita saúde.
E quando a mãe acidental parece ser o resultado de uma piada de mau-gosto do Criador? Aurora, mãe de dois adolescentes, submeteu-se a uma laqueadura. Definitivo! Pra que continuar se preocupando com isso? De repente, começou a engordar. Resolveu conferir: uma fístula se formou após a cirurgia, permitindo a passagem do óvulo. Ela, bem humorada, só lembrava da piada: “vai se chamar McGiver”.
Pensando bem, pior ainda foi aquele episódio do lote de pílulas de farinha distribuídas por engano pela Schering do Brasil em 1998. Duzentos filhos da incompetência de um nerd! Nem com a milionária indenização eu gostaria de carregar a barriga de alguma dessas mães!

Aí, eu imploro: para de conspirar contra, universo! Quero continuar nulípara!! De agora em diante, só vou de combo: dois ou três métodos ao mesmo tempo... Quero garantias. É isso ou... Não! Celibato, não!
Taí porque é tão difícil fazer controle populacional: apesar de todo o risco de dar certo, ainda não inventaram coisa melhor do que tentar fazer neném.