De Vampiros e Zumbis

Muito se conta sobre esses estranhos seres que habitam o imaginário humano. Acredito serem produtos de mentes criativas com o objetivo de distrair o leitor consumidor, e que, inexplicavelmente, fascinam a nossa imaginação há muitos séculos.

Ceticismo à parte, outro dia, em uma conversa de mesa de bar, um amigo levantou argumentos que me deixaram menos crédulo da minha convicção sobre a inexistência desses personagens de livros e filmes.

Disse meu colega de copo, que nosso planeta está infestado de vampiros e zumbis, evidentemente sem os exageros da ficção, na devida proporção do real. Eles estão por toda parte, aglomerados ou isolados, com diferentes doses de insanidade. E para explicar sua afirmação, ele expôs suas características e distinções, com a narrativa que passo, a seguir, a descrever.

Existem semelhanças e diferenças entre esses seres.

Vampiros e zumbis são parasitas, que dependem, para sobreviver, de outro organismo, dele obtendo alimento (direta ou indiretamente) e causando-lhe dano. São pouco capazes de sustentarem-se com trabalho digno e muito menos de produzirem algo em benefício da sociedade.

Destrutivos, eles podem sugar toda energia (entendendo-se aí bens materiais e imateriais) que estiver disponível no hospedeiro. O fazem, conforme vão necessitando, até o esgotamento total da fonte, ou quando dela são expulsos por alguma reação extintiva de sobrevivência.

Ambos são extremamente egoístas, com comportamento psicopata. Desprovidos de qualquer sentimento moral ou afetivo, são capazes de praticar crimes cruéis para atingir seus objetivos. Para eles, as leis foram feitas para serem desobedecidas.

A meta de sucesso das duas espécies está além do enriquecimento financeiro. A busca por dinheiro é somente meio para atingir seus objetivos maiores, os quais são diametralmente opostos. O desejo maior dos zumbis é permanecer na sua zona de conforto, enquanto a aspiração dos vampiros é dominar o mundo.

Muitas são as diferenças entre eles.

Vampiros são inteligentes, zumbis têm baixo QI. Essa distinção os coloca em diferentes graus de atuação.

A inteligência alça os vampiros a nível mais requintado. Os mais gananciosos são geralmente encontrados em altas esferas sociais. Bem vestidos, de boa retórica são hábeis em conquistar a confiança e até admiração dos mais incautos. Também existem os simples, que se contentam em sugar apenas poucos hospedeiros, geralmente pessoas próximas e familiares, mas sempre com persuasão, que é a sua maior habilidade. A sobrevivência, para eles, é facilmente alcançada, dada sua capacidade de convencimento. Conseguem muito como pouco esforço, mas querem sempre mais.

Já os zumbis são embrutecidos, sem nenhuma eloqüência, se preocupam somente com a sobrevivência imediata. São incapazes de planejar para longo prazo. Seus interesses estão no “aqui e agora”. Agem compulsivamente sempre buscando satisfazer seus extintos animais, principalmente em saciar a fome, tanto em alimentos como em vícios, pois são propensos a criar dependência em estupefacientes. São geralmente sujos, de fortes odores, e podem ser encontrados em áreas pobres, aglomerados ou isolados em locais que saciam suas poucas necessidades. Uma vez satisfeitos, são inofensivos. São domesticáveis, desde que bem alimentados, podendo até exercer pequenas funções, que dispensem o uso da racionalidade. Mas podem também se tornar violentos e até mortíferos, quando famintos. A vida para eles não é fácil, pois têm dificuldade em obter o sustento, dado o seu baixo grau cognitivo.

Após ouvir atentamente esse bem humorado relato, comecei a imaginar quantas pessoas se assemelham com as características nele expostas. Realmente existem muitas figuras que poderiam ser consideradas vampiros ou zumbis.

Nas esferas do poder podemos identificar diversos vampiros, a exemplo dos expostos pela mídia, nos casos de corrupção. Vemos inúmeros personagens utilizando cargos públicos sem qualquer intenção de beneficiar além de si próprio. Os zumbis também podemos identificar em muitos habitantes das “cracolândias”, em alguns freqüentadores de festas raves, ou solitários, em residências familiares, sob os bons cuidados de parentes compadecidos.

Por certo, agora com menos teor alcoólico, vejo essas figuras mitológicas como metáforas da vida real. Penso que foi um bom papo com margem à reflexão, resolvi compartilhá-lo, relembrando uma indagação recorrente: a vida imita a arte ou a arte imita a vida?.

De qualquer forma, por precaução, fiquem alerta para ataques de vampiros ou zumbis.