2016: Uma Odisseia Tecnológica

DA AURORA DO WALKMAN AO CREPÚSCULO DOS SMARTPHONES

Desde o final da década de 1990 e começo dos anos 2000 notei a popularização dos aparelhos de telefone celular. No último ano do Ensino Médio, acredito que haviam dois ou três alunos que os possuíam e raramente atendiam ligações em sala de aula (e quando o faziam, eram bem discretos, ainda havia um certo temor quanto a reação de professores e de outros colegas).

Passados mais alguns anos, praticamente todos tinham um aparelho desses. Meus pais incentivavam que eu também comprasse, mas era relutante à ideia, diante de uma maior insistência, fiz o seguinte acordo: se encontrasse um celular, novo, que custasse R$ 50,00, compraria (se bem me recordo, os aparelhos custavam a partir de R$ 120,00 nesta época). Para meu azar, uma prima trabalhava na Vivo e conseguiu a façanha de me vender neste preço, devido a posição que ocupava. Trato é trato…

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KYOCERA K 112

Acabei pegando o aparelho acima, de tela monocromática (mas que possuía uma bateria que durava uma semana ou mais, difícil de acreditar, não?). Era bem “gordinho”, mas ainda sim de um tamanho que cabia tranquilamente no bolso (jamais fui adepto daqueles “coldres” cafonas). Me serviu por um bom tempo, mas acabou tendo um problema no display. Pelo que me recordo, o utilizei mais para ligações, devo ter usado muito pouco a função de SMS.

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MOTOROLA W175

Graças a mesma prima que trabalhava na Vivo, consegui pegar um novo aparelho. Mas já haviam se passado alguns anos, então é óbvio que não iria me custar apenas R$ 50,00, então consegui o aparelhinho da Motorola pelo "exorbitante" preço de R$ 60,00! (Hoje, não mudou muito, basta acrescentar um zero para comprar um aparelho mediano). Eventualmente, utilizava SMS, mas houve uma época em que usei muito a função de agenda/alarmes, que me foram muito úteis. O aparelhinho era tão moderno que até dava para programar Ring Tones, pegando suas “notas” na Internet. Variava meus toques entre Rocky e Star Wars :-)

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WALKMAN SPORTS

Sempre gostei muito de música. Ouvia discos e K7 em casa. Mas queria entrar também na onda da portabilidade. Quando criança tive um daqueles Walkmans amarelos gigantes Sports, mas como era um pirralho, acabava mais usando ele em casa mesmo, ligado a uma fonte universal ao invés de pilhas. Observando a foto acima, me lembrei agora que ele não possuía nem mesmo função de rebobinar a fita. Para fazer isso, o macete era virar a fita e apertar o botão de avanço FF. Também contava com um alto-falante embutido (felizmente, naquela época não tínhamos o estilo musical que está em voga).

Na adolescência, peguei um da marca Firstline, que já contava com o incrível recurso auto-reverse (não era necessário virar a fita para ouvir seu lado B). E, já adulto, aderi a um Discman da Panasonic, que contava com recurso anti-impacto (que evitava “pulos” na música) e a sensacional função de ler arquivos de música em MP3, o que possibilitava armazenar dezenas de álbuns num único CD.

Ainda que o Discman fosse algo bem legal, era um troço tão grande quanto um Walkman, que não cabia no bolso (E, jamais, aderi às pochetes). Mesmo depois de aposentá-lo como player “de rua”, ele acabou me servindo por um bom tempo como CD Player em casa, onde o ligava em caixas de som portáteis.

A tecnologia evoluiu e a bola da vez eram os MP3 Players. Quando se popularizaram no Brasil, eram tão pequenos quanto os primeiros Pen Drives e necessitavam de apenas uma pilha. Nessa primeira onda, resisti bravamente com meu Discman (Sobretudo, porque suas capacidades de armazenamento eram extremamente baixas, dando larga vantagem aos CD-R nesse quesito).

Então vieram os chamados MP4 (que acabaram descambando em um quiproquó, com os MP5, MP6, MP7 etc.), aparelhos semelhantes aos MP3 Players, com o acréscimo da possibilidade de assistir vídeos.

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ORANGE OR-748

Acabei pegando o aparelho xing ling acima. A marca Orange já entregava o que o aparelho era: uma cópia descarada do design do primeiro modelo de iPod Nano da Apple. Como a maioria desses aparelhos xing ling, ele trazia muitas funções, uma me surpreendeu à época: era possível criar, no PC, através de um software, um arquivo com legendas contendo a letra da música. Dava um trabalhão para sincronizar com o tempo dos versos, mas o resultado era bem legal. O lado negativo, como sempre, era na qualidade e durabilidade. Em poucos meses começou a dar mal contato no conector do fone de ouvido. Um amigo, que trabalhava com eletrônica, me quebrou o galho de refazer a solda duas vezes, mas uma hora não teve mais salvação.

Sabendo que os xing lings não duravam muito, resolvi pegar outro MP4 da Multilaser (uma das piores marcas que conheço), serviu durante um tempo, mas, desta vez, o que danificou foi o botão de avanço de faixa. Em 2008, descobri a mídia Podcast. São como programas de rádio, mas disponibilizados em MP3. Às vezes, estava ouvindo e não entendia alguma coisa que era falada e, para retroceder alguns segundos, era preciso apertar e segurar… e, sem querer, às vezes eu dava apenas um toque e voltava a faixa inteira! Eis que segurava o botão de avanço por vários minutos, o que fez com que o aparelhinho não durasse muito. Tanto ele, quanto o antigo MP4 da Orange, foram relegados à função Pen Drives de 1 GB e 2 GB, respectivamente.

Sendo um grande consumidor de podcasts, resolvi desistir destes aparelhos de baixa qualidade, mas os iPods da Apple eram caríssimos. Por sorte, consegui uma boa oportunidade de negócio com um colega de trabalho, que possuía um iPod Nano. Primeiro, ele me deixou fazer um test drive. Depois, acabei convencendo-o a me vender por um preço simbólico, o mesmo valor pago em meu primeiro celular (o aparelho era de “terceira mão” já, estava bem ralado e com a bateria viciada).

Valeu a pena! Até hoje, considero este o melhor iPod de todos os tempos, por seu design, tamanho compacto, tela colorida e a Click Wheel. É inegável que o Touch Screen é algo que revolucionou a indústria de smartphones, mas só quem já usou a Click Wheel sabe o quão boa ela era como interface dedicada para ouvir música! Sem contar os recursos de sincronização com iTunes, de músicas, podcasts e até mesmo agenda do Outlook!

Apesar de a Click Whell ser um botão físico, com quatro posições, também era sensível ao toque, de certa maneira. Ao deslizar o dedo em movimento circular, esse mesmo botão aumentava ou diminuía o volume, pressionando o botão central, era possível avançar ou retroceder o tempo da faixa e, a cada giro, havia um incremento na velocidade, fazendo com que esta função caísse como uma luva nos podcasts, que tinham duração longa, 1h, por exemplo. Não bastasse isso, a Click Wheel também era excelente para navegar rapidamente em listas, de forma até superior ao Touch Screen, por ser um movimento em loop, em círculos. Contava com um som que dava um feedback.

O iPod Nano, apesar de velho, durou um ano na minha mão, antes de “morrer” (mais tempo do que os outros dois MP4 juntos!). A qualidade e, principalmente, a durabilidade foi a primeira impressão que me tornou grande admirador dos produtos Apple e, ainda que fossem caros, no frigir dos ovos, o valor gasto ao longo dos anos com vários MP3/MP4 vagabundos poderia se igualar ou ultrapassar o valor de um aparelho da Apple.

Com isso, decidi a comprar um iPod Nano novo, na sua atual geração (à época, 4ª geração). Fui até uma loja Fnac, que permitia testar o aparelho, sem compromisso, nos stands de produtos. Fiquei plenamente satisfeito, era exatamente aquilo que eu queria! Levei dinheiro no bolso suficiente para comprar o aparelho à vista. Mas acabei saindo da loja de mãos vazias.

Explico: no momento em que estava entrando, haviam alguns garotos de rua na porta da loja. Não sei se, antes, haviam feito algo de errado ou se queriam apenas entrar, mas o segurança havia corrido na direção deles, dizendo: que se eles voltassem ali novamente, “iriam ver”. De um lado, eu estava com o dinheiro e a vontade prontos para satisfazer minha “necessidade” de consumir. De outro, aquele imenso contraste: em meio a tanta riqueza, tanta pobreza. Aquilo para mim não era normal, algo estava errado, muito errado. Desisti de comprar o aparelho, mesmo querendo e podendo fazê-lo.

Houve um hiato e, em 2009, graças a uma boa promoção em uma loja online, comprei o iPod Touch (2ª Geração). Ele somava a qualidade Apple vista no iPod Nano à possibilidade de assistir vídeos em uma tela bem maior em relação aos MP4 xing ling. Ele trazia tudo que o iPhone possuía, exceto aquilo que eu mais detestava, a função de telefone, perfeito!

Uma das coisas mais legais do iPod Touch era sua capacidade de acessar internet, porém dependia de Wi-Fi. Bons tempos aqueles em que eu ficava identificando locais na cidade onde existiam redes Wi-Fi sem proteção por senha! :-)

Eis o motivo de comprar, dois anos depois, um iPhone 4 (graças a uma pessoa que conseguiu importá-lo por metade do preço praticado no Brasil): sinal 3G! O único ponto negativo do iPod Touch era o fato de não possuir acesso próprio à internet. Além do que, utilizando um smartphone, eu “economizaria” um bolso da calça (celular + player).

Passados 5 anos, continuo com o mesmo iPhone 4 que, graças a uma capa protetora e película, não possui arranhões, seu hardware tem aparência de novo. Muitas pessoas gostam desta marca pelo status, algo que entendo como:

"comprar algo que não queremos,

com dinheiro que não temos,

para mostrarmos para pessoas que não gostamos

uma imagem do que não somos".

De minha parte, o motivo passa bem longe disso. Mesmo hoje, continuo achando que os produtos da Apple possuem excelente qualidade e durabilidade em seu hardware, a despeito dos preços surreais praticados no Brasil.

O grande problema, fica por conta da Obsolescência Programada, na forma do software que, praticamente, obriga o usuário a atualizar o sistema operacional de seu aparelho para poder continuar utilizando os aplicativos e, com isso, muitas vezes o aparelho pode ficar extremamente “lento”, transformando-o em um “peso de papel”. Digo “lento”, porque isto é relativo, o aparelho continua com o hardware rápido e excelente se utilizado com o sistema operacional que veio de fábrica quando foi comprado. Logo, não se trata de uma queda de performance, mas de um aumento de “carga”, com mais peso do que ele pode suportar.

Ironicamente, hoje meu iPod Touch 2ª Geração com iOS 4 é talvez mais rápido do que meu iPhone 4, com iOS 7! Ainda assim, nenhum deles é capaz de proporcionar a experiência de ouvir música em um iPod Nano munido de Click Wheel (a maior vantagem desta tecnologia era a possibilidade de controlar avanço de faixas e volume, sem necessidade de olhar para tela e de maneira rápida).

O ano de 2016 está chegando ao fim. Se pretendo comprar um aparelho novo? Não! Acho que os tamanhos enormes dos smartphones atuais vão na contramão dos avanços tecnológicos que, outrora, fizeram o contrário. O único que, realmente, me interessaria é o iPhone SE, que possui o um design próximo deste que possuo (e gosto), num tamanho compacto, que permite deixá-lo no bolso sem incômodo. Também o excelente recurso Touch ID. Mas só o pegaria se conseguisse numa promoção muito boa ou se alguém o importasse. De qualquer maneira, estou seguindo uma filosofia de tentar não comprar coisas novas que substituam as antigas, se estas ainda estão funcionando.

Confesso que, às vezes, dá vontade de voltar para a dupla iPod Touch e Motorola W175 (sim, ele ainda está aqui e funcionando) por conta da frustração da “lentidão” do meu atual Smartphone e das distrações que algumas notificações proporcionam, mas isto fica para um outro post, talvez menor, talvez maior que este!

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