APOSTILA 7

CEFET – Diretoria de Graduação - Departamento de

Linguagem e Tecnologia - Curso de Letras

Disciplina: Linguística Histórica

Profa.: Rosane V. G. Beltrão

Aluno: Luís Antônio Matias Soares

ATIVIDADES – APOSTILA 7

1 – De acordo com os conhecimentos construídos a partir dos estudos sobre a “História da Língua Portuguesa”, realizados até o momento, estabeleça uma relação entre a APOSTILA 7 e as anteriores.

O primeiro aspecto observável nos textos é que temos de um lado uma livro escrito em 1981 (Melo) e, de outro, uma obra mais recente (Filho), datada do ano de 2002. Entre a publicação das duas transcorreu um período de tempo que se estende a mais de duas décadas e suficientemente grande para que se tenha processado inúmeras mudanças de pontos de vista, formas de compreensão do tema e de conceitos no estudo da Linguística Histórica.

Um aspecto interessante a se destacar inicialmente reside na utilização dos termos adotados pelos dois autores para designar o latim falado pelas classes superiores e pelos populares romanos. Em certos momentos, por exemplo, Filho substitui o termo vulgar por coloquial e o termo culto pelo termo literário. Melo, no entanto, utiliza-se sempre dos termos latim vulgar e latim culto, apontando constantemente a idea da existência de uma língua melhor e outra pior (um dos sentidos da palavra vulgar).

Apesar de menos detalhista, isto é, de fazer menos uso dos aspectos descritivos os fatos históricos, as análises de Filho baseiam-se em conceitos/concepções econômicos, políticos e sociais que – cada uma a seu modo - influenciaram os estudos e a percepção da língua portuguesa dentro da disciplina linguística histórica.

Já o texto de Melo é recheado de uma infinidade de detalhes nos aspectos informativo-históricos, o que também tem o seu lado interessante. Ele é muito mais descritivo e comparatista - bem como muito mais ufanista em relação às questões de Portugal e da língua portuguesa - enquanto que Filho é mais centrado e se mostra com uma maior isenção em suas análises.

2 – Faça uma leitura cuidadosa dos poemas dos três autores – Bilac, Teles e Veloso. Facilmente você perceberá nestes textos diferentes abordagens sobre a história da língua portuguesa. Apresente um comentário crítico a respeito dessas abordagens.

Adotando, nesse momento, a posição diacrônica muito comum no estudo e nas pesquisas históricas e linguísticas, veremos aqui três distintas visões ou versões a respeito da língua portuguesa e brasileira esboçadas igualmente em três momentos diversos da poesia e da história da língua portuguesa no Brasil.

Temos então três poetas de épocas e escolas literárias diversas.

O primeiro deles é poeta Olavo Bilac, nascido em 1865 e falecido em 1918, pertenceu ao parnasianismo. Esta escola literária se define por uma (A História do Parnasianismo, 2008) estética de caráter quase que exclusivamente poético e originária de uma reação aos abusos sentimentais produzidos pela escola Romântica. O Parnasianismo se formou no Brasil lado a lado com importantes acontecimentos históricos: a abolição da escravatura em 1888 e a Proclamação da República em 1889. Caracterizou-se pela metrificação rigorosa, rimas ricas e preferência pelo soneto.

O soneto de Bilac, denominado “Língua Portuguesa”, é composto por 14 versos distribuídos em dois quartetos e dois tercetos. Nele, Bilac aborda a língua portuguesa tanto sob aspectos históricos quanto sentimentais. O primeiro verso se refere à língua portuguesa, “Última Flor do Lácio, inculta e bela”. O português foi a última língua derivada do latim falado por soldados e mercadores romanos da região do Lácio, na Itália. Bilac nos apresenta o seu amor pela língua através de variados paradoxos linguísticos que vai dispondo aos poucos no corpo do poema, como: “És, a um tempo, esplendor e sepultura” (berço do nascimento de uma nova língua, no caso, o português, e morte de outra, o latim); “Tuba de alto clangor, lira singela, que tens o trom e o silvo da procela e o arrolo da saudade e da ternura” (a língua é rica o suficiente para poder se expressar tanto quando diz coisas grandiosas quanto quando se refere a sentimentos de amor e ternura, como aquela palavra que representa o conteúdo do sentimento da saudade). Para o poeta a língua ainda não fora lapidada o bastante, assemelhando-se ao cascalho ou ao ouro bruto. Decerto que tem já o seu valor, visível na graça e na exuberância de suas expressões, nas canções que entoam os seus músicos e poetas, nas emoçoes e nos versos que exprimem sentimentos, mas pode se valorizar ainda mais, principalmente nas terras brasileiras recheadas de uma beleza ainda selvagem e pouco tocada pela mão do homem. Bilac informa que a lingua foi trazida de Portugal, tranplantada e implantada na nossa terra ao afirmar: “Em que da voz materna ouvi: meu filho! E em que Camões chorou, no exílio amargo, o gênio sem ventura e o amor sem brilho”. Dá finalmente a entender a genialidade de Luís de Camões ao levar a língua portuguesa a exprimir a força e o engenho da epópeia lusitana.

O segundo poema chama-se “Língua” e foi composto por Gilberto Mendonça Teles. O poeta (Wikipédia, 2012) nasceu em Bela Vista, Goiás, a 30 de junho de 1931. É poeta e crítico literário, conhecido, principalmente, pelos estudos sobre o modernismo e a vanguarda na poesia.

“Esta língua é como elástico

Que espicharam pelo mundo”

Nos versos iniciais, o autor informa que o português é uma língua muito comprida tanto no tempo quanto no espaço. Ela se origina e se estende do latim coloquial ou vulgar falado pelos soldados e mercadores romanos, passando por sua transformação/adaptação nas línguas européias (o português, o galego, o espanhol, o italiano, o francês e o romeno), para, em seguida, ser transplantada e implantada nas diversas regiões do mundo: Brasil, África e Ásia.

“No início era tensa,

De tão clássica”

O autor deixa registrada a separação entre o português literário ou culto (também chamado de português padrão, castiço ou clássico) e o português coloquial, popular ou vulgar, utilizado pelos cidadãos no dia a dia.

“Com o tempo, se foi amaciando,

Foi-se tornando romântica,

Incorporando os termos nativos

E amolecendo nas folhas de bananeira

As expressões mais sisudas”

Aos poucos, a língua portuguesa implantada em nosso pais foi-se afastando daquela concepção de língua clássica e culta e se abrasileirou, isto é, adaptou-se ao nosso clima, ao nosso modo especial de ser tropical e menos sisudo que o dos homens da Europa. Teles nos diz que a língua foi se amanciando e amolecendo as expressões sisudas.

Outro ponto interessante advém da mistura das culturas. Nesse sentido, uma série de expressões e palavras de todos os povos ajudaram a criar o português brasileiro. Essas colaborações vieram não apenas dos nativos da nossa terra, mas de todos os homens do mundo, africanos, asiáticos e europeus de todas as nacionalidades, credos, línguas e dialetos que fizeram dessa a sua terra.

“Um elástico que já não se pode

Mais tocar, de tão gasto

Nem se arrebenta mais, de tão forte.

Um elástico assim como é a vida

Que nunca volta ao ponto de partida”

Um língua, portanto, de que não se perde e nem se arrebenta mais, da qual não mais nos perderemos devido ao fato dela já se achar incrustrada no inconsciente e no falar dos brasileiros. E assim pois, exatamente como a vida é, jamais retornará ao ponto de partida, seguindo sempre em frente adiante, se enriquecendo dia após dia nessa miscelânea de culturas que habita entre nós.

O último poema, “Língua”, pertence ao Tropicalista baiano Caetano Veloso. Veloso (Wikipédia, 2012) nasceu em 1942, em Santo Amaro da Purificação. É músico, produtor, arranjador e escritor brasileiro. Com uma carreira que já ultrapassa quatro décadas, o músico construiu uma obra musical marcada pela releitura e renovação.

“Gosto de sentir a minha língua roçar

A língua de Luís de Camões”

Nesse verso inicial Caetano procura tanto retirar a língua portuguesa do assento do falso trono onde ela possa se imaginar encontrar quanto declarar que a língua culta/literária é também bastante bela, já que a língua português que Camões ajudou a criar e usou é de fato aquela designada sob o título de português culto. Mas ao mesmo tempo, Caetano busca também trazer Camões e a língua culta a um ponto mais popular: ele “roça” a própria língua na do autor português, trazendo-a para mais perto de um falar natural e popular.

“Gosto de ser e de estar”

O autor utiliza-se neste verso de dois verbos de extrema importância na nossa língua: os verbos ser e estar. Ambos nos remetem a alguns conceitos filosóficos bastante interessantes e que perpassam por toda a filosofia e o pensamento humano: somos seres do tempo e de fora do tempo e estamos aqui e no futuro, somos agora mas somos também possibilidade de futuro, temos essência (ser) e existência (estar).

“E quero me dedicar

A criar confusões de prosódia

E uma profusão de paródias

Que encurtem dores

E furtem cores como camaleões

Estas confusões de prosódia e profusões de paródias bem que nos servem para encurtar as nossas próprias dores, como numa outra versão da fábula da cigarra e da formiga na qual a música da cigarra ajudava a formiga a prosseguir em seu trabalho sem esmorecer.

"Gosto de Pessoa na pessoa

Da rosa no Rosa"

Referências ao poeta Fernando Pessoa e ao músico Noel Rosa da escola de samba Vila Isabel.

"E sei que a poesia está para a prosa

Assim como o amor está para a amizade

E quem há de negar que esta lhe é superior

E quem há de negar que esta lhe é superior

E deixa os portugais morrerem à míngua”

O último verso é lembrança intertextual de um verso de Mário de Sá Carneiro, poeta português e amigo de Fernando Pessoa que se suicidou bem jovem:

“Se acaso em minhas mãos fica um pedaço de ouro,

Volve-se logo falso... ao longe o arremesso...

Eu morro de desdém em frente dum tesouro,

Morro à míngua, de excesso”

Caetano deixa aos portugais (e seus ais, seus choros e lamentações) morrerem mesmo à míngua de excesso, pois a língua de que ele se utiliza já é bem portuguesa. E é para ela que o próximo verso foi composto:

"Minha pátria é a língua portuguesa"

Referência intertextual ou dialógica a um artigo escrito pelo poeta Fernando Pessoa, denominado: “A minha pátria é a língua portuguesa. Caetano altera e cria ao afirmar que “a minha pátria é a minha língua”, já não tão apenas portuguesa, mas uma mistura de ritmos e modos bem brasileiros. Esta frase ainda guarda certa ressonância com uma outra pertencente ao poeta Olavo Bilac (Wikipedia, 2012): “A Pátria não é a raça, não é o meio, não é o conjunto dos aparelhos econômicos e políticos: é o idioma criado ou herdado pelo povo.”

“Fala Mangueira

Flor do Lácio Sambódromo

Lusamérica latim em pó

Caetano a tudo junta e remexe numa ânsia/mistura de tropicalismo e antropofagia (digerir a cultura dos outros povos e misturá-la com a cultura popular e a identidade nacional): a escola de samba do morro da Mangueira, o português (expresso mais uma vez como a última flor do Lácio; Portugal e América (a lusamérica); o latim em pó e, talvez, uma ressonância ao nosso guaraná em pó.

O que quer

O que pode

Esta língua”

Enfim, tudo o que quer é exatamente o que pode esta língua. E ela pode chegar aonde quiser...

Referências:

- FILHO, Paulo Bearzoti. História externa da língua portuguesa. In: _________ Formação linguística do Brasil. Curitiba: Nova Didática, 2002. p. 07-14. Capítulo 1.

- MELO, Gladstone Chaves de. Iniciação à filologia e à linguística portuguesa. Rio de Janeiro: Ao Livro Técnico, 1981.

- Olavo Bilac. Disponível em http://pt.wikipedia.org/wiki/Olavo_Bilac Acesso em 27 de abr. de 2012

- A história do Parnasianismo. Disponível em

http://www.jornallivre.com.br/156866/historia-do-paranasianismo.html. Acesso em 27 de abr. de 2012

- Gilberto Mendonça Teles. Disponível em

http://pt.wikipedia.org/wiki/Gilberto_Mendon%C3%A7a_Teles Acesso em 28 de abr. de 2012

- Caetano Veloso. Disponível em http://pt.wikipedia.org/wiki/Caetano_Veloso Acesso em 28 de abr. de 2012