Idéias e vontades

Na busca incessante do homem para conhecer a verdade sobre si mesmo, sobre o mundo que vive e de onde emana a força que o mantém vivo e atuante, encontra muitas teorias de pensamento, que lhe dão um caminho a seguir. Encontra a filosofia, como um arcabouço de linhas de raciocínio, iniciadas por pessoas que tiveram a mesma busca e lhe deixaram um legado a ser utilizado.

Convive com a angústia desta procura, numa simbiose de chegadas e partidas, num ritmo alucinado, no qual nem sempre pode precisar sua realidade. É certo que o homem tem, a seu dispor, de uma inteligência que lhe permite julgar, apreciar, decidir, argumentar, para lhe saciar a sede deste saber.

Recordo-me que aos primeiros sinais da consciência deste exercício de me compreender, encontrei a teoria das idéias ou das formas, de Platão, que muito me incentivou a enveredar por esta via de reflexão e da qual nem mesmo compreendo sua extensão.

Mas o pensamento de que tudo não passa de idéias, captadas segundo a forma de cada um, o modo de apreensão deste mundo que me é visível e, à primeira vista, simples e intuitivo. É como se tudo estivesse ali, organizado e funcional, desde sempre. É o olhar do homem, na pressa de concluir por aquilo que saltam a seus olhos, sem esforço de distinguir a realidade que está muito além desta apreciação.

Que seria este impulso que me faz perguntar, pesquisar e tentar entender o que se passa a minha volta, tentando explicar por visões externas e incompreensíveis, por isto mesmo? Seria talvez a evidência de que tudo seria simples demais para ser tão perfeito.

Entro então numa viagem, de velocidade vertiginosa dentro de meu eu, onde encontro idéias, conceitos, planos, emoções... Verdades absolutas e que se encontram num horizonte, inatingível, portanto. Não chego a lugar nenhum? Não, ao contrário já encontro a impossibilidade de me superar, visto ser eu, obra de um ser superior, grandeza suprema, infinidade.

Tudo é caminho, tudo é gerado por essa angústia, essa ansiedade que não nasce assim, por acaso e há de ter uma causa primeira, que esta viagem tenciona encontrar. Força interior que me faz agir, sentir, perseguir.

Encontro a vontade, na essência de meu pensar, na força de meu agir. É ela que me faz movimentar e colocar em prática meus pensamentos que não passam de idéias, longe dos significados próprios e inerentes a cada objeto a elas associados.

Percebo a impossibilidade de existir um ponto final. É a idéia do infinito que nos traz a sensação da pequenez da capacidade humana do raciocínio. Mas esta idéia me remete ao princípio, de onde viemos e que, pela vontade, mantemos viva a força da reflexão.

Vontade, com a qual, entrei em contato pela primeira vez, na mais tenra idade, nas noções transmitidas ainda nos bancos de colégio, onde a idéia de Deus foi implantada em meu coração de forma indelével e apaixonante. Dele vem meu conhecimento da existência desta força, ainda tão pouco explorada. Creio, sim, que existo pela vontade de Deus. E desta vontade gera-se então a minha vontade de viver, de sonhar, de compreender. Sei que sou este ponto de partida e sem o qual não poderia agir... Ou deixar de agir. Mergulho nesta particularidade de minha essência, e vejo que a busca é válida, embora saiba que nunca chegarei a um ponto final.

As idéias se embaralham em minha cabeça e aos poucos vou colocando uma ordem, tentando aceitar a fraca compreensão que me é possível. Aceito também que jamais vou conseguir transmitir, com fidelidade, o que busco em minha alma. Há um rompimento entre as reais possibilidades de iteração entre as almas humanas.

Vontade e fé, para mim, como início de tudo... E a humildade de reconhecer minha vontade de continuar, com tropeços, mas sempre com o intuito de chegar, cada vez mais próximo, de vislumbrar este horizonte de luz, que é a humanidade. Aí se unem vontade divina para criação, vontade humana na continuidade da obra.