Poesias,Contos e Futebol?

Poesias,Contos e Futebol?

Acordo remelosa e surpresa com o caderno aberto nesta passagem passada onde resolvi escrever o episódio do Poeta Triste, um conto já editado junto com outros colegas e que a muitos agradou. Sempre me causou tristeza. Trata se de um conto verídico que eu evitava já que não era do meu agrado, pois me entristecia ,porém alguns conhecidos o elogiavam.

Porque escrevi O Poeta Triste?

Quando o reli comecei a compreender as minhas verdadeiras e reais razões e quando as compreendi, acreditei na veracidade do conceito de sublimação no homem. É um dos mecanismos de defesa mais elaborados e maduros do ser humano e que o possibilita sair de situações afetivas catastróficas, desde que ele tenha condições de o empregar.

Quando conheci O Poeta Triste eu havia levado um choque profundo afetivo, algo que veio de fora, da realidade externa ,que feriu minha sensibilidade e que me abateu profundamente . Após a violência que sofri por toda uma sociedade,deixando os porquês de lado (já que não nos enriquecem, mas entristecem, pois teria de falar em ódio, inveja, competição profissional, incompreensão, desumanidade),pois não soa como boa prosa , e para conseguir sobreviver e me resgatar pessoalmente de todo este horror eu recorri a algo doce, suave, amoroso , gentil :a poesia. Passei a escrever versos e perseverante, cheguei ao conto de um homem tristonho que tenta elaborar o trauma da surdez escrevendo versos.

Vocês já comprenderam,não é? Compreenderam também, porque eu evitava este conto, não gostava de o ler. Mas agora gosto! E gosto porque foi uma passagem de minha vida , cruel ,mas da qual eu fui resgatada pela poesia. A minha surdez na época foi porque sequer eu podia escutar explicações ou palavras de consôlo, pois que não há explicação ou consolo para a crueldade sem razão. Fiquei quieta muitos anos no meu canto a fazer poesia e mais tarde surgiu o conto O Poeta Triste. Hoje, tenho a compreensão de tudo. Entendo porque comecei a poetar, porque precisava poetar, porque não queria escutar e, finalmente, porque escrevi O Poeta Triste: - Para não me matar,no sentido de desistir de tudo e ficar inerte enquanto a vida passa.

Olhando a página aberta neste Conto, recordo do vizinho poeta de consultório sempre mudo e sempre quieto.Soube da sua doença. Acho que ultimamente me porto igual a ele, muda e surda.

Continuando a folhear o caderno ,distraída, chego ao dia 12 de Julho de 1998.Tem um risco vermelho e leio interessada , pois riscos significam datas importantes .E foi , um importante dia de azar...

Riocomprido,12 de Julho de 1999

Perdemos a COPA !!! É inacreditável mesmo!É de não escrever hoje !

Depois de amargar com outros milhões de brasileiros, solidária, chorando a derrota e escondendo as lágrimas nos lençóis , me ponho a pensar em como o povo francês nos enrolou bem. O amor excessivo pelo Brasil , aquele desprendimento a ponto de dizer que o nosso time é seu favorito , acabou penetrando na cuca dos brasileiros de tal maneira que, deslumbrados, não perceberam , sequer estudaram o time francês, crescendo dia a dia, querendo vencer e nos derrotar. Nosso povo ,nossos técnicos e jogadores são ainda crédulos e ingênuos . Eles não esquentam ou estudam as jogadas as estratégias dos outros times.O sucesso do passado sobe a ponto de colocarem o Ronaldo lesionado no jogo.

Final do jogo, para me animar tomo uma cerveja no bar ao lado de casa. Uma garçonete de olhos inchados e vermelhos atende. Chego em casa resignada,conformada. Que triste final de milênio para o futebol brasileiro! Olho os comentários pela tv. para ver os ídolos de ontem se tornarem vilões em segundos. O técnico,de cara ,é despachado. O Ronaldo sofre um estresse psicológico e acaba lesionando toda a equipe.O mesmo o bicho homem antes e depois da Copa.! Incrédula, durmo sonhando e pensando que vamos entrar no próximo milênio derrotados: eu e a seleção.

O Brasil, entretanto se faz conhecer e reconhecer como país. A Copa está consagrada graças a nossa luta gigante pelo esporte do nosso povo : o futebol.

Resolvo neste dia lutar em própria causa e começo tentando recuperar o antigo otimismo. .Por exemplo, se me chateio com muitos dos veranistas ou colunéveis de Rochas Salgadas e não faço questão de manter relações com elas, pois, em nada vão me enriquecer, existe, também, muita gente boa aqui. Gente que eu conheço e me conhece há anos, mas o interessante, o curioso são os nativos daqui, pois têm suas vidas, suas crenças inabaláveis e uma filosofia toda própria . Agrada me imensamente o modo de ser e a vida simples que levam. São felizes com pouco, mas porque sabem usufruir ao máximo tudo o que tem inclusive a natureza privilegiada de Rochas Salgadas, onde nunca há inverno, mas com tudo isto estão de “cabeças inchadas” pela derrota futebolística.

Suzana da Cunha Heemann
Enviado por Suzana da Cunha Heemann em 21/05/2008
Reeditado em 16/01/2011
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