A ÚLTIMA MORADA

Na esquina da alameda, um cemitério;

Ao perder-me na luz do dia achei-me na treva.

A natureza - essa mãe -, no eterno puerpério

Produz seus filhos e pede como entrega,

Num futuro certo as almas do mistério!

... Para onde vou?... Que direção seguir?

- Deixe a incógnita. Não responda, amigo! -

E perambulando entre bosques, prossegui

Entre anfibologias dum esconso inimigo...

E o labirinto: norte ou sul? Leste ou oeste?

... Oh, vida!... Oh, dúvida cruel!

Quando me vejo na classe média: um teste.

Ou seria a indigente classe? E por aluguel,

Anseio, em verdade, uma cova rasa; afinal

É nos fundos do cemitério o sonho de ficar,

Morar... deitar... descansar... atemporal!

Os mortos - amigos do silêncio - sem justificar

Serão condôminos, no mútuo esquecimento...

E eu, enfim, na esperança verde do renascimento!

Jô Pessanha e Poeta Carioca
Enviado por Jô Pessanha em 16/10/2016
Código do texto: T5793148
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