A VOZ DO ESPIRITUAL

A maioria dos poemas que circulam pelos incontáveis recantos da net não contém Poesia; o que se nos depara aos olhos são apenas versos, nada mais. Singelos versos em que a Dama da Estética não comparece, visto que ela não é um bem estético passível de ser usualmente encontrável. A Poesia é o mais alto patamar do Belo, o de mais alta codificação de linguagem. É ela quem encontra aquele que por si é capaz de traduzir e compreender o seu hermetismo de linguagem e sentido, e, portanto, diferenciado do que temos no dia a dia coloquial. O gene da universalidade quanto à linguagem concede à Poesia, em inúmeros casos, a transcendência, que vai muito além do palpável, do tocável, do tangível. O poema é a materialidade da Poesia, o seu corpo de palavras, o que lhe dá um existencial de vida e vigor. É este espécime metafórico e codificado que nos encanta em sua materialidade de conjunto verbal, no qual desponta (e predomina), necessariamente a IMAGEM. Por vezes, esta é tão perfeita e real que aparenta ser COISA. Aliás, nesses tempos de modernidade líquida, do individualismo, do consumismo, das relações volúveis, há milhões de humanos que também chegaram a esse patamar objetal ou de coisificação. Portanto, têm preço, são objetos de troca ou compráveis pelo vil metal. E nestes, a sensibilidade é somente legenda de fachada. E sabem vocês que, em regra, os objetos são desejáveis e compráveis devido aos critérios de utilidade, da utilização corriqueira, contumazes de avaliação objetiva. Eu só quero o toque humano que vejo, a todo o momento, mais e mais se perder. E o túnel permanece sem a luzinha... E, afinal, o espiritual tem preço, é suscetível de avaliação pecuniária?

– Do livro OFICINA DO VERSO, vol. 02; 2015/17.

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