KOMOREBI (Uma sensação)

Da primeira vez que a vi, foi diferente. Senti medo. Causou-me certo desconforto. Fui pra casa com a sensação que aquela estranha havia colocado em mim. Era bonita. Tinha olhos sérios. Jovem demais. Quando falou comigo, tinha um tom de voz baixo, e uma mania de sorrir educadamente enquanto eu me perguntava mentalmente: o que faço aqui?

Juro que pensei em não voltar. Aliás, pensei tanta coisa, pensei na minha inabilidade com as palavras, e na habilidade da estranha que era justamente essa. Palavras. Ela sempre encontrava a palavra correta. Estranho, era isso que eu verdadeiramente achava.

Eu quase nunca estava disposta a falar. Eu havia decidido comigo mesma que falaria pouco, quase nada, e criaria em mim a ilusão que aquele era o cuidado que eu deveria me dar. No início deu certo. Mas do meio pra lá, comecei a falhar.

Comecei a sentir a estranha sensação de carinho. Por alguma razão eu me importava. Esforços válidos de uma desconhecida, para uma desconhecida. Por vezes eu ia lá, e eu tinha a sensação de estar aprendendo uma equação simples, que eu imaginava já saber, mas a razão matemática era outra, Ou essa divisão, que por fim resultava em uma soma, se quer razão matemática tinha.

Eu, que não sou boa em conceitos, estava sempre me perguntando, como classificar alguém que não é família, nem amigo, nem um conhecido próximo, mas que está lá, sempre que você precisa, te ajudando a organizar seus conflitos, e na hora do desespero, é de repente, a referência mais próxima. Pelo menos a mais segura. Ainda bem que não sou boa com conceitos!

Eu não sei, é estranho, eis que essa palavra me persegue, e pelo jeito, define aquilo que é novo: Estranho! De repente você começa a se perguntar por que evoluir é importante, e se alguém da um passo em sua direção querendo te ajudar, se torna sua obrigação dar dois em direção a essa pessoa, afinal de contas, por alguma razão, ela te vê. Você de repente EXISTE!

Existir, talvez tudo se resuma a isso. A complexa liberdade de existir. E, hora ou outra, quando o equilíbrio se desfaz, tem aquela pessoa que Deus desenhou, e de um jeito todo dela, aos poucos, tenta tornar lucidez, aquilo que parece tão só, descaminho.

À Cláudia, pelo por vir que se desenha e se possibilita, toda vez que com muita cautela, consegue enxergar bem mais do que sou capaz, e apontar caminhos que estou desacostumada a observar. Feliz Aniversário!!

Michelle Barros
Enviado por Michelle Barros em 23/05/2015
Código do texto: T5252062
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