MARÍLIA KUBOTA E A LITERATURA JAPONESA

Nossa entrevistada é a jornalista, poeta e escritora Marília Kubota. Nasceu em Paranaguá/PR em 1964, e estreou no no jornal de literatura Nicolau, em 1991. Integra as antologias de poesia Pindorama (2000), Passagens (2002), 8 Femmes (2007) , Antologia brasileira do início do terceiro milênio (2008), relançada em Portugal e relançada no Brasil como .Todo Começo é Involuntário, em 2011 e de prosa Crônicas Paranaenses (1999) e Blablablogue – Crônicas e Confissões (2009) . Organizou o Concurso Nacional de Haicai Nempuku Sato (2008) e a coletânea Retratos Japoneses no Brasil (2010). Mantém o blogue Micropolis e é editora do JORNAL MEMAI – Letras e Artes Japonesas (www.jornalmemai.com.br), já na edição 06.

1. Marília gostaríamos de saber como se originou esse jornal. Quem teve a iniciativa de publicar um jornal de Letras e Artes Japonesas?

O jornal nasceu de conversas entre eu e a jornalista Myllena Silva. Eu orientava uma oficina de criação literária e ela era minha aluna. Um dia discutimos sobre a ideia de fazer um jornal. Ela gostaria de fazer um jornal de literatura. Sugeri que fizesse um jornal segmentado, de literatura japonesa, pois achava que seria difícil fazer um jornal de literatura. Trocamos mensagens por e-mail e semanas depois ela apresentou uma equipe de amigos, interessados em iniciar o projeto. Achei surpreendente sua capacidade de mobilização e entusiasmo - Myllena, com pouco mais de 20 anos, promoveu alguns eventos de cultura pop japonesa em Curitiba. Através dela conheci a Lina Saheki, diretora do Centro Cultural Tomodachi, que também se entusiasmou em produzir um jornal sobre artes japonesas. E depois veio a artista plástica Sandra Hiromoto. Hoje a Myllena é editora de internet do jornal, a Lina é colunista e Sandra, editora de artes visuais. São parceiras que contribuíram e continuam contribuindo para que o projeto do jornal siga em frente.

2. No jornal lemos que MEMAI, o nome do jornal é mesmo irreverente, foi tirado de uma canção do J-Pop. E que para vocês, significa a paixão pela cultura japonesa, algo que vira o mundo de ponta-cabeça, deixa tonto, como uma vertigem. Atrevo-me a dizer que isso é paixão mesmo! E queremos saber como foi a escolha do nome do jornal?

Fizemos uma votação entre alguns nomes, títulos de canções pop e de haicais. A votação foi por Memai, que em japonês significa vertigem. Encontrei ressonâncias entre esta palavra e o “Japanese Bug”, que é como os estudiosos chamam o encanto radical dos ocidentais pela cultura japonesa. A escolha do nome reflete como funciona o jornal, isto é, algumas vezes por impulso, outras pelo desejo. A vertigem não tem uma direção, é uma onda que leva de um lado a outro. Não somos um grupo fechado, um jornal para ser lido apenas pela comunidade nipo-curitbana. É para quem gosta da cultura japonesa, como o poeta cubano José Kozer, que escreveu poemas especialmente para serem publicados no jornal.

3. Qual é a periodicidade desse jornal?

O jornal é trimestral, dentro da sazonalidade das estações do ano. A distribuição é gratuita.

4. Pode falar um pouco dos ideias e do objetivo do MEMAI?

Não temos grandes ideias e objetivos, a não ser nos divertir. Nos reunimos porque gostamos do tema “arte japonesa” e queremos compartilhar a paixão com os amigos. Mas por eu ter trabalhado com jornalismo por 20 anos, procuro dar uma orientação para imprimir alguma dose de profissionalismo. Ou seja, brincando, a gente chega a algum lugar. Ou não chega, mas pelo menos fica num lugar em que pode se divertir.

5. A equipe que escreve o jornal está composta por jornalistas ou por profissionais de diversas áreas?

Só há duas jornalistas no MEMAI, eu e Myllena, que é formada, mas não tem vivência no jornalismo diário. Como acompanhei de perto a redação do JORNAL NICOLAU, editado pela Secretaria da Cultura do Paraná nos anos 80, este sempre foi uma referência, assim como o jornal A RAPOSA, do Oswaldo Miranda e os nanicos dos anos 70, como O PASQUIM . Não à toa a primeira entrevista do JORNAL MEMAI foi com Wilson, talvez uma das últimas que ele deu em vida. Pensei em fazer um jornal literário, embora eu não tenha mínima ideia do que seja “jornalismo literário”. Tento aplicar experiências tomadas de oficinas de criação literária que orientei. Para mim, qualquer pessoa pode escrever poesia, ficção ou narrativas jornalísticas. Quanto mais escrever mais desenvolve um estilo, uma voz poética. Desenvolver a voz poética é importante, não significa aprender técnicas de redação para publicar um livro. E sim escrever ou se expressar manifestando a sua sensibilidade, o que nem sempre é permitido numa sociedade em que a comunicação e o comportamento são cada vez mais padronizados. Por isto intercambiar os olhares é essencial para o nosso crescimento. Vou falar um pouco de nossa equipe: Lina Saheki é advogada, atuou na Espanha, e um dia mudou de Vitória (sua terra natal) para Curitiba e resolveu abrir uma escola de língua japonesa. Ela ama ler e escrever sobre espiritualidade. Sandra Hiromoto é artista plástica, formada no ateliê de Edilson Viriato, mas com uma trajetória internacional considerável Ela gosta de arte pop, e canções de música popular. Nos conhecemos quando organizei uma exposição de arte nipo-brasileira,. Depois nos reencontramos num show da Fernanda Takai. E eu perguntei se não gostaria de fazer uma entrevista com ela. Cada um escreve sobre alguma paixão, a atriz Patrícia Kamis sobre artes cênicas, o bonequeiro Jorge Miyashiro sobre hibridismo cultural, a pesquisadora Suzana Tamae sobre literatura e cinema. O pessoal das artes gráficas materializa nossas ideias: Simonia Fukue, ilustra, o designer Raphael Krugger diagrama , o Álvaro Posselt é o revisor do jornal . Além de ocupar uma função técnica, todo mundo pode escrever, vender anúncio, assinatura, distribuir o jornal. A estrutura de trabalho é colaborativo, similar à organização das festas da comunidade nipo-brasileira. Devemos à comunidade este ensinamento sobre o valor do trabalho colaborativo. Através deste sistema – visto de fora pode parecer uma organização doméstica, mas implica concessão de liberdade , confiança e autonomia - podemos realizar muitos projetos .

6. Como você avalia a reação da comunidade japonesa? O jornal é apreciado? Você já ficou emocionada ao algum comentário positivo do jornal?

A impressão do jornal é patrocinada pela comunidade nipo-curitibana. Não são “patrocinadores” no sentido estrito do termo, são amigos que apóiam a iniciativa e com a contribuição sinalizam que estamos no caminho correto. Consideramos os nossos anunciantes colaboradores tão importantes quanto a equipe de redação e os assinantes. Recebemos mensagens positivas, como a do ex-diretor da Fundação Japão no Brasil, Jô Takahashi (entrevistado da edição 06), a pesquisadora de cultura japonesa Estela Kobayashi, da Universidade Estadual de Londrina e também de desconhecidos que se entusiasmam e passam a se tornar colaboradores, como o caso do fotógrafo Gustavo Morita (capa da edição 06). Não há uma distinção sobre que tipo de colaboração pode ser feita ao jornal. Quando recebemos o pedido de uma assinatura ficamos felizes, pois é mais um a integrar a rede de relacionamento do JORNAL MEMAI.

7. Os interessados no MEMAI, como podem consegui-lo?

Metade da tiragem impressa (2.500 exemplares) é distribuída em Curitiba e a outra metade em Londrina e São Paulo. Em Curitiba é possível encontrar o jornal no Centro Cultural Tomodachi, na Biblioteca da Praça do Japão, na Livraria do Paço da Liberdade, no Curso Bunkyo de Língua Japonesa, no Restaurante Mikado e em algumas bancas de jornais e revistas. Em Londrina, no Museu Histórico de Londrina e na UEL. E em São Paulo, no Centro de Estudos Japoneses (Cejap/USP), na Casa das Rosas e também no Curso Bunkyo de Língua Japonesa Os que querem tornar-se colaboradores podem fazer assinaturas pelo email contato@jornalmemai.com.br Ou acessar o conteúdo, gratuitamente, pelo site WWW.jornalmemai.com.br .