TODO CRIAR TEM SUA GENIALIDADE

“Nenhum poeta é dono de sua poesia... Nem o ego, que mesmo gritando se apropria dos versos. A liberdade da escrita, esta impõe limites... Mas se há imposição, onde está a liberdade?”. Maria Justiniano. – Pelo Facebook, em 22 de junho às 15h20min.

Todo criar tem sua genialidade. O grau desta vai depender do poeta-leitor, que lhe dará vida e sentido próprio. Nem todos atingem o mesmo patamar. Parece-me ser este um bom começo de conversa para a temática da criação e sua comunicabilidade... Estimada Maria Justi: não entendi bem o que quiseste dizer com a interlocução acima! Liberdade de quê e para quê? Liberdade para criar como quiser sobre o fundo, conteúdo, assunto e forma ou formato, é a isto que te referes? O poeta-autor é livre para criar e apresentar o seu rebento falante em Poesia ou Prosa: a vertente escrita do que se coaduna com cânone crítico-analítico de determinado momento estético, que vai dizer ou não da beleza da peça poética, do talento do criador (esteta), de sua oportunidade ou ousadia para contrapor-se aos valores estéticos vigentes, etc. Enfim, o poeta pode construir um bom poema, com cuidadoso nascimento e feitura, tal um artesão cinzela a sua ourivesaria a partir da pedra bruta, ou, então, produzir um aleijão que sobrevém de um repentino soluço do instinto... Também é assim que pode transcorrer a tarefa de um escultor com o seu cinzel, burilando até conseguir um patamar de beleza universal ou estancar nos entornos do arrabalde, suas misérias e sarjetas insepultas, nunca pretendendo ir além para a conquista do gosto alheio. Tudo isto é possível ocorrer, dependendo ou não da genialidade criativa... Entendes o esforço de comunicar àquele que se dispõe a fazer o poema a teor de seu momento, em sua contemporaneidade formal? Desta sorte, o haicai é um exemplar de formato tradicional há vários milênios; o menestrel (trovador) provençal e sua trova que chega à península ibérica com a quadra portuguesa, ainda na Idade Média; o neotrovismo brasileiro que se revela lá pelos anos 60 do séc. XX, com Luiz Otávio; o soneto com os seus mais de 700 anos de existência, a partir de Petrarca; a modernidade formal, no Brasil, a partir da Semana da Arte Moderna, em 1922; os registros do concretismo e da poesia práxis, e, enfim, o pós-modernismo do séc. XXI, em muitos poetas da contemporaneidade. Tudo isto são tatuagens da passagem do homem no seu tempo de viver – em literatura poética – neste planeta Terra. Cada um tem a liberdade para criar como bem lhe aprouver... Bem, porém, em todo este relato estou falando daqueles criadores que têm efetivamente compromisso com a Poética do seu tempo frente aos cânones vigentes. Há muitos, mas muitos mesmo, que nada disso interessa ou consideram, principalmente graças ao individualismo egocêntrico e que se consideram geniais em cada uma de suas pretensas obras em Poesia; sendo que cada poema de sua lavratura é a (sua) última obra-prima, mesmo que ninguém ou poucos o avaliem assim. Afinal, conseguimos esclarecer alguns detalhes sobre a temática em causa?

– Do livro OFICINA DO VERSO: O Exercício do Sentir Poético, vol. 02; 2015/17.

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