Manifesto pela Liberdade de Pensamento (em onze dias) 03

A outra dificuldade é dada por Ideologias. As pessoas abduzidas por Ideologias têm sua mente controlada por predeterminação do sentido das palavras, não importa em que campo semântico ocorram, lerão sempre o mesmo sentido dado pela Ideologia que os domina e conduz. O homem se transforma em marionete da Ideologia por se alienar de toda a realidade conceptual (visão de mundo) em favor da realidade fabricavel pela Ideologia (ignorância), pelo egocentrismo manifesto na compreensão imediata, e por não exercer um pensamento crítico. Disto decorre outro tipo de problema: há várias Ideologias concorrentes e uma será predominante (hegemonia) sobre as outras apenas na medida em que as negativas às suas afirmativas sejam anuladas (reduzidas a nada): há sempre o esquecimento de que o Não nasce a cada momento em que nasce o Sim. O aparecimento do NÃO é inerente ao processo de armazenamento de dados na memória e de sua recuperação: a comparação e diferenciação do dado fornecido pelo estímulo atual com os dados já armazenados; havendo consonância, nasce o SIM, havendo dissonância, nasce o NÃO. Não há a desejada síntese final do materialismo dialético, a não ser que seja processada a eliminação do Não, a cada vez que surja, transformando a Sociedade em um sistema fechado. Ocorre que, dada a natureza do homem, para que ocorra a anulação do NÃO é necessário anular o homem que o expressa, porém o homem não pode anular o nascimento do NÃO no processo de sua memória, pode apenas e simplesmente expressar ou não sua discordância. A dialética marxista anula o homem discordante com sua Ideologia.

O que tem sido historicamente demonstrado pelas sociedades homogeneizadoras e autoritárias é que um sistema de mentes só se fecha quando ocorre o assassinato do NÃO, por vários meios, desde a censura velada à censura aberta e repressão de opinião e perseguição de todas as formas, à prisão, da morte simbólica à morte concreta, el Paredon! Há a delusão de que ocorra a homogeneização do Pensamento nestas sociedades: cada um dos homens que parecem concordantes sabem que se não concordarem serão eliminados pelo sistema, e, assim, cuidam de não expressar a discordância, assassinando o Não em sua própria mente, preservando-se de ser “suicidado pela sociedade” (Artaud) ou de ter sua “alma assassinada pela Sociedade” (Schreber). Há um fato ainda não assumido pelos marxistas, “cegos que examinam o elefante (o sistema de Coisas Reais). O homem em seu contato com as Coisas da Realidade para fabricar seus OBJETOS (CR + USO = OBJETO), tem os Pontos de vista do Outro, ainda que sistematizado em Ideologias, apenas como uma COISA REAL dentre as outras no campo situacional e sempre introduz uma alteração (PRODUZ O SEU OBJETO = PONTO DE VISTA), ainda que pequena, imperceptível a observador externo, mesmo que pareça estar concordante. O sentido das palavras, ou das frases que formam, deve ser modificado para incluir as suas vivências individuais, singulares. É a tendência natural para o homem desde o tempo em que aprende a língua materna, por repetiçao (by rote), a partir da qual a criança absorve as regras da Língua e cria os significados das palavras em consonância com o campo situacional onde estão inseridas, campo que inclui sentimentos e respostas emocionais de sua mãe, bem como suas reações emocionais a estímulos recebidos. Problemas mentais podem surgir quando o verbal e o não-verbal são disjuntivos. (Duplos Vínculos). Neste processo, o significado da palavra não é dado verbalmente e o significado que a criança cria parece ser idêntico ao que é veiculado pela Língua, mas o aparecimento do “NÃO” mostra não haver esta identidade. O “NÃO” é a primeira manifestação do conflito conceitual, que pode aparecer também quando a criança compara o significado das suas palavras com os significados adquiridos de outras fontes extra-familiares. A ocorrência de conflito conceitual só é possível se a criança fabrica o seu próprio objeto do significado transmitido pela mesma palavra, agora derivada de outras fontes: se o objeto é idêntico, há consonância e se não idêntico, há dissonância ou conflito conceitual. Quando a criança expressar o seu ponto de vista, ela irá usar a mesma palavra como dada pela cultura, e a dissonância não será expressa. No entanto, se a criança não aprender a dizer "não", ela não aprende a reconhecer-se como um ser distinto do outro, i. e. não homogeneizado com o outro, e torna-se dele dependente. É criminoso educar as crianças para a dependência, mesmo que seja dependência do Estado: o homem torna-se escravo do Estado, escravo dos governantes em nome do Estado e, como escravo o homem pode ser vendido e usado. É inerente ao homem o direito de não ser vendido pelo homem a outro homem, o direito de não ser vendido pelo Estado a outro Estado, mesmo que os nomes com que fazem negociação comercial sejam trocados: o importante não é o nome, mas a essência do Coisa Real. A dissonância, discordância, EXISTE mesmo quando à AFIRMATIVA não se segue um NÃO expresso: “Não, penso de outra forma”, mesmo que o homem evite refletir conscientemente sobre ela, e mesmo que não saia do nível inconsciente para o consciente. Em um "sistema de mentes" como são as sociedades humanas...

(continua)

Gilberto Profeta
Enviado por Gilberto Profeta em 15/06/2014
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