O MISTÉRIO DO ENCONTRO

1-

No coração de um homem e de uma mulher, em destaque aqueles que buscam viver uma história conjugal admirável, sempre há o raiar do sol dos desejos e da esperança de que um dia possa haver a dádiva sempiterna do amor. E, um belo dia, no intercruzamento dos dois caminhos, emergirá o triunfo do inesperado: o mistério do encontro de duas existências enamoradas; ou, o que dá no mesmo, o mistério do encontro de dois seres ávidos por unidade e comunhão.

A união de dois amantes é, portanto, um edifício esculpido pela virtude divinal, um edifício que é fecundo para produzir sem demora as vindimas da fidelidade, da cumplicidade, do respeito mútuo e da sinceridade. Pela união de duas almas em profunda comunhão, é mister que milagrosamente nasça a poesia do amor, da paixão, do desejo, da ternura, da verdade, da beleza e da vida.

Estar com o outro sempre envolve riscos e desafios; ao mesmo tempo pode ser uma vivência profundamente aprazível para os sentidos e para a alma. Pode ser uma experiência rica principalmente quando o amor é fecundado no interior de um relacionamento, de modo que tudo é passível de ser suportado, mesmo as maiores provações (pois no amor mútuo existe a certeza íntima de que há uma fidelidade recíproca, o único imperativo para que um elo se estabeleça com perfeição!).

Uma união conjugal sem a veemência da paixão é como beber em fontes de águas insípidas. E uma união conjugal sem amor produz uma história absurda e monstruosa, até porque ninguém convive num ambiente permeado pela indiferença, pela apatia, pela aversão e, o que é pior, pela amargura do ódio.

Na verdade, enquanto houver uma paixão ardente mesclada a um amor invencível, sempre há de reinar uma admiração, uma gratidão e um respeito pelo ente amado. Pois o que conta mesmo na vida de um homem e de uma mulher é haver uma relação conjugal que esteja para todo o sempre alicerçada pela fortaleza do amor. E o que embeleza e ornamenta o edifício de uma vida a dois (além do amor propriamente dito) é a existência de uma paixão onde os amantes se comprazem em partilharem seus deleites entre si.

Enfim, sem paixão e amor profundo, uma combinação inseparável para o fortalecimento de um elo, não pode haver aliança eterna; impossível, portanto, o respeito mútuo, a juventude dos sorrisos, as ternuras, os desejos que buscam ser satisfeitos, a solidariedade, a leveza e a felicidade perene de subsistir uma aventura interpessoal permeada de desafios incessantes.

2-

Sem a liberdade para co-existirmos de forma harmoniosa e afetuosa ao lado daquele que escolhemos viver sempre próximo de nós, sem a liberdade para convivermos de maneira salutar e honesta com nossos semelhantes, sucumbimos nos vícios do egoísmo que, por sua vez, nos faz perder nas ciladas das neuroses de possessão ou de dependência. De fato, para o mistério do encontro, é imprescindível que transcendamos a nós mesmos, ou seja, que pairemos acima de nosso egocentrismo, reconhecendo o valor da graça que permeia as relações amorosas mais abissais e verdadeiras. É indispensável, portanto, que sempre haja uma livre decisão de abertura para que a presença indevassável do outro se comunique com o nosso ser. E, então, é possível que nos faça ficar mais atentos e solícitos à tonalidade de seus sentimentos, ideias, apelos ou atitudes. Essa reflexão acerca do encontro e de uma relação autêntica, me faz recordar uma frase emblemática do filósofo alemão Martin Buber, na sua obra-prima, Eu e Tu, onde desenvolve uma perspectiva sobre a ontologia da relação: ''A finalidade da relação é o seu próprio ser, ou seja, o contato com o Tu. Pois no contato com cada Tu, toca-nos um sopro de vida eterna.". Sem dúvidas, basta estabelecer um relacionamento verdadeiro e profundo com o meu semelhante para intuir que nele mora uma sede de infinito e uma ânsia de eternidade.

Alessandro Nogueira
Enviado por Alessandro Nogueira em 24/09/2017
Reeditado em 26/09/2017
Código do texto: T6123486
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