... FLORES SALGADAS...

...

Sou Lucas-
  Desde criança ajudava meu pai e minha mãe no plantio de flores. Ganhávamos a vida plantando e comercializando varias espécies, esse era o nosso negócio, juntamente com 3 irmãos mais velhos.
  Meu pai sempre dizia que se orgulhava muito do que fazia e repetia diariamente e varias vezes ao dia uma frase que nunca vou esquecer e a qual também acostumei a falar para meus filhos, dizia meu pai com os olhos marejados:
 
-" Deus me deu a profissão mais linda do mundo", porque confiava que nunca o decepcionaria, no que concordo e acredito também.
Eu, o menor dentre os irmãos me orgulhava muito dele e em tudo que fazia procurava imitá-lo, também pudera, minha mãe, dona Maria, sempre disse que eu era á cópia perfeita do seu Luis, esse era o nome dele, o nome da pessoa que mais admirei nessa vida!
  Precisava ver a nossa alegria, dele principalmente, ao deparar-se com a vastidão daquele campo repleto de flores num festival de cores.
  Em contraposição a isto, era de dar dó sempre que tínhamos que efetuar a colheita para transportar para a cidade, ele preferia nem ver aquela cena.
  Acho que foi por isso que percebemos dia a dia sua tristeza e que só aumentava a cada colheita de uma ou outra variedade..., e era nítido em seu semblante o quanto se consumia por dentro.
  Tentava esconder de todos sua melancolia, mas a mim que estava sempre a sua sombra, impossível disfarçar, confesso sentia tudo o que ele sentia e na mesma proporção.
  Conversando com minha mãe sobre isso e de como poderíamos ajudá-lo, sem que percebesse é claro. Ela em sua sabedoria profunda, tivera uma ótima idéia, que foi de se criar um local, um jardim só dele, perto de nossa casa para que plantasse todas as suas flores preferidas e assim cuidasse todos os dias, entretendo-se com esse seu cantinho, entendi e assim fizemos. Deu muito certo a idéia genial de nossa mãe e rapidinho nosso pai parece ter se
renovado e recarregado suas baterias.
  Sem falhar um só dia, ia até seu jardim particular cuidar de suas amiguinhas, lá conversava e beijava uma a uma de suas flores, criteriosamente, para não esquecer de uma sequer.
  O tempo passa, a gente cresce e nessa mesma velocidade vêmos as pessoas que mais amamos se consumirem também.
  Eles mais velhos, cansados na mesma lida, não com o mesmo pique evidentemente, por que a
“idade chega feito um fardo em nossas costas onde são acrescentados os pesos diários do tempo, impiedoso e implacável tempo”.
  Ainda muito a dar a nós, a seu trabalho e a ele mesmo segue feito um senhor remoçado pelo prazer do compromisso e eu como seu  maior admirador, não o deixava sequer por uma hora, exceto quando em seu jardim, aí as amiguinhas tomavam conta dele por nós e eu, mesmo assim de longe, o vigiava.
Porém meus irmãos mais velhos: Lara e Mário, realimentam a idéia de sair daquele lugar, estudar e trabalhar por lá mesmo na cidade grande.
  Minha outra irmã, Laís muito apegada a nossa mãe, fica dividida entre ficar perto de nós, em nosso sítio e o ‘glamour’ da cidade grande, pintado com as cores do arco-íris, por nossos irmãos.
  Acho que esse golpe foi forte demais para o velho Luís. Mas, homem sábio e justo como sempre foi, percebe não poder fazer mais nada para fazê-los desistir, concede o que lhe são de direitos, permitindo que se vão, a tentar a sorte na cidade grande e Laís, vai junto, para tristeza de nossa mãe.
  No fundo os pais alimentam sempre uma falsa esperança de que não demora os filhos estão de volta e arrependidos, mas nem sempre, melhor quase nunca é assim. Somam-se aos dias a saudade impiedosa e mordaz e os anos, ligeirinho tornam aquele pobre homem ainda mais combalido e o que era choro de alegria dentre as flores em seu jardim, vira uma chuva diária de lágrimas, pranto e lamento num choro copioso e fatal.
   ...Eu, flagrava a agonia de meu pai todos os dias e quando ele saia de seu jardim fingindo estar tudo bem, ia até lá e não via uma flor, sequer e também uma única folha secas, parecia mesmo que todas choravam juntas com ele.
  Nesse caminhar depositava as minhas lágrimas em solidariedade e amor a meu pai, ao longo do caminho naquele jardim:
-
O jardim do seu Luís, nome que mantenho numa enorme placa, bem no alto daquele lugar.
Hoje com 49 anos, sou casado com Márcia e temos três filhos que graças a Deus permanecem conosco,  morando exatamente no mesmo lugar e na mesma casa em que meus
*falecidos pais* moraram por quase 55 anos.


"Mantenho o mesmo negócio, entendendo melhor do que ninguém o porquê de tanto amor que meu saudoso Pai tinha por sua profissão.

Vou todos os dias naquele mesmo jardim a regar as nossas amiguinhas com água e com minhas lágrimas em abundância, sentindo ainda muito forte a presença do velho homem chamado Luís que criou, amou e perpetuou o seu",


// 
jardim de FLORES SALGADAS “” ! //
...