Idolatria

(Sobre a morte em 02/04/2005 do Papa João Paulo II)

Muito se leu, e muito se lerá, sobre a morte do pontífice da Igreja Católica.

Escrevo essas linhas em um momento em que se prega, apesar da insatisfação de muitos fanáticos e céticos, a liberdade democrática e a ablação ecumênica ou igualitária em diversos pontos como a ética, preconceito racial, de credo ou escolha religiosa, imbuída de um momento de comoção na constatação histórica da morte do Papa João Paulo II.

Nascido, Karol Wojtila, papa João Paulo II, o líder máximo da Igreja Católica conseguiu a simpatia de jovens e a aceitação de líderes de diversas religiões, apesar das muitas facetas ideológicas e morais do líder. Pelo que representa, em sua morte, conseguiu a façanha de reunir no mesmo recinto de Fidel Castro a Bush, crianças e frágeis velhinhos, casais e seus filhos que choravam a falta do grande homem; muçulmanos, budistas e judeus, caravanas de católicos de grandes comunidades e de pequenas, como é o caso dos católicos chineses.

A comoção tomou conta do povo italiano e do mundo pela fé e pela tradição católica que ultrapassa gerações. Como também, a Igreja em toda sua exposição materialista, com seus rituais e simbologias que de nada têm a ver com as coisas de Deus e sim mundanas e materialistas, transformou o Vaticano em um palco espetacularmente pomposo e organizado.

É indiscutível a qualidade na organização do “evento”. A celebração, que a mídia mostrou ser superfaturada em hospedagem (só os mais de setenta cardeais de todo o mundo lotaram um hotel de diária equivalente a R$22.00,00 por pessoa), estrutura e segurança deu uma aula de responsabilidade e de prestação de serviços a quem quis participar do ato.

O que fica de tudo isso é a constatação do quanto o homem ainda precisa evoluir em suas escolhas e mensuração de valores para sua vida. Até que ponto um homem de carne e osso, um estadista, é verdade, forte em suas convicções morais, e irredutível em seu juramento pelos pilares que regem a Igreja, líder por excelência pela postura serena e ponderado em palavras, até que ponto se venera um homem? Mas um homem plausível de pecados, pois que era humano, como o padeiro da esquina ou como Gisele Bündchen e o Zé da esquina, isso não se discute. Como um homem pode ser considerado santo, se condenou a camisinha e o aborto mesmo sem afeto ou de estupro? Um homem que por seus votos de castidade quis sentenciar o jovem à sua mesma sorte por escolha? Quem era esse homem que tanto viajou pelo mundo e não deu demonstração de humildade? Que não se pôs a favor das minorias, que não soube entender como filho de Deus mesmo os pecadores? O Pai, que é infinito em bondade abençoa seu filho e não o condena, só dá diretrizes. O que é pecado diante da desigualdade de brilho do ouro dos templos católicos do Vaticano e das favelas do Rio e da fome que assola o mundo? Diante dos filhos da guerra insana comandada pelos poderosos que lá estavam nos funerais do Papa?

Que fique clara a aceitação de diferentes pontos de vista. Ser contrária a endeusamentos não é o mesmo que não aceitar que existam pessoas boas, espíritos iluminados e fraternos em solidariedade e etc. sim, elas existem. Mas sem idolatria.

O que fica mesmo é que o homem não se encontrou ainda. Está como barata tonta. Primitivo, precisa de um totem de barro, ou de um ser animado que o faça transpor sua fé que deveria ser etérea em homens terrenos. Precisa se desfazer do barro e se emanar do espírito. Acreditar em suas convicções e esperar que exista um ser superior que o aceite como homem, igual a todos e viver com dignidade e com ideologia. Não copiar atos e pessoas “fabricadas” pela mídia manipuladora. Ter suas próprias crenças e acreditar nelas. Não ter medo de dizer: Não há perfeição. Nem eu, nem o Papa. Somente fazemos parte da História de um povo.

Silvinhapoeta
Enviado por Silvinhapoeta em 24/08/2017
Código do texto: T6093767
Classificação de conteúdo: seguro
Copyright © 2017. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.