Sobre a Razão de Ser

Um casal de namorados, nos primeiros dias do namoro, dizem um para o outro: te amarei para sempre!

Mas, se bem olharmos a situação, avassalados pela paixão e, sobretudo, inebriados pelo desejo, o dizem, contudo, nada sabem, exceto que estão querendo dizer tudo o que dizem, porém não se admite a razão contrária, senão que já sabem o que de fato estão querendo um do outro.

Mas, imaginemos o quanto cega é a paixão, vestida de inconsequência, ignora todos os pontos conflitantes dessa afirmação, para fazer dito, o feito pelo não dito, subjugando a própria natureza de cada ser, de modo que ele será, pela inconsequência da paixão, responsável por conseguir ir além de tudo o que os olhos ainda não viram, mas que, por via de regra, já dita o coração algoz.

Imagine uma ilha deserta!

Nada seria mais frustrante para esse casal, deixados na ilha, como ditado por seus desejos. Longe de tudo e, de todos, eles se dariam inteira e profundamente um para o outro, loucamente incendiados de amor e paixão, e diriam um para o outro, isso era tudo o que queríamos. porém, a paixão recobra a sua visão no instante em que o amor exige a sua razão, e dai, o grande castelo de areia começa a desmoronar-se.

A Paixão é loucura, devassidão e estio. É cegueira ocasional, mas profunda, que os faz pensar no presente, vislumbrar o futuro, projetar e construir sobre a água, mas logo se dará contas que não há a mínima possibilidade de execução do projeto. A paixão é danosamente maravilhosa, feito efeito de droga, que os fazem pensar no agora, como se não existisse amanhã, ignorando a natureza de todas as coisas.

Como o irresponsável, esquivando ela se vai, sem deixar um recadinho que fosse, ou uma promessa fiel de retorno, feito barco que irreparavelmente sofre o dano no meio do grande mar, e tudo isso chamamos de desilusão, o retorno à visão da realidade. Quem aposta na paixão, aposta num jogo de cartas marcadas, pois a paixão, embora sempre perdedora, convence muito bem os olhos, ignorando a estrutura da razão de ser de tudo.

Sobretudo, Deus por ser infinitamente mais do que podemos ver, ouvir e sentir, conforme sua própria natureza de ser incriado, criou o amor inumerado de qualidades. e utilizando-se da paciência, nos ensina a primeira lição da vida, o sofrimento. Tudo que existe sofre. toda a criação sofre o dano da paixão, que segundo a bíblia fez com que o primeiro homem ignorasse a razão de ser, escolhendo morrer, em lugar de perder, sem enxergar que morrer é o estágio final de uma perda irreparável, dai a segunda lição de vida, a paciência em sofrer.

Para tudo na vida é preciso ter paciência, e para caracterizá-la criou-se a virtude, que é tudo o que se atribui como razão estrutural de... a paciência recolhe os cacos, reconstrói, cortando arestas, dar uma forma ao que se deformou, enquanto enxuga as lágrimas, dispensa a ilusão, desativa a lembrança colocando avisos pra recordação, estabelece a esperança de um dia melhor, e dai a terceira lição de vida, a perseverança.

Não existe sem perseverança. Ainda que seja tão breve o inicio, só terá sido inicio, se tiver havido a perseverança de fazê-lo acontecer. Ainda que seja antagônica a sua breve existência, diante das incontáveis probabilidades de ser. a perseverança cimenta cada pedra da construção, cada estado de valoração, julgamento de valor, estabelecendo de forma cronológica, cada ponto importante, relevante ou irrelevante, pois cada coisa tem o seu valor e importância, para a construção de um edifício estruturado, com base na razão, porém, delimitando o raio de ação da loucura, pois a vida é feita da loucura e da razão. Nesse segundo estágio do ser, no exemplo inicial, a frase seria de outra forma: Buscarei te Amar enquanto eu viver, contudo, não repare com ênfase, os meus erros neste percurso, pois acima deles, quero estabelecer meu amor por você.