Minha mãe

A lembrança mais remota que tenho dela é muito suave. Cabelos negros caídos sobre os ombros, vestido estampado, e olhos expressivos que me transmitiam segurança e amor.

Em minhas noites infantis, pedia a Deus que não lhe levasse antes de mim. Parecia-me impossível viver sem a presença materna neste mundo. Assustava-me ver crianças sem mães, analisando ser esta um dor insuportável. Isto me trazia medo. Quantas vezes, angustiava-me quando tardava a chegar em casa depois de seus passeios por Copacabana ou outra saída qualquer.

Minha mãe era daquelas pessoas, cuja presença marcava o lugar em que estava. Isso não acontecia por uma característica forte, mas sim, pela tranqüilidade que transmitia além de seu semblante que raramente se apresentava agressivo.

Uma das maiores dores que sentia, em minha infância, era vê-la triste ou chorando. Fazia-o mais constantemente pela lembrança de nosso irmão que se foi ainda tão criança. Disse-me uma vez, que jamais passava um dia, sem lembrar de sua rápida passagem entre nós. E como doía naquela mulher, este fato! Sentia-me impotente e cobria-a de beijos, como para compensá-la de tal sofrimento.

Éramos muito diferentes, mas minha alma sempre esteve unida à dela e assim permanece até hoje. Ela se foi, mas trago em minha essência, sua natureza, seus pensamentos, a experiência de um convívio que não mais acontecerá.

Minha mãe era uma mulher forte, embora com aparência de dependência. Gerou oito filhos e sempre esteve à frente da vida de cada um. Sentia-me protegida por ela. Existiram momentos só nossos, em que a ela recorria como último amparo, infalível e perene. Jamais me faltou. Destas noites, guardo uma recordação tão terna que nunca sairá de meu coração.

Os anos passaram e tomei minha vida de adulta, também com filhos, trabalho, compromissos e muitas outras coisas. Gostaria de ter convivido mais, muito mais com minha mãe.

Uma vez ouvi dizer que as paixões aumentam com a ausência. Não concordo. Elas aparecem, dão sinal de sua existência, mostram que certas pessoas nunca irão embora. É isto que vivo hoje. Uma presença constante, uma saudade eterna, o desejo de retornar, a angústia de uma partida.

Cristina Arraes
Enviado por Cristina Arraes em 28/08/2009
Código do texto: T1779237
Copyright © 2009. Todos os direitos reservados.
Você não pode copiar, exibir, distribuir, executar, criar obras derivadas nem fazer uso comercial desta obra sem a devida permissão do autor.