Um Olhar Anônimo

para além da oquidão do morro

para além do brilho opaco estampado

nos olhos dessa gente ao logro;

para além da esperança incerta

ó Deus, vigiai o vosso brado povo!

para além dos beirais lajeados

eis-me, a espiar o mundo dos

altos pendais; para além da mansidão

abundosa em que as águas

do mar se movem, vejo o ralo

sugadouro por onde passam sonhos

e vidas num sumidouro funil.

para além do meu alter ego servil

onde a esperança e o desespero

já não me distinguem um do outro,

ninguém me viu. Melhor assim.

eu gosto do oco mundo que habita

em mim.

Minha residência não

quer visitas, quer integridade para

minha vã solitude. Quiçá

vai ver é puro egoismo módico

à aversão que sinto

se eu disser que o meu arqui-inimigo

vive às custas de quem se recusa

à inelutável civilização ignóbil.

não é muito louco tudo isso?

ora, pois, como pode ser o amor tão

ardiloso? Eu, por exemplo, fiel devoto

e incansável, amo este povo!

Eu sou o povo! E amo, como ninguém

todas as manhãs quando acordo.

Poesia Tofilliana

23/17 Poema escrito em escalada

ao Morro dois Irmãos - Vidigal

Poesia Tofilliana
Enviado por Poesia Tofilliana em 24/03/2017
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