As Filhas de Eurides

Não considero essa escrita um texto para ser lido, analisado. É uma homenagem, é uma gratidão pelos dias felizes que passei com as sobrinhas mais barulhentas e felizes da família. Não tenho tempo de escrever por conta do mestrado, mas essa felicidade tem que ser registrada. Esse texto é para elas.

Estar na presença delas é falar alto, é se divertir-se, dar gostosas risadas, contar piadas, fazer resenhas, lembrar o passado. AH, isso não tem preço. Ou melhor tem o preço da felicidade de uma convivência saudável, do amor ágape, incondicional.

Eu fui a tia mais feliz do mundo nas décadas de 1970 e 1980. Fui tia muito cedo, na verdade antes mesmo de nascer. E os dias mais maravilhosos de minha vida era ter a oportunidade de estar na companhia de meus sobrinhos e sobrinhas. Com as filhas de minha Irmã Eurides não foi diferente. Sempre moramos separadas; eu em Aguada Novas, elas em Irecê.

Não tinha dia do ano mais feliz de que o dia de ir a Irecê. Minha mãe sempre avisava com três dias de antecedência. Três noites sem dormir de tão ansiosa. Um dia inteiro para brincar com as meninas de Tia Rica (Eurides). HUMMM Que festa. Brincar e brincar o dia inteiro. Lá eu fazia a festa com Afia, Ninha, Nênga, e Lãndia. O dia ficava tão curto para as bonecas, o banho no quintal, a casinha de cabo de vassoura. Num piscar de olhos: hora de ira à Escola. Ninguém estava disposta a desgrudar da tia quase da mesma idade.

___Eta, mas parece que vocês viram Deus, foi? Todo mundo para a escola, já. Mãe, quando a senhora traz Neide pra cá essas meninas se comportam como se tivesse desfrutado da presença de Deus. Nem querem ir para a escola. Reclamava minha irmã.

Modestia parte eu era uma tia muito querida. Sabe quando agente olha para as pessoas que ama e sente-se parte delas, se identifica com a fala, com as brincadeiras, com os assuntos, com as roupas, com o brincar, com tudo, até com os sonhos e planos para o futuro. É tão bom se sentir parte, sentir-se no grupo, sentir-se aconchegada. Era exatamente assim que eu me sentia na infância com as meninas de Eurides.

Coisa gostosa na semana Santa em que todos vinham para Aguada Nova. Eu ficava em pé na porta esperando a escadinha humana surgir na esquina. Todas com roupas iguais. Pareciam bonequinhas de plástico. Elas vão me matar quando ler esse texto.. kkki. A ansiedade era tanto que de dois em dois minutos eu perguntava:

____Mãe que hora o ônibus chega?

____Paciência, Luzineide. As meninas vão chegar daqui a pouco. Dizia minha mãe na máquina de costura.

Quando eu avistava, corria para abraça-las e era um abraço coletivo tão cheio de ternura que eu me sentia a menina mais rica da rua. Nenhuma de minhas colegas de infância da rua onde eu morava tinha sobrinha. Eu era especial.

Primeira providência: desarrumar a caixa das bonecas, depois as brincadeiras seguiam naturalmente.

O tempo passou e cada uma de nós seguiu seu caminho. Todas casadas, com filhos. A rotina nos afastou, a pressão do dia a dia também. Só vez por outra a gente se vê de maneira muito rápida, isolada, não mais na coletividade onde tudo é mais divertido pois todas temos muito a contar umas para outras, socializar, rir. A infância passou e temos muito o que fazer: profissão, filhos, casa, marido, estudos e mais o que a vida oferecer. Mas as lembranças são muito boas e me ajudam a levar a vida hoje em dia.

Mas no dia 17 de janeiro de 2015 Deus permitiu que nos encontrássemos de novo na coletividade. Pense num grupo de mulheres!!!! Almoçamos e jantamos juntas e fizemos a festa. Bom, na verdade a festa era para Maria Adélia, mas quem recebeu o presente mais importante fui eu. Por isso que eu escolhi escrever esse texto para ficar registrado aquele dia especial. Espero nos encontramos de novo, de preferência na páscoa.

Obrigada, meninas . Voltem sempre. Meu coração está aberto e receptivo para vocês a qualquer hora. Amo muito vocês. Vocês moram no meu coração e nunca vou esquecer nosso passado da infância de festas, alegrias e muitas brincadeiras.

Beijos de Tianeide. ( Lândia disse que meu nome é para ser escrito assim. Tia Neide não combina, tem que ser Tianeide. É o meu nome para ela).

26 de janeiro de 2014