LEMBRANDO MINHA AVÓ

Minha avó, mãe de meu pai (que Deus tenha a ambos), era descendente de alemães, nascida no início do século XX. Não sei se foram seus pais ou avós que vieram como imigrantes para contribuir com a colonização do sul do Brasil. Durante algum tempo que morei na casa dela, eu deveria ter-lhe feito mil perguntas a respeito de sua família, mas na minha adolescência eu pouco me importava com tais questões. Certa vez ela me disse que era da cidade de Arroio do Meio, neste Estado no qual nasci. Não sei se sua família era numerosa, mas às vezes fazia referência às suas irmãs. Realmente, eram poucas as informações, e tudo vago e impreciso.

Mas o que era marcante em seu perfil, e que nunca esqueço, era o seu modo de falar. Único e peculiar, nunca vi, durante ou depois de sua existência, alguém falar daquela maneira.

Falando, ela trocava os verbos da primeira, segunda e terceira pessoa do singular. Assim, ela dizia: "Amanhã eu vai fazer pão", "Eu matou uma galinha", "Que foi que tu falei?", "A vizinha (es)tou doente", "Tu já tomei banho?", "Tu vi a roseira que eu plantou?".

Tento imaginar como era sua adolescência. Será que ela falava assim com suas irmãs? Foi à escola certamente, pois sabia escrever. O mais provável é que tenha adquirido e adotado com o tempo aquele seu estilo próprio de falar. O fato é que ninguém tentava corrigi-la, muito menos eu. Ninguém se importava, pois todos entendiam o que ela queria dizer.

Assim, parece que o falar errado de uma pessoa simples é mais tolerável que o escrever errado, principalmente se quem escreve é alguém com algum grau de conhecimentos.

Mas lembro que houve uma exceção no falar de minha avó. Um dia ela acertou na mosca, ou melhor, na gramática. Foi quando uma de suas netas foi visitá-la. Era uma menina de uns cinco anos, que num momento admirava as galinhas no terreiro. E a avó na janela, de vez em quando atirando uns grãos de milho. De repente a guria sai com esta inocente pergunta: "Vó, por que o galo trepa em cima da galinha?". E a avó, é claro, não querendo perder-se em explicações, simplesmente respondeu: "Não sei".

Talvez por ser assim uma frase tão curta, sem complemento ao verbo, era-lhe mais fácil atinar com a coisa certa.

Egon Werner
Enviado por Egon Werner em 21/05/2017
Reeditado em 22/05/2017
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