A ANGÚSTIA FRENTE A MORTE E O CONSOLO DA VIDA ETERNA

Muitas vezes agimos como se não fôssemos finitos e sujeitos as vicissitudes da vida, como se nossa existência não fosse breve e cheia de imprevistos. Há seres humanos que tentam fugir da angústia da finitude apenas tentando esquecer do fluir da vida, fluir enquanto processo inerente a todos os seres vivos que participam do espetáculo trágico e arrebatador da natureza; mas essas pessoas, entorpecidas pelos mecanismos criados para o entretenimento barato e nada edificante, acabam correndo o risco de se iludirem agindo como se sua jovialidade fosse eterna.

Há muitos jovens que vivem olhando para si mesmos como seres indestrutíveis ao agirem como se estivessem para além das leis que governam o mundo, o que é uma grande mentira, pois a senilidade chega para mostrar que até os homens mais fortes, os que esbanjam grande capacidade física para as diversas atividades que exigem vigor corporal, não escapam do maior ensinamento da vida, qual seja: de que tudo o que é existente está vulnerável as transformações e as mudanças provocadas pelo tempo que habita em cada um de nós.

Causa uma certa melancolia, além da angústia que invade nossas vidas a todo o momento, quando temos a capacidade de nos debruçar (no sentido de colocar sempre em pauta) sobre o inevitável, ou seja, de que um dia iremos morrer, por onde somos levados a reconhecer nossa condição de seres perecíveis e vulneráveis a finitude.

Porém quando vivemos com a consciência de que um dia não viveremos mais nesse mundo, com uma consciência capaz de encarar de frente os espectros da fragilidade inerente aos seres humanos, ao menos podemos avaliar e rever nossos valores, nossas crenças e tudo aquilo que rodeia nossas vidas. De agora em diante, a vida passa a ganhar um outro significado, pois somos capazes de dar um outro valor as nossas experiências, além de sermos mais críticos ao tempo que desperdiçamos com atividades e relações frívolas, relações essas que nunca levam a lugar algum; mas, em contrapartida, mais audaciosos e exigentes no que diz respeito ao que verdadeiramente faz bem para nossa constituição psíquica e para o enriquecimento de nosso ser.

A morte, tão próxima de todos nós seres humanos, sempre suscita uma inquietação e um alvoroço em torno dela, pois é ela quem nos convida a um mergulho reflexivo e profundo sobre a nossa existência no mundo... mas sobre ela nunca é demais, creio eu, discorrer; ela é, sem dúvidas, uma questão filosófica por excelência mas, sobretudo, um assunto que interessa a todos aqueles que tem uma espiritualidade elevada; pessoas assim, de grande riqueza espiritual, geralmente buscam na vida terrena uma oportunidade de crescerem espiritualmente e logo após cumprirem sua missão (quando vierem a falecer) vislumbrar o que sempre buscaram em vida: a compreensão plena do mistério que orientou em vida suas almas sedentas pelo eterno, almas que sempre viveram com fome de eternidade.

Os grandes pensadores que passaram pelo mundo, principalmente aqueles de inspiração mística e religiosa, deram extrema importância à questão da morte e uma ênfase na promessa consoladora da eternidade. Houve pensadores, tais como Platão e Santo Agostinho, que produziram obras inteiras dedicadas a imortalidade da alma, enfatizando, por outro lado, a corrupção da matéria, ou seja, a finitude que o nosso corpo está sujeito, bem como a imortalidade da alma. Já em relação aos poetas, não podemos esquecer de Dante e seu mergulho nos mistérios do além túmulo através de sua criação artística que o imortalizou na literatura universal; na obra-prima, A Divina Comédia, escrita em versos, narra a história do próprio poeta pelo além túmulo, onde inicia sua estadia no inferno ao lado de Virgílio, seu grande guia; e termina sua jornada no paraíso ao lado de sua amada, Beatriz, nome cujo significado tem haver com beatitude.

Essas e muitas outras criações humanas que tratam sobre a eternidade e o além túmulo revelam o quanto a problemática da morte e o que está para além desta, povoa o sonho e a vida dos homens geniais que passaram pelo mundo, homens esses que foram responsáveis por produzirem obras memoráveis...De fato, o que está para além dessa vida sempre gerou fascínio e inquietação em todos aqueles dotados de riqueza de alma; ou melhor, em todos aqueles seres humanos que não se contentaram com a alienação que obstrui a nossa existência, e que, tampouco, se aquietaram quando em algum momento de suas vidas foram tomados pela angústia inerente ao seu próprio existir.

Se pararmos para pensar na questão da morte, veremos que a todo momento sentimos a sua presença agindo sobre nossas vidas, ora através das mudanças corporais bruscas, ora através das perdas dos entes que amamos que, quando menos esperamos, deixam de existir espaço-temporalmente. É o que basta para concluirmos um tanto melancolicamente que foram apenas vultos que passaram pelas nossas vidas, muitas vezes sem termos aproveitado os melhores momentos da vida com essas pessoas, proporcionando a elas o que de melhor podemos oferecer de nós mesmos, e reciprocamente extrair o que de bom podemos tirar dessas pessoas que, como uma chama fugaz, se extinguiram inesperadamente de nossas vidas.

É incrível quando paramos para refletir que a experiência de vida extraída pelos ensinamentos proporcionados pelos homens mais sábios, é pouco valorizado em nossa época. Geralmente, quem sofre muito com essa situação são os idosos. Pois muitos deles, junto com sua sabedoria e um banco de dados valioso para os jovens, a cada dia que passa arcam com o prejuízo de serem abandonados pela sociedade em que vivemos, uma sociedade que prioriza muito mais o jovial do que o senil, além de ser o imediatismo a sua palavra de ordem ao invés da sábia prudência da espera (sendo esta uma postura típica de quem é mais velho e maduro).

De fato, a questão do envelhecimento se torna algo um tanto dramático para a maioria das pessoas nessa fase da vida, pois além de terem que se debruçar com a face da finitude e saberem que sua vida logo irá se esvair, acabam sendo discriminadas pela nossa sociedade devido à sua condição, uma sociedade que desvaloriza os idosos e trata a questão da morte com indiferença. A morte se torna um tabu; ou então, um assunto um tanto intocável, quando não é tratado de forma superficial e sem seriedade.

Não podemos deixar de esquecer, quando tratamos de um assunto tão sério quanto a morte e tudo o que tem haver com ela, o quanto os ensinamentos de Cristo, O messias, servem como um grande e fantástico consolo para os indivíduos que vivenciam, em muitos momentos de suas vidas, uma angústia que os faz ter consciência de que um dia não-serão-mais-no-mundo; e, ao mesmo tempo, uma profunda esperança de que possivelmente uma vida melhor aguarda todos aqueles que foram bons e tementes a Deus durante a sua existência. A maior exultação para quem vive da fé em Cristo, é a certeza íntima de que no além-túmulo prevalecerá o coroamento da justiça, do amor e da vida eterna!

Se não encontramos mais nada nesse mundo que nos preencha contra o vazio, na medida em que nos deparamos com o inevitável que provém das fatalidades; ou na medida em que vivenciamos episódios de angústia quanto ao fato de existirmos, ao menos temos a oportunidade de trilhar os caminhos da fé e, assim, descobrir que as palavras de amor e de verdade (reveladas pelos homens que testemunharam os milagres de Deus) são indispensáveis para nos oferecer um amparo e um bálsamo para as nossas vidas. A partir daí conseguimos nos orientar no mundo, porquanto somos levados a crer que depois de nossa breve passagem pelo palco trágico da existência, viveremos eternamente próximos de Deus. Vivendo como homens livres e responsáveis, estamos mais próximos de encontrar o verdadeiro significado para a prática da benevolência, da virtude, da caridade, além de nos manter perseverantes na fé e na prática da honestidade, especialmente quando buscamos estabelecer uma relação mais íntina com DEUS, já que é por meio dele que encontramos uma profunda razão para estarmos vivos.

Alessandro Nogueira
Enviado por Alessandro Nogueira em 22/02/2017
Reeditado em 26/11/2018
Código do texto: T5920382
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2017. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.