Da primeira célula até nós

Discussões e debates acerca da origem da vida sempre levantaram muita polêmica. Existem muitas pessoas que por questões ideológicas ou religiosas não gostam nem de estar perto quando esse assunto inicia, mas, há outros que, por diversos motivos, gostam de ouvir e compartilhar idéias acerca desse tema tão complexo.

Nesse texto, eu pretendo tratar de informações presentes em diversas ciências modernas (biologia, física, química, geologia, paleontologia etc.) que apresentam a origem da vida, partindo do surgimento da primeira célula até as plantas e animais dos dias de hoje.

Aqui, eu vou citar e descrever resumidamente as principais etapas, eventos e/ou propriedades das transições mais importantes nessa longa trajetória.

Os cientistas acreditam que o nosso Universo se formou há 14-15 bilhões de anos. Já, segundo pensam, o nosso sistema solar teria surgido bem mais tarde, há 5 bilhões de anos, E a Terra só mais recentemente, por volta de 4,6 bilhões de anos.

Todo esse processo, desde o início do Universo até o surgimento de nosso planeta, foi recheado de inúmeros eventos e acontecimentos que estão sendo investigados exaustivamente pelos cientistas, na busca de melhores explicações.

A Terra primitiva possuía um aspecto bastante diferente quando comparado ao que temos hoje. Naquela época as condições eram bastante hostis e difíceis. A atmosfera era rarefeita, não havia oxigênio e, portanto, não existia uma camada de ozônio (O3) para bloquear os raios do sol. Dessa forma, os raios ultravioletas castigavam a Terra. Além disso, havia inúmeras erupções vulcânicas e grandes choques de meteoros sobre a superfície do planeta.

Nesse ambiente caótico, os mares eram os lugares mais adequados para o surgimento da vida. Segundo a famosa teoria do cientista russo Aleksandr Oparin (1894-1980 dC), os mares primitivos eram cheios de moléculas orgânicas e inorgânicas, que se agrupavam naturalmente formando um número cada vez maior de itens e compostos. E ali, naquela ambiente, há cerca de 3,8 bilhões de anos, apareceram os primeiros sinais de vida.

As primeiras células eram muito simples. Elas não possuíam núcleo (células procariontes), nem organelas membranosas. Esses primeiros microorganismos eram heterotróficos (ou seja, elas não tinham a capacidade de produzir seu próprio alimento, de forma que eram obrigados a retirar seu sustento do meio ambiente), além disso, não utilizavam oxigênio (células anaeróbicas), pois este gás ainda não existia na atmosfera.

As células eucariontes, mais complexas que as primeiras células procariontes, tinham núcleo individualizado pela membrana nuclear e possuíam também diversas organelas (retículo endoplasmático liso e rugoso, ribossomos etc.), que até então eram ausentes nas suas percussoras. Essas células eucarióticas só vieram a surgir bem mais tarde, há cerca de 3 bilhões de anos.

Á medida que as células primitivas heterotróficas começaram a esgotar as fontes de moléculas orgânicas e inorgânicas, necessárias a obtenção de matéria e energia para sua sobrevivência, elas se viram diante de um grande problema. Daí em diante, tais células tiveram de desenvolver mecanismos próprios de geração de energia e de síntese de moléculas para garantir sua sobrevivência. Foi nesse momento que surgiram as células autotróficas, que tinham a capacidade de produzir seu próprio alimento.

Existem inúmeras evidências fósseis de que as células autotróficas passaram a produzir oxigênio, o que causou uma grande extinção de outras células que não suportavam esse gás. Na costa oeste da Austrália existem colônias de bactérias que formam “estromatólitos” (pequenos pilares de calcário), que evidenciam o surgimento dessas primeiras células produtoras de oxigênio.

O surgimento dessas “novas células produtoras de oxigênio” contribuiu enormemente para a mudança das condições do planeta, pois o oxigênio trouxe uma série de modificações na composição da atmosfera e passou daí em diante a ser o principal gás utilizado por um grande número de seres unicelulares e pelos animais.

Após a diversificação e proliferação dos microorganismos, o próximo passo nessa longa historia foi o surgimento dos seres multicelulares (seres compostos por muitas células). Até então, todos os seres eram criaturas minúsculas envoltas por uma membrana bastante frágil. De algum modo, as células criaram uma linguagem para trabalhar em equipe, surgindo daí o primeiro ser pluricelular. Isso aconteceu por volta de 1,7 bilhões de anos. Presume-se que alguns eucariotos unicelulares tenham formado agregados multicelulares que parecem representar uma transição evolucionária entre as células individuais de vida livre e os organismos multicelulares. Provavelmente foram colônias de protozoários que deram origem aos animais. Já as colônias de algas unicelulares deram origem às plantas.

Os primeiros animais podem ser considerados seres bizarros e primitivos. Esses primeiros animais eram seres sem tecidos verdadeiros, não tinham cabeça, nem cérebro, nem boca, nem nenhum órgão ou esqueleto. Na verdade, eram apenas um amontoado de células, muito semelhante às esponjas de hoje.

E conforme mostram os registros fósseis, a vida foi se especializando e se diversificando, dando origem à milhares de novas espécies. Por volta de 670 milhões de anos atrás surgiram as primeiras água-vivas, que podem ser considerados os primeiros animais de vida livre. Enquanto que as esponjas ficavam fixas na superfície de rochas e no fundo dos mares, as água-vivas podiam nadar livremente, vencendo as correntezas e distâncias entre as localidades.

Mas o processo evolutivo não parou nas esponjas e água-vivas, ele seguiu adiante em ritmo acelerado, principalmente no período conhecido como Cambriano que durou aproximadamente 70 milhões de anos, entre 570 e 500 milhões de anos atrás.

Nesse período ocorreu literalmente uma “explosão de vida” em todos os mares do planeta. Esse importante fenômeno que ocorreu nesse período é realmente intrigante, pois houve uma proliferação de diversas formas de vida, que passaram a povoar os mares daquela época. No Cambriano surgiram milhares de espécies de grupos que hoje sabemos são os antepassados de artrópodes, moluscos, vermes, anelídeos e peixes cartilaginosos, entre outros.

O período Cambriano ficou conhecido como a “Idade dos Invertebrados”, pois nele surgiram as principais linhagens dos atuais seres invertebrados presentes na Terra. Após esse período em que os invertebrados dominaram, todos os períodos seguintes ficaram conhecidos pela predominância de formas de vida de animais que têm coluna vertebral (grupo dos vertebrados).

Os períodos Ordoviciano (505 a 438), Siluriano (438 a 408) e Devoniano (438 a 360) formam a “Idade dos Peixes”; os períodos do Carbonífero (360 a 305) e Permiano (305 a 286) são a “Idade dos Anfíbios”; os três períodos seguintes, Triássico (286 a 208), Jurássico (208 a 144) e Cretáceo (208 a 65) formam a “Idade dos Répteis”; e por fim, os dois períodos seguintes, Terciário (65 a 5,3) e Quaternário (5,3 - atual) são considerados a “Idade dos Mamíferos”.

Vale relembrar que o Homem só veio a aparecer nos últimos 600 mil de anos, o que realmente é algo ínfimo dentro dessa gigantesca escala de tempo que trata da origem da vida até os dias atuais. Um exemplo bastante comum e que expressa muito bem o quanto corresponde nossa existência nessa trajetória da vida, trata-se da analogia que diversas pessoas gostam de fazer comparando o surgimento do Universo e da vida na Terra a um dia de 24 horas. É certo que pudéssemos resumir a vida na Terra em apenas 24 horas, o aparecimento do Homem só ocorreria no último minuto, por volta das 23 horas e 59 minutos do dia.

Se levarmos em consideração essa ínfima presença do Homem nessa longa jornada da vida, desde seu início até nossos dias, nós podemos tirar daí uma lição importante: todos nós (microorganismos, plantas, animais e humanos) temos uma origem comum. E, nessa longa trajetória, nós, seres humanos, somos os “novatos”, o que faz, portanto, que cada um se posicione com mais respeito em relação àqueles que já estavam aqui antes de nós e que, possivelmente, permanecerão aqui por muito mais tempo, mesmo após termos partido.

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Publicado no Jornal Atitude, edição n. 15, p. 02, de 13/11/2007. Gurupi – Estado do Tocantins. Disponível em:

http://www.atitudetocantins.com.br

Giovanni Salera Júnior

E-mail: salerajunior@yahoo.com.br

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Giovanni Salera Júnior
Enviado por Giovanni Salera Júnior em 05/02/2007
Reeditado em 30/12/2011
Código do texto: T370346
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