Jainismo: que religião é essa?

Fosse uma religião missionária, em vez de uma obscura crença indiana, e provavelmente o jainismo iria encontrar adeptos no Brasil. Apesar de certos ritos e um ascetismo que pode ser bem severo, o jainismo vai ao encontro do espírito relativista de nosso tempo.

Afinal, uma das suas doutrinas é a Anekantavada, isto é, o “não-absolutismo”, que defende o pluralismo e a multiplicidade de pontos de vida. Os seguidores são incentivados a considerar os pontos de vistas de outras filosofias, pois acreditam que quando uma filosofia (incluindo o jainismo) se apega demais às suas próprias ideias está cometendo o erro de achar que o seu ponto de vista é o único verdadeiro.

Ou seja, trata-se de um verdadeiro antídoto contra o fundamentalismo dos nossos dias, quando quase todas as religiões se arvoram como únicas detentoras do conhecimento sobre a humanidade. O único paralelo que consigo fazer, de uma crença que incentive a busca por outras verdades para formar uma “síntese” das crenças existentes, é com o espiritualismo universalista, que, ao contrário do jainismo, é uma crença moderna. E o jainismo, desde milênios antes do nascimento de Cristo, já entendia que as pessoas deviam integrar diversos pontos de vistas parciais e com eles formar uma teoria mais abrangente.

Mas este não é o único ponto em que o jainismo poderia fazer sucesso no ocidente. Como parte da sua doutrina da não-violência, os jainistas são vegetarianos. É mais do que isso, na verdade, são veganos – no mínimo, são lacto-vegetarianos. Eles também costumam ter um cuidado todo especial com os insetos, evitando ao máximo prejudicá-los. Só perdem, no cuidado à vida, para os nazarenos, que, dizem, só comiam alface direto no pé porque consideravam uma agressão arrancá-lo e estavam sempre mudando o local de residência para não matar a relva.

Outras doutrinas do jainismo, como a “não-posse”, de certo entrariam em conflito com a mentalidade (materialidade) ocidental, mas é de se imaginar que ainda encontrassem por aqui solo fértil e muitas pessoas que, cansadas das propostas religiosas tradicionais, buscassem uma forma diferente de espiritualidade. Hoje já há bastante abertura às religiões orientais por aqui, afinal.

Curiosamente, eu ouvi falar do jainismo pela primeira vez por causa do Kurt Cobain, que às vezes dizia ser seu seguidor (em outras dizia que era budista). Claro, ele não era nem uma coisa nem outra. Mas sua simpatia pela crença demonstra bem que ela teria futuro.

Frederico Milkau
Enviado por Frederico Milkau em 21/09/2017
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