Uma Perspectiva de um Feminista

A mulher, estigmatizada pela nomenclatura criada pelo seu algoz, o homem. Sujeito que deprecia o outro e o classifica afim de dominá-lo, num processo de sujeição, patriarcal, onde o matrimônio se faz de posse e subjuga em nome de um poder biológico. Os espermatozoides, os grandes fertilizadores da genealogia do falo, que busca o domínio vertical e onipotente do que denomina outro, outro sexo, denunciado por Simone de Beauvoir.

Que outro é esse que é feito sob uma denominação de pseudo-sexo, servindo no âmbito doméstico, desvinculado do público, numa contenção de politização e na produção de uma cultura de submissão. Recata, dócil, dominada e ainda assim, maltratada, castigada, violentada, estuprada. No generalismo nem mesmo existe, já que a humanidade se torna “o homem”. As antigas divindades, agora demoníacas, perdem espaço para um monoteísmo de machos, alfas, acéfalos, brutos, ignorantes e patéticos.

Ainda que não bastasse, a culpabilidade, já que ela é que se torna a grande tentação, a que perverte, inverte, seduz e corrompe. Do divino ao carnal, num complexo edípico, onde a mãe é a estrela da culpa e a representação de toda figuração de uma condição de castradas. Mais uma ausência, o não-homem, o ser sem pênis, sem pau, sem o caralho do pinto, que quer ser galo e se fazer valer pelo tamanho, para ostentar que seu domínio.

Os noticiários abarrotados de violência contra a mulher e ainda assim ela é culpada. Não é uma vitimização, porque nunca lhe deram esse crédito. O teatro está arquitetado e cada papel deve ser desempenhado dentro da lógica machista. Os feminismos saem dos bastidores e eclodem com a força contrária a repressão, desmaterializando os dogmas da sexualidade e todo o corolário de regras de conduta aplicadas na disciplinarização do ser feminino. O corpo vilipendiado também é a forma de resistência, na luta diária pela conquista de um espaço no qual nunca deixou de pertencer.

Talvez não sejam mulheres, algo ainda indecifrável como a esfinge mitológico. Mas não vamos cair no equívoco dos mitos, voltemos a realidade sórdida das desigualdades. Onde imperativos como a maternidade assujeitam mulheres, bem como métodos contraceptivos que causam risco a saúde e diversos outros fatores , como os de medicalização, que homens ainda decidem por elas. A criação de uma identidade em meio a uma realidade opressora é a grande batalha pela própria existência e a soberania de poder se auto avaliar, validando as subjetividadesque eclodem reivindicando seus direitos. Esse é um manifesto apenas. Um manifesto de quem também se aliou a causa.

A diversidade de singularidades são o fortalecimento desse ponto comum de ausência, na visão falocêntrica, onde os marxistas buscavam uma união do proletariado por sua condição de explorados dentro do sistema capitalista, as mulheres demonstraram essa união que se espalha, não por ser um movimento homogêneo, mas justamente por sua miscelânea, que tem como fio comum as diversas formas de exclusão e aquilo que era utilizado para fazê-las fracas, acabou por se tornar o mote de sua causa, a condição de MULHER.

Bruno Azevedo
Enviado por Bruno Azevedo em 25/07/2017
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