ENTREVISTA COM O PROFESSOR CLAUDECI FERREIRA - Por William Correia (Acadêmico de Jornalismo - PUC-Goiás)

William Correia (1). O senhor sempre foi um crítico da burocracia do sistema de educação pública, especialmente quanto à desorganização das instituições responsáveis – como no caso das secretarias municipais e também do estado –, passando pela “ditadura” instaurada através das coordenadorias e diretorias das unidades de ensino. O senhor acha possível as escolas e colégios se reformularem, adotando uma postura mais específica, independente das normas dos órgãos superiores do estado e dos municípios? Que tipo de mudanças, por exemplo, o senhor sugeriria na unidade estadual de ensino onde atua?

CLAUDECI FERREIRA (1): Primeiro, acho que confundem modismo com restauração. As entidades tradicionais como: família, igreja e escola, estão fracassadas e suas formas não se encaixam mais na medida atual, então só reformar não vai resolver. Tem-se que inventar, não a partir do zero, algo que beneficie a sociedade com o mesmo que justificava a existência dessas entidades, mas agora aproveitando os modelos novos que a própria sociedade propõe para remodelar os padrões estruturais e curriculares que devem ser contemplados. Falando mais particularmente de minha área: educação. Este sistema educacional, do jeito que está, não tem mais utilidade para a sociedade, quando vemos os jogadores, funkeiros e até presidentes e deputados se dando muito bem na vida, ganhando muito dinheiro e fama, com apenas o Ensino Médio, formação acadêmica precária. A escola tem que ser seletiva, e a sociedade endossará isso vomitando alunos desrespeitadores sevados por ilusórios subornos do governo. O regime de ditadura sem causa que reina ainda hoje na escola é fruto da insegurança de seus atores por ter a certeza do não cumprimento de seus deveres, por impossibilidades mil, estando embebidos no faz de conta elaborado para atingir altos índices documentados e sem educação. Os filhos dos ditos professores estaduais estudam na rede particular. A falsa ética impõe esse comportamento.

William Correia (2). Na internet, o senhor mantém um blog denominado de “Crônicas da Vida Escolar”, onde relata diversas experiências e situações inusitadas vivenciadas no seu dia-a-dia como professor. A forma cômica e sarcástica com que trata os relatos, já gerou desavenças com alunos, membros da cúpula administrativa e também com parceiros de profissão nos colégios onde trabalha/trabalhou. Apesar de tudo, o senhor nunca mudou sua postura e continua colecionando desafetos por aí. Como se sente causando tanto impacto e dividindo opiniões no meio acadêmico? E como analisa essa dissensão que existe hoje entre a classe dos trabalhadores em educação no estado de Goiás?

CLAUDECI FERREIRA (2): Apesar dos dessabores, sinto-me útil e justifico minha atuação e insistência com cada relato sincero e real que posto em meu Blog. Aqui reproduzo o que escrevi na capa do blog: MEU BLOG DE EXPERIÊNCIAS RELATÁVEIS. TALVEZ AJUDE ALGUÉM, SENÃO, PELO MENOS, PARA DIZER COMO NÃO FAZER, COMO NÃO SER E COMO NÃO APRENDER. NINGUÉM PODE IMPEDIR QUE EU CONTE O QUE ACONTECEU COMIGO, APENAS TENHA CUIDADO PARA NÃO TROPEÇAR NAS COVAS PROFUNDAS DE MINHAS "PISADAS". Eu entendo por que os professores são uma categoria desunida, acho que é devido as muitas ameaças, tanto de colegas, de pais como de alunos, que os fazem se proteger uns dos outros. Também pelas humilhações que sofrem por parte de alunos que um tem vergonha do outro. Também a industria da fofoca dentro de cada unidade escolar que destrói a confiança uns nos outros por tantas vezes vítimas de delatamentos.

William Correia (3). Além da formação e pós-graduação em Língua Portuguesa, o senhor também é bacharel em Teologia, e já foi pastor em uma igreja evangélica. De que forma essa experiência influenciou o seu estilo como professor? E que condutas ou práticas de um líder religioso são aplicáveis em sala de aula?

CLAUDECI FERREIRA (3): Na verdade, eu tenho todas as credenciais tanto para ser pastor quanto professor, que são atividades um tanto semelhantes, porém o meu comportamento é ajustado à demanda do diferente público alvo. Aluno é como bode rebelde não quer ser orientado em sua maioria, e os irmãos de igreja são como ovelhas dóceis que procuram orientação. Então aqui cabe as palavras de Salomão: "Quem é sábio procura aprender, mas os tolos estão satisfeitos com sua própria ignorância (Pv 15:14). Nesse contexto, também, faço minhas as palavras do apóstolo Paulo quando diz que se fez de tudo para ganhar a todos. Assim vou levando e dançando como a música sugere.

William Correia (4). Na sua visão, hoje o Sindicato dos Trabalhadores em Educação de Goiás (SINTEGO) mais ajuda ou atrapalha na mediação das reivindicações da classe junto ao governo? E como o senhor avalia até aqui a gestão de Thiago Peixoto na Secretaria Estadual de Educação?

CLAUDECI FERREIRA (4): É, parece-me que, no nosso caso, SINTEGO e Secretário de Educação são aliados. O sindicato fomenta a paralisação e sabe exatamente a hora de desarticular e dissuadir o povo. Eu costumo dizer que na educação é como no futebol, temos como técnicos aqueles que já não jogam mais nada. Os membros do Sindicato, em sua maioria, são professores desviados de função, coordenadores , gestores que perderam seus ideais junto ao alunado, aí ditam regras para os colegas, muitos têm que "puxar o saco" para manter-se nos cargos e na zona de conforto. E o pior, sabendo que estão sempre na corda bamba, estão sempre forçando a barra para continuarem em seus cargos. A gestão Peixoto foi ruim, e, infelizmente, ninguém fará melhor, um sistema desmantelado assim não funcioná com quem quer que seja.

William Correia (5). Mesmo com todas as dificuldades e barreiras enfrentadas na carreira, o senhor jamais desistiu de lecionar, mesmo tendo qualificações o suficiente para tentar sucesso em outras áreas. Quando surgiu a ideia de se tornar docente? E qual a principal razão de persistir na área até hoje?

CLAUDECI FERREIRA (5) : É como já falamos, eu sonhava ser pastor evangélico, mas por razões adversas e desilusões na igreja, vim, sem opção alguma, parar na educação, então não escolhi, fui escolhido, por isso respeito esta providência. Ou estou no magistério até hoje por pirraça, já tive muitos ideais, porém agora, só me resta, cumprir o destino; sina que me amarrou aqui, então estou aguardando a aposentadoria como meta final. Gostaria que me entendesse com a seguinte ilustração: quando se nadou dois terços do rio não compensa voltar, para salvar a vida, deve-se prosseguir e aqui vou eu aos trancos e barrancos até o fim. E lembre-se enquanto os coordenadores tetarem controlar professores pelos caderninhos de planos de aula, e professores tentarem controlar alunos com "vistinhos" no caderno deles, e pelo medo das faltas e ameaças com prova extensivas, a educação nunca vai se consertar por que obediência forçada não é virtude. PARA MEUS ALUNOS QUE ACHAM QUE ESTOU MENDIGANDO SEU RESPEITO, sempre digo que obediência forçada não é virtude. Não quero merecer respeito deles, e nem poderia pretender se nem mesmos seus pais não o têm. Que fossem respeitadores por convicção. Esta é a prova de que educação escolar não substitui a familiar. Afinal, o céu não é feito de respeitados, mas sim de respeitadores.

_________APÓS ENTREVISTA E A NOTA NA FACULDADE, OS AGRADECIMENTOS Por e-mail________

Claudeko, obrigadão por me ajudar aqui (mais uma vez). Este é um trabalho inicial, na verdade: "fase de testes". Agradeço o tempo que o senhor dedicou para responder os questionamentos. Entrevistei a pessoa certa, sem dúvidas! Algumas respostas eu até previa, mas o senhor sempre surpreende. Sabe... me lembro com saudades das suas aulas e das nossas conversas informais. Te acho um excelente professor e melhor ainda como pessoa. Uma inspiração! A propósito, muito te devo por ter a oportunidade de estar galgando minha jornada hoje: foi a primeira pessoa que me deu um espaçosinho num jornal de Senador Canedo, para que eu pudesse registrar minhas ideias, tão imaturas quanto meu português da época, é verdade, mas que foram produzidas à base de esforço. Obrigado, de verdade, Claudeko! Qualquer dia passo aí, no JC, para lhe relatar minhas "Crônicas da Vida Universitária", rs. Abraços! William Correia