HOMENAGEM A MINHA BISAVÓ CONSTÂNCIA DA SILVA

Eu, uma escrava de “Engenho”...

me vi tantas vezes numa labuta sem fim,

na plantação e no corte da cana-de-açúcar;

no serviço da “Casa-Grande”,

também sendo a menina dos olhos do senhor dos escravos;

e operária como pau para toda obra...

num destino malfadado,

caminhando sobre um chão de angústias, imolado.

Cativa desde o nascimento,

porém livre nas asas do pensamento,

vivi tamanhos dissabores,

mas amei como ninguém

imaginando possuir o céu estrelado em profundos sentimentos.

Cantei aos antepassados,

chorei na senzala os meus predicados,

mas também dancei no terreiro

como uma princesa,

com os meus dons extraordinários!

Sempre visualizada pelos meus senhores como secundária,

primitiva de instrução,

mas de uma beleza rara,

fui irmã de todos,

amiga de tudo

por ter uma realidade

que não se compara.

Meus pés sempre me levaram

para uma direção contrária.

Porém meu olhar fixo na vida

insistia que algo melhor me aguardava

e eu determinada a viver

toda noite agradecia

e de mãos unidas, rezava.

Houve dias em que o cansaço me recolhia

e era a lida que me levantava.

Minha mente me surpreendia

com sonhos que me acalentavam

e tudo em volta causava espanto,

porém minha fé, somente aumentava.

O sol no lombo sempre me maltratava,

mas quando chovia eu sentia uma alegria e então, festejava.

E uma voz no meu peito nunca se calava:

A água que sois Constância,

vem de uma fonte

que nunca se esgotava.

Quanto mais eu apanhava,

mas me lapidavam a alma.

Até que um dia alguém

assumiu minha frequência sagrada,

levando-me para bem longe

daquela maldita senzala.

E dela somente lembranças

ficaram em mim, registradas.

E pensei que teria a tão sonhada liberdade,

me enganei mais uma vez,

pois continuaria uma escrava.

Só que de um português

que do amor

não entendia nada.

Ignorante e grosso

me fez seu objeto predileto;

me deu casa, alimento e três filhos,

mas seu coração parecia um concreto.

Com ele vivi muitos anos

e entre nós dois, foram criados muitos desertos.

Por ser muito frio e sem amizades,

um dia vazio tiraram sua vida,

sua continuidade

e eu fiquei viúva,

com filhos e netos

diante de tamanha crueldade.

E a vida prosseguiu

sem maiores diferenças,

vivi 115 anos,

sem pesar na consciência.

Porque sempre tive Deus

como luz da minha essência.

Um dia deitei e dormi,

o sono mais profundo de uma existência.

Quando abri meus olhos um clarão

e a mais sagrada de todas as presenças.

Jesus Cristo apareceu

e a minha satisfação foi imensa.

E ele me falou com voz pausada:

Constância agora você pertence

a uma vida iluminada,

se esqueça que veio a terra

como uma sofrida escrava.

Abençoada seja toda tua geração

que em grande número foi espalhada.

Fim desta, Cristina Maria O. S. S. – Akeza.

Akeza
Enviado por Akeza em 27/11/2013
Reeditado em 01/10/2018
Código do texto: T4589190
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