Deixar os Planos

Por que é tão difícil deixar os planos, os sonhos que passaram a existir junto de alguém?

O pior é que esses planos e esses sonhos muitas vezes são construídos à sós por falta de um aparelho sonhador daqueles que sonham aos pares...

Mas o caso é que às vezes deixar os planos, ainda que pequenos, é tão ou mais difícil que se ver distante daquela pessoa em si. Isso porque os sonhos eram de um só, assim como os planos eram de um só. Cada um em seu canto planejador, com sua própria máquina de sonhos e, o que lhe parecia real era mesmo o sonho já que a relação estava tão distante de ser. O sonho carregava possibilidades enquanto a relação restava inundada de vaidades.

Eis que um dia, sim, essa maquininha de sonhos acaba estragando e o conserto não vem de pronto já que necessita de algo muito raro, uma peça que quase não se encontra hoje em dia e, essa pecinha se chama parceria conjugada.

Para sonhar não há regras, no entanto sonhos e planos à dois atraem à sua construção algo tão raro quanto a parceria stricto sensu. Algo que desmonta os relacionamentos superficiais. Esse algo não vem do tempo, tampouco do sexo. Esse algo não vem da satisfação primitiva, nem da gula dos olhos. A bem da verdade esse tempero portento pode ser encontrado na essência da vontade de se permitir, do desejo de ser, eis que dessa singularidade se extrai um movimento único em favor da continuidade do amor ao que denomino de parceira conjugada.

Tanto mais perto da desafetada conjugação, mais se chega à harmonia, conciliando, flexibilizando e fazendo combinações dos interesses que, inicialmente individuais, passam a ser inter duo, porém sem perder a individualidade, por óbvio.

Então os sonhos, os planos podem até não ser realizados, por um motivo ou por outro, mas é interessante que figurem como desígnio factível, produto dessa parceria conjugada e desafetada, distante o quanto mais da vaidade, do orgulho e da soberba.

Assim deixar os sonhos e planos que não foram construídos com alguém, mas para alguém é tão difícil justamente porque são próprios do seu autor, do coração daquele que os construiu ainda que sozinho. Esses sonhos e planos são tão íntimos que não precisam e não podem ser deixados, já que pouco importa o conteúdo do plano ou do sonho, já que são na realidade a própria capacidade de idear, que não se dissipa, não se abandona e não se separa simplesmente porque o outro não soube devanear em parceria conjugada.

Manter-se fiel a si mesmo sem se perder em razão dos desencontros da vida, saber compreender os limites do outro e saber amar é a própria caminhada progressiva do autoconhecimento, desprendimento e vontade de aprender cada dia mais, então poder, saber sonhar verdadeiramente a dois.