ALEGORIA DO EXISTIR

O segredo de tudo parece-me ser o Tempo e o seu inexorável transcurso, porque é única esta (aparente) armadura corpórea que hoje vestimos. Temos o desafio de fazer o que for possível para marcar o itinerário. Portanto, é necessário aproveitar o dom e o estro da Criação que acreditamos portar como cédula de individualidade. Sempre há algo a deixar como ferrete da passagem deste sopro do senhor Tempo, enquanto estivermos vivos. Depois, tudo é incógnita. Portanto amado escriba, trata de priorizar a tatuagem de tuas vivências fáticas, bem como o que a farsa, a fantasia e os sonhos fizeram tessitura em ti, propondo a Poesia. A posteridade vai te agradecer. Em tua lápide poderás escrever: EU FIZ O QUE PUDE. Ao menos, se o véu da imortalidade literária não te bafejar, os teus afetos mais íntimos saberão que não viveste em vão: escreveste o teu testamento verbal. Cuidado, pois o tempo de passagem é imprevisível. Por vezes, fica somente o rastro do pó original de nossa existência, marcando, no retorno, somente o doce regaço do Absoluto. Se Ele estiver disponível quando de tua chegada à outra margem...

– Do livro O PAVIO DA PALAVRA, 2015/17.

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